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Por João Sorima Neto — São Paulo

Com dívidas que chegam a € 6,4 bilhões (R$ 33,3 bilhões), o grupo francês Casino anunciou, nesta segunda-feira, que pretende vender no Brasil sua participação de 40,9% no Grupo Pão de Açúcar (GPA). O restante das ações do GPA é negociado na Bolsa. Os papéis ordinários (com direito a voto) do GPA fecharam em queda de 5,21% negociados a R$ 16,75.

A informação foi divulgada no novo plano estratégico da companhia, que visa a reduzir o endividamento à metade e garantir sustentabilidade financeira à empresa.

O Casino também vai vender sua participação de 54,8% da rede Éxito, a maior varejista de alimentos da Colômbia, com lojas na Argentina (com a bandeira Libertad) e no Uruguai. A venda do GPA e do Éxito, quando concretizada, marcará a saída do Casino do Brasil e da América do Sul.

Supermercado Pão de Açúcar: controlador coloca sua fatia á venda — Foto: Divulgação/GPA
Supermercado Pão de Açúcar: controlador coloca sua fatia á venda — Foto: Divulgação/GPA

Em fato relevante, o GPA informou que "não tem qualquer informação sobre potencial vendas de suas ações pelo controlador, motivo pelo qual o questionou na data de hoje e manterá o mercado informado assim que tiver mais detalhes".

Mais tarde, em novo comunicado, o GPA informou que foi notificado pelo Casino sobre o plano de venda de ativos, mas reiterou que, nesta data, "não há cronograma, metas definidas ou processo de venda em aberto para o GPA". Procurado pelo GLOBO, o Casino confirmou, através de email, que não há planos definidos para a venda do Pão de Açúcar neste momento.

O comunicado do Casino informa que a rede francesa de supermercado precisará de um aumento de capital de no mínimo € 900 milhões (R$ 4,7 bilhões). A reestruturação prevê a conversão em ações de parte da dívida sem garantias.

O Casino vem negociando com seus credores, que incluem bancos franceses e hedge funds internacionais, desde maio. A expectativa é que até julho surja um acordo, mas como o comunicado prevê que a reestruturação dure até outubro, as conversas podem se alongar.

O Casino fechou o ano de 2022 com prejuízo de € 316 milhões (R$ 1,5 bilhão), uma redução de 40,9% em relação ao prejuízo de 2021, que foi de € 534 milhões (R$ 2,7 bilhões).

A América Latina representou um faturamento de 17,8 bilhões de euros (R$ 92,7 bilhões) em 2022, pouco mais de metade do total do faturamento do grupo no ano passado: 33,6 bilhões de euros (R$ 174,9 bilhões).

Governança no foco das críticas

Segundo Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimento, o Casino tem um sistema de governança que não é bem visto pelo mercado, especialmente no Brasil. Ele observa que trata-se de uma estrutura societária dificil de entender, que sobrepõe várias empresas. Meira lembra que a dívida do grupo tem vencimento de curto prazo, o que o leva a buscar a reestrututuração. Pelo menos 3 bilhões de euros (R$ 15 bilhões) vencem nos próximos dois anos.

— Essa governança é estratégica do Casino para conseguir se alavancar ainda mais. O grupo toma dívida com cada empresa desse bloco societário. E assim fica mais complicado entender o endividamento total. Por isso, a saída do Assaí, na semana passada, foi vista com bons olhos pelo mercado — diz ele, lembrando que a governança do Assaí é muito bem vista pelos analistas.

A gestão de Jean-Charles Naouri, à frente do Casino, foi muito ruim, observa Meira, com reflexos para o Pão de Açúcar, chegando a um endividamento muito elevado. A venda da varejista pelo Casino abre espaço para melhoria de gestão do GPA, dependendo do comprador, diz Meira.

Relatório da XP aponta como pouco provável que redes como Assaí, Carrefour ou o Grupo Mateus tenham interesse nas ações do Casino no GPA. A XP avalia que fundos de investimento ou um 'investidor estratégico' possam se interessar pelos ativos. A XP acredita que a venda só deve acontecer em 2024.

Para Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da Gouvêa Ecosystem, consultoria especializada em varejo, a estratégia do Casino no Brasil não falhou. E o grupo está tentando monetizar 'tudo que é possível, onde é possível', para reverter o quadro de endividamento.

— O casino falhou na França e outros lugares. E o Brasil, onde vinha dando certo, com um cenário mais positivo à frente do que Europa e França em particular, é um anel que deve ser vendido para que fiquem os dedos — afirmou.

Terceira maior rede do país

Pelo ranking da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), o Carrefour é a maior rede varejista do país, com faturamento de R$ 81,1 bilhões em 2021. Em seguida, aparece a atacadista Assaí, com R$ 45,5 bilhões, e o Grupo Pão de Açúcar aparece em terceiro, com faturamento anual de R$ 29 bilhões. Em quarto surge a Mateus Supermercados, com R$ 17,9 bilhões e em quinto o Supmercados BH, com R$ 11,1 bilhões.

No final do ano passado, o Grupo Pão de Açúcar anunciou a abertura de pelo menos 300 lojas no País até 2024. A rede tem 735 lojas no país. Fundado por Valentim Diniz, o Grupo Pão de Açúcar foi comandado por seu filho, o empresário Abílio Diniz, até 2012, quando ele vendeu suas ações para os franceses do Casino, numa tumultuada negociação.

Diniz se manteve à frente do Conselho de Administração do GPA. Mas ao assumir também a presidência do conselho da BRF, um dos maiores fornecedores do Pão de Açúcar, o Casino exigiu que ele renunciasse à presidência do conselho da rede varejista.

No mercado, de tempos em tempos, surgem informações de uma possível volta de Diniz ao Pão de Açúcar, algo sempre negado por ele. Analistas avaliam que esta pode ser a oportunidade da volta de Diniz ao comando da rede fundada por sua família. O GPA vale, segundo suas ações negociadas na Bolsa, cerca de R$ 4,5 bilhões, menos de US$ 1 bilhão de dólares.

O empresário, através de sua gestora de recursos, a Península Participações, é um dos maiores acionistas individuais do Carrefour, com cerca de 7% das ações. Diniz investe em diversas empresas através de sua gestora.

Para o consultor Gouvêa de Souza, a Península pode ser uma interessada, mas ele acredita que a questão concorrencial torne mais difícil essa possibilidade, já que a gestora tem posição relevante no Carrefour.

— Creio que seria quase natural esse movimento da Península. O GPA tem ótima imagem, preciosas localizações, um importante programa de fidelidade, respaldo dos fornecedores e muito espaço para retomar volume de vendas e rentabilidade — avalia o consultor.

Procurada para saber se há interesse nas ações do GPA que serão vendidas pelo Casino, a gestora Península informou que "não comenta rumores de mercado".

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