Em meio ao salto da agropecuária, a alta de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) neste primeiro trimestre do ano - o primeiro resultado sob o governo Lula - surpreendeu analistas e já leva a revisões para o crescimento da economia em 2023. Estimativas apontam para alta acima de 2% no ano.
Se as projeções forem confirmadas, será um crescimento mais próximo ao observado no ano passado, quando a economia avançou 2,9%. Foi a segunda alta após o baque de 2020, quando o PIB despencou 3% devido à pandemia.
A agropecuária saltou 21,6% no primeiro trimestre, com safra recorde. O desempenho foi o maior em quase 30 anos e respondeu por cerca de 80% do crescimento da economia de janeiro a março.
João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, afirma que a projeção de 1,8% para o PIB deste ano será revisada para algo próximo de 2,5%, "por conta do excelente desempenho do agronegócio e da manutenção do crescimento dos serviços".
O Credit Suisse revisou a estimativa para o PIB de 2023 de 1,3% para 2,1%, após o resultado acima do esperado. Segundo o banco, o crescimento no primeiro trimestre liderado pelo forte desempenho do setor agrícola também impulsionou serviços relacionados à atividade, como transporte e armazenagem. "Para o restante de 2023 esperamos que os impactos da supersafra continuem afetando a atividade", escreveram os economistas Solange Srour, Rafael Castilho e Francisco Lima Filho, em relatório.
Felipe Kotinda, economista do Santander, explica que o resultado do primeiro trimestre implica um carrego estatístico de 2,4% para 2023 ( quando o resultado de um trimestre impacta positivamente os trimestres seguintes, considerando taxas de variação nulas ao longo do ano). Ele lembra ainda que o resultado positivo do setor agrícola deve ter impacto nas próximas leituras.
"Diante disso, estamos revisando nossa projeção de PIB 2023", disse o economista, ao ponderar que a dinâmica apresentada desde o ano passado, de política restritiva do Banco Central e perspectiva de desaceleração do crescimento global, ainda são desafiadoras.
Possíveis novas revisões
A MB Associados também aumentou sua projeção para o crescimento da economia este ano. Passou de 1,3% para 2,1%, mas tudo indica que deve ser ainda mais alto, com novas revisões.
“Mesmo para entregar esses números, os demais trimestres do ano precisariam cair na margem. Ou seja, para crescer 2,1% teríamos que ter uma recessão em todo o restante do ano. Não parece ser o caso em um momento de discussão de início de queda de juros no segundo semestre, inflação desacelerando e mercado de trabalho dando sinais ainda fortes até abril", diz o relatório divulgado nesta quinta-feira.
"Há chances reais de revisões serem feitas para cima e um PIB que no começo do ano parecia perdido, conseguirá reverter a tendência por conta das commodities”, continua o relatório.
Perspectiva de desaceleração à frente
Apesar do crescimento das expectativas, economistas ressaltam a perspectiva de desaceleração da atividade econômica ao longo do ano. Por isso, há contrapesos nessa balança.
Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, avalia que o crescimento surpreendente do primeiro trimestre deve provocar aumento das projeções para o ano e fazer o PIB fechar ao redor de 2%, principalmente pelo fator do carrego estatístico.
"Porém, os juros altos, a dissipação dos efeitos do impulso da agropecuária e o cenário externo incerto devem desacelerar o PIB", explicou.