O tom utilizado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na ata sobre a sua última reunião, quando a Selic foi mantida em 13,75%, foi mais dovish (favorável à manutenção de estímulos) na comparação com o comunicado, na avaliação de especialistas.
Ainda assim, no documento, os diretores do Banco Central (BC) classificam o processo de inflexão como “parcimonioso”, o que ainda coloca dúvidas sobre o ritmo de cortes à frente. Recados sobre a definição das metas de inflação também foram deixados no texto.
Parcimônia
A leve suavização do discurso já era esperada por parte do mercado, que vinha mantendo as projeções de cortes nas taxas mesmo após o anúncio duro da semana passada.
— Entendemos que houve uma forte sinalização de corte de 0,25 ponto percentual da Selic em agosto, tendo em vista que a avaliação predominante foi de que a continuidade do processo de desinflação, com consequente impacto sobre as expectativas, permitiria angariar a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião — destaca o estrategista-chefe da Warren Rena e ex-diretor do departamento de Mercado Aberto do Banco Central (BC), Sérgio Goldenstein.
Goldenstein lembra que a palavra “parcimônia” já foi associada a ajustes de 0,25 ponto percentual pelo Copom. Ele espera uma aceleração no ritmo de cortes para a Selic em 0,50 ponto percentual nas reuniões subsequentes, com a taxa básica fechando o ano em 12%.
Após a divulgação da ata, o J.P.Morgan antecipou de setembro para agosto o início do ciclo de cortes nas taxas. O cenário-base da instituição agora é de redução de 0,25 ponto porcentual na taxa básica na próxima reunião, em agosto, seguido de cortes de 0,50 ponto até que o juro chegue a 10% em meados de 2024.
“Embora o comunicado da semana passada tenha destacado a necessidade de ‘serenidade e paciência’, a ata desta semana afirmou que a maioria do Copom vê o processo de desinflação, com impactos na expectativa de inflação, como uma possibilidade de abertura para início de corte parcimonioso já na próxima reunião”, diz o texto, assinado pelos economistas Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira.
O Itaú mudou de três para quatro cortes previstos na taxa Selic este ano. O banco acreditava na primeia redução a partir de setembro, mas antecipou para agosto. O Itaú prevê redução de 0,25 ponto percentual dos juros em agosto e setembro e mais dois movimentos de corte de 0,50 ponto percentual. Assim, a taxa Selic chegaria ao final do ano em 12,25%.
Nova composição: Presidente e diretores do Banco Central
![Roberno Campos Neto, presidente do Banco Central — Foto: Raphael Ribeiro/BCB](https://s2-oglobo.glbimg.com/qJfwkzrSB6zH5ZHhajfadn2V0RI=/0x0:799x523/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/L/5/LUA3gNQcA0LBMZuDzwXw/raphael-ribeiro.jpg)
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Roberno Campos Neto, presidente do Banco Central — Foto: Raphael Ribeiro/BCB
![Gabriel Muricca Galípolo - Diretor de Política Monetária — Foto: Pedro França/Agência Senado](https://s2-oglobo.glbimg.com/OBLOCk_k3tRNmwMoNU1Hf_iiLbo=/0x0:799x533/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/o/s/ZuErAPT4aIbGuTbUNRxw/53022363349-cca73851a0-c-1-.jpg)
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Gabriel Muricca Galípolo - Diretor de Política Monetária — Foto: Pedro França/Agência Senado
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![Ailton Aquino dos Santos - Diretor de Fiscalização — Foto: Pedro França/Agência Senado](https://s2-oglobo.glbimg.com/xCsp0sfDNhTDbZ27ginQviwcCCw=/0x0:799x533/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/a/W/ZGsnccTXu2u9XUSlaPbA/53022382011-aa7bc23d68-c.jpg)
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Ailton Aquino dos Santos - Diretor de Fiscalização — Foto: Pedro França/Agência Senado
![Carolina Barros, diretora de Administração — Foto: Raphael Ribeiro/BCB](https://s2-oglobo.glbimg.com/fAp769EuGmwg7lezp9hp2mJZcjU=/799x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/I/U/EyRaQaSOCsUf9A5NlgDw/diretora-de-administracao-carolina-barros.jpg)
Carolina Barros, diretora de Administração — Foto: Raphael Ribeiro/BCB
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![Diogo Abry Guillen, diretor de Política Econômica — Foto: Raphael Ribeiro/BCB](https://s2-oglobo.glbimg.com/SXOdD7veQ099ZyZhrAWxUSFhfqo=/799x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/A/K/c11fmHQOyzZURc61mUPA/diretor-de-politica-economica-diogo-abry-guillen.jpg)
Diogo Abry Guillen, diretor de Política Econômica — Foto: Raphael Ribeiro/BCB
![Maurício Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta — Foto: Raphael Ribeiro/BCB](https://s2-oglobo.glbimg.com/LhV7kr83n_UlSYxcf5TYxLdNODs=/799x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/q/R/hpZtukTUGHrfxSJU62KA/mauricio-moura-diretor-de-relacionamento-cidadania-e-supervisao-de-conduta.jpg)
Maurício Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta — Foto: Raphael Ribeiro/BCB
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![Renato Dias de Brito Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução — Foto: Alessandro Dantas/PT no Senado](https://s2-oglobo.glbimg.com/oOKm4-wgbhiyNRuq9ln1Mw9-5Xs=/799x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/L/Y/buuK3KSsSShW1mNXtyBQ/renato-foto-alessandro-dantas.jpg)
Renato Dias de Brito Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução — Foto: Alessandro Dantas/PT no Senado
![Otávio Damasco, diretor de Regulação — Foto: Raphael Ribeiro/BCB](https://s2-oglobo.glbimg.com/ETCOCP2MpFbX4zOBpbvZ2EmSYaE=/799x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/S/7/s2mpC2RP2hPb2aTE0t7Q/otavio-damasco-diretor-de-regulacao.jpg)
Otávio Damasco, diretor de Regulação — Foto: Raphael Ribeiro/BCB
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![Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos — Foto: Raphael Ribeiro/BCB](https://s2-oglobo.glbimg.com/kz6LFrTe85k-vwnEOeAPu3q2LOA=/602x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/Q/I/0yrMFTRoiXo7rhHozPDA/e62a7332-4b42-4329-80eb-22dc4f9d5be4.jpg)
Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos — Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Recado implícito
O texto também deixa um recado implícito para a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que ocorre na quinta-feira. No documento, o Copom afirma que “decisões que induzam à reancoragem das expectativas e que elevem a confiança nas metas de inflação permitiriam a flexibilização monetária”.
Ao reforçar a importância das expectativas para sua tomada de decisão, os membros do Comitê sinalizam que uma eventual alteração da meta de inflação dos atuais 3%, hipótese que já foi defendida por membros do governo, mas que perdeu força nos últimos meses, pode postergar o início do ciclo de cortes.
— Ficou parecendo um recado para a próxima reunião do CMN, reforçando a importância do controle das expectativas. Existe uma expectativa que essa discussão sobre a meta se aqueça e não sabemos até que ponto o mercado já precificou essas perspectivas de alteração da meta — disse o economista-sênior do Inter, André Cordeiro.
O ministro da Economia Fernando Haddad tem defendido publicamente uma mudança nos parâmetros adotados hoje para que o país tenha um sistema em que a meta de inflação seja contínua. Atualmente, a meta é definida seguindo o ano calendário.
A mudança no prazo, desde que mantido os 3%, tende a provocar menos ruídos, caso seja bem comunicada aos agentes.
— Possivelmente subindo a meta, as expectativas também subiriam. Com a manutenção da meta em 3%, é possível que tenhamos novas reduções das expectativas longas e que isso ajude nesse processo inicial de corte de juros. Temos que ver após a reunião do Conselho qual seria o desenho dessa meta contínua, caso seja adotada — ressalta o economista sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.
Juro neutro maior
O economista sênior da Tendências também prevê o início do ciclo de cortes em agosto, com redução de 0,25 ponto percentual. Ele ressalta que outro ponto de destaque no comunicado foi o fato de o BC ter elevado sua estimativa para o juro neutro, aquele que nem estimula nem contrai a economia, para 4,5%.
A mudança traz um elemento mais hawkish, favorável à retirada de estímulos, ao texto, mas não afeta a discussão sobre o início de corte de juros, nas próximas reuniões. A consequência deve ser a de uma taxa terminal mais elevada.
— Ele (Banco Central) já tem travado esse debate ao longo dos últimos dois anos. Um ponto que ele não mencionou e que está na cabeça do mercado é que essa piora do juro de equilíbrio decorre das mudanças nos parâmetros fiscais. (Gera) um piso mais elevado para taxas terminais do ciclo de flexibilização — disse o economista-sênior da Tendências.
Comunicação errática?
Não foi a primeira vez que a ata do Copom suaviza o teor utilizado no comunicado sobre os juros. Membros do governo têm criticado a forma como a autoridade monetária vem comunicando suas decisões para a sociedade nos últimos meses.
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Goldenstein avalia que, como o principal debate do Copom foi sobre a flexibilização monetária, inclusive com uma ala majoritária tendendo a apoiar o início do ciclo de queda da Selic na próxima reunião, isso deveria ter constado do comunicado.
— Nesse sentido, o Comitê gerou ruídos desnecessários. Uma possível razão é sim a divisão dentro do Comitê, com a ala minoritária provavelmente composta por diretores com maior peso na discussão.
O histórico das últimas atas já mostrava que coexistem dois grupos com visões diferentes dentro do Comitê, um mais conservador e outro moderado.
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Em seu relatório, os analistas do J.P.Morgan destacam que essa “comunicação errática” pode ser resultado da divisão existente no Comitê, “já que uma minoria do conselho é mais cautelosa e queria esperar por mais reancoramento das expectativas de inflação de longo prazo e acumular mais evidências do processo de desinflação antes de dar esse sinal”.
Campos Neto, da Tendências, afirma que há uma certa naturalidade sobre os ajustes de tom entre os textos, mas destaca que o ambiente mais hostil a respeito da condução da política monetária pode estar dificultando o trabalho do Banco Central.
— Estamos em um ambiente muito hostil da política monetária, o que talvez seja uma das causas dessa dificuldade do Banco Central se comunicar, porque se politizou demais as decisões de política monetária neste ano. Isso tem dificultado mais o trabalho do Banco Central.