Economia
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Por Renan Monteiro, O Globo — Brasília

Em vigor no Brasil desde 1999, o sistema de metas de inflação passou hoje pela sua primeira grande mudança estrutural O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu, em reunião realizada nesta quinta-feira, abandonar o chamado ano-calendário, ou seja, de janeiro a dezembro, para adotar como referência no controle da inflação prazos não definidos, em uma espécie de “meta contínua”.

Na prática, o Banco Central (BC) buscará sempre atingir a meta em um período entre 12 a 18 meses à frente, sem pensar mais em alcançar o objetivo no calendário fixo entre janeiro e dezembro de cada ano. A mudança vale a partir de 2025, quando a meta de inflação a ser perseguida será de 3%.

Além disso, o CMN definiu também que a meta para 2026 também será de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

A mudança colocará o Brasil mais próximo de países que também adotam o sistema de metas no mundo. Segundo estudo feito pelo atual diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, de 26 países pesquisados, apenas o Brasil e a Tailândia seguem prazos definidos pelo ano-calendário.

  • O sistema de metas de inflação foi criado na Nova Zelândia, em 1989. No início, o BC neozelandês buscava levar a inflação para entre zero e 2% no médio prazo. A meta atual é um intervalo entre 1% e 3%.
  • O Federal Reserve, o BC americano, busca inflação em torno de 2%, a ser alcançada “ao longo do tempo”.
  • O Banco Central Europeu (BCE) adotou, em 2021, uma meta de 2%, a médio prazo.
  • Países em desenvolvimento, como Chile, Colômbia e México, têm meta de inflação em torno de 3%.

O CMN é composto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad; pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet.

Além do prazo de referência para manter os preços em determinado parâmetro, entre os países que adotam este sistema, há variações em pelo menos dois outros aspectos: a meta de inflação em si e as sondagens usadas para medir as expectativas de inflação.

Quando começou no Brasil?

No Brasil, o sistema de metas foi implementado em 1999, no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quando o regime cambial usado desde o início do Plano Real foi abandonado, houve uma maxidesvalorização do real e cresceu o temor da volta da hiperinflação.

Com Arminio Fraga à frente do BC, a opção foi usar o método criado dez anos antes na Nova Zelândia e que passou a ser recomendado por organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI). O sistema de metas de inflação é hoje referência para as principais economias do mundo, como EUA, Reino Unido, países da zona do euro, Japão, Austrália e Canadá.

Como funciona o sistema?

A lógica do modelo é ter um controle mais efetivo das expectativas de inflação. Quando o BC recebe um mandato em que é obrigado a levar a inflação a um determinado patamar, os agentes econômicos passam a incorporar esse número nas suas projeções. E isso torna mais fácil para o BC controlar a inflação, evitando aperto maior nos juros para desacelerar a economia.

Segundo estudo divulgado em janeiro pelo FMI, esse controle das expectativas fez com que a inflação tivesse forte queda logo nos três primeiros anos após a adoção do modelo em 11 países pesquisados, incluindo o Brasil. Por isso é tão importante, além do prazo e da meta da inflação em si, o controle das expectativas dos agentes econômicos.

A definição dos números

No Brasil, a meta de inflação estipulada para este ano é de 3,25%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Para 2024 e 2025, a meta é de 3%. E, na reunião do CMN desta quinta-feira, foi definida também em 3% a meta para 2026.

Nova Zelândia, pioneira

Na Nova Zelândia, quando foi criado, o banco central do país buscou levar a inflação para uma meta entre zero e 2% no chamado “médio prazo”, ou seja, sem data definida. Desde então, a principal alteração aconteceu nas margens da meta em si, que atualmente precisam estar entre 1% e 3%.

Na Europa

Já o Banco Central Europeu (BCE) passou a adotar, a partir de 2021, um sistema em que busca uma inflação “estrita” em 2%, também no chamado “médio prazo”. Desde 2003, a instituição adotava a premissa de uma inflação “abaixo, mas perto de 2%”.

Nos Estados Unidos

Nos EUA, em agosto de 2020, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) definiu que seu parâmetro de inflação seria de 2% “em média”, o que deveria ser alcançado “ao longo do tempo”, ou seja, com grande flexibilidade para atingir a meta. Desde de 2012 o BC americano persegue explicitamente uma inflação anual em 2%. Antes, o Fed não buscava um número específico, mas informalmente os economistas já entendiam uma taxa neste patamar.

Expectativas de inflação

Outra discussão em torno do sistema de metas é o “peso” dado ao Boletim Focus como fonte para o BC sobre as expectativas de inflação. Críticos afirmam que o relatório semanal com a média das projeções de cerca de cem instituições financeiras, como bancos e consultorias, representaria só a “Faria Lima” e poderia estar superestimando a inflação para beneficiar rendimentos com a alta dos juros.

Campos Neto já afirmou que há estudos para incorporar projeções de empresários, mas nega a tese de que o mercado joga a previsão de inflação para cima propositalmente. Em entrevista à GloboNews no mês passado, ele lembrou que, nos EUA e também aqui no Brasil, há sondagens de inflação com consumidores que geralmente trazem números mais altos do que os do mercado.

Viés no Focus

Já Tony Volpon, ex-diretor do BC, avalia que as expectativas dos agentes econômicos podem ser “enviesadas” dependendo do contexto macroeconômico. A lógica é simples: períodos de otimismo geram expectativas positivas, e os de pessimismo levam às negativas:

— Quando você passa por um período de inflação muito alta, normalmente as expectativas ficam exageradas. Então, o BC poderia reconhecer que há um certo viés no que o Focus está projetando e ter uma visão mais crítica sobre isso.

Nos EUA, visão de consumidores, empresários e acadêmicos

Ele vê como necessária uma reforma do Focus, tomando como referência o Fed, dos EUA, que usa um indicador comum de expectativas, reunindo diferentes setores, e não só o mercado financeiro. Na lista estão também as expectativas de consumidores, empresários e acadêmicos.

Embora o Focus não seja restrito — qualquer instituição especializada pode enviar projeções ao BC —, a maioria dos agentes que alimentam o relatório é do mercado financeiro. A lista não é pública.

De todo modo, o BC tem enfatizado que observa, primordialmente, as seguintes dimensões para determinar a política monetária: inflação corrente, capacidade de o país crescer sem gerar inflação e expectativas inflacionárias.

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