Foi a cidade de Sapucaia, a duas horas do Rio, que o engenheiro argentino Javier Maciel escolheu para criar a primeira granja leiteira de cabras no Brasil, a Capriana.
Depois de visitar mais de cem locais disponíveis, ele, enfim, se apaixonou, em 2015, por um capril que já existia na cidade e decidiu que, ali, daria início ao projeto de levar ao setor de leite de cabra o modelo de produção até então destinado somente à produção de leites tipo A de vaca: a granja leiteira.
Nascia o Vale das Amateias, “um refúgio”, segundo ele. O nome, retirado da mitologia grega, homenageia Amateia, a ninfa que era dona da cabra Aix, que deu leite ao Zeus recém-nascido.
— A escolha de um lugar especial como este, cercado de muito verde e protegido de ruídos e de muito vento, é o primeiro passo na tradução da nossa preocupação com o bem-estar dos animais e o conceito ESG do nosso trabalho — afirma Maciel, numa referência aos critérios ligados às boas práticas ambientais, sociais e de governança. — Nosso objetivo é construir um modelo de produção capaz de transmitir segurança ao consumidor, que está cada vez mais preocupado em saber a procedência dos alimentos e os meios de produção, sob diversos aspectos.
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Fazer questão de registrar o empreendimento como granja leiteira de cabras é parte desse objetivo.
— Conquistamos a regulamentação (do Ministério da Agricultura) como granja leiteira caprina, confirmamos nosso compromisso com a produção, pasteurização, envase do leite e produção de derivados lácteos e partir de nossa própria produção — explica.
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Até 2018, conforme a regulamentação do Ministério da Agricultura, o conceito de granja leiteira só se aplicava à produção de leite de vaca tipo A. Nesse modelo de produção, não há contato manual na ordenha, e o leite passa por uma tubulação de aço direto para a pasteurização na área de beneficiamento. Além disso, o laticínio de uma granja leiteira só pode processar o leite da própria fazenda.
Tranquilo e silencioso
No caso da Capriana — a primeira em produção de leite de cabra a obter esse registro do ministério — são 39 metros entre a área de ordenha das cabras e a área de beneficiamento, segundo Maciel. Ele diz que o modelo permite fácil rastreabilidade e que o consumidor tenha acesso a produtos de mais qualidade.
O leite de cabra possui características especiais, como cheiro forte, por exemplo, que se acentua com o tempo, inevitavelmente. Encurtar os processos, com uma produção verticalizada, reduz esse tipo de efeito indesejado.
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Para colocar em prática esse modelo produtivo, ele investiu R$ 20 milhões na Capriana. A propriedade tem 89 hectares, sendo 20 destinados à área produtiva e 54 são de Mata Atlântica.
— Quando selecionamos o local, uma das razões foi termos um espaço tranquilo e silencioso para os animais. O Vale é cercado por morros, que protegem o rebanho dos ventos e do barulho — diz Maciel.
A propriedade conta ainda com duas nascentes de água pura, livre de resíduos.
Hoje, a granja tem mil animais, sendo 300 em lactação, com produção de 800 litros de leite por dia. A meta é crescer 50% em produção ainda em 2023, atingindo 1,2 mil litros de leite por dia, à medida que mais animais forem entrando em idade de lactação.
— Estamos investindo em genética, alimentação e tecnologia, para sermos capazes de conquistar produtividade — revela Maciel.
Segundo ele, o projeto suporta até 1,5 mil cabras, mas o aumento no número de animais será gradual.
— Antes de aumentar o plantel, vamos deixar tudo rodando perfeitamente entre esses aqui e a central de beneficiamento e produção de derivados lácteos — afirma.
Até 2022, a propriedade trabalhava com a venda do leite in natura. A partir de 2023, já se prepara para começar a produzir derivados lácteos, como queijos frescos e doce de leite, entre outros produtos.
Para o futuro, afirma o engenheiro argentino, há ainda o projeto de transformar o Vale das Amateias também em um ponto de turismo rural.