Economia
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Por Janaína Figueiredo — Buenos Aires

O americano Chase Washington, de 40 anos, chegou a Buenos Aires há cinco meses e, desde então, mora num apartamento alugado pela plataforma Airbnb. Cansado da rotina em Dallas, nos Estados Unidos, o analista financeiro decidiu tirar um ano sabático e procurar um lugar no mundo onde pudesse ter melhor qualidade de vida.

Depois de pesquisar sobre vários países, do Vietnã à Grécia, entre outros, e de ter conhecido um pouco da vida em Buenos Aires, Chase chegou à conclusão de que a Argentina é o melhor lugar onde poderia viver.

Comprou um apartamento por US$ 100 mil em Las Cañitas, um dos bairros mais badalados da cidade, e já pensa em escolher um segundo imóvel, como investimento. Enquanto toma um café perto de sua nova casa, Chase resume por que escolheu o país para viver:

- A verdade é que estou feliz, Buenos Aires é uma cidade maravilhosa, onde vivemos bem, comemos bem, e tudo isso desembolsando valores muito abaixo do que gastaríamos em qualquer outro lugar.

Nos últimos meses, ele visitou a província de Mendoza, as Cataratas do Iguaçu, e já está planejando uma viagem a Ushuaia, no extremo sul do país.

— A Argentina tem um clima maravilhoso, pessoas muito agradáveis, é tudo muito bom aqui. É triste ver a pobreza, e as dificuldades que os argentinos enfrentam, provoca um sentimento de culpa de que estamos nos aproveitando uma situação favorável para nós — reconhece Chase, que depois de alguns meses já entendeu perfeitamente que a Argentina é hoje um país para os argentinos, e outro país completamente diferente para os estrangeiros:

— Sinto que os preços aumentam, mas como o dólar também sobe isso não me afeta. Sei que para muitas outras pessoas é diferente e lamento muito essa situação — comenta o analista financeiro, que passa seus últimos dias comprando móveis e eletrodomésticos para equipar sua nova casa portenha.

O americano Chase Washington escolheu Buenos Aires para viver: "Saio para jantar e como muito bem, com vinho, gastando US$ 15. O que consigo comer com esse dinheiro em Dallas? Hambúrguer!" — Foto: Janaína Figueiredo
O americano Chase Washington escolheu Buenos Aires para viver: "Saio para jantar e como muito bem, com vinho, gastando US$ 15. O que consigo comer com esse dinheiro em Dallas? Hambúrguer!" — Foto: Janaína Figueiredo

Chase não é um caso isolado. Segundo pesquisa da RE/MAX Premium, da rede internacional de corretores Remax, atualmente duas de cada dez consultas sobre compra de imóveis na capital argentina são feitas por estrangeiros. Os primeiros da lista são os russos — dados oficiais estimam que desde o início da Guerra na Ucrânia 23 mil russos emigraram para a Argentina.

Mas brasileiros, chilenos, uruguaios, americanos e europeus também estão de olho no desvalorizado mercado imobiliário portenho, que opera quase exclusivamente em dólares, há décadas. De fato, ao contrário do que acontece nos demais países da região, a grande maioria das operações continua sendo feita em espécie.

Segundo explicou ao GLOBO Ariel Champanier, CEO do grupo Remax Premiun no país, o preço do metro quadrado nos melhores bairros da cidade está, em média, em US$ 1.800. Entre 2018 e o primeiro semestre de 2023, esse valor sofreu queda de 50%:

— Temos muitas consultas de estrangeiros. Nos primeiros meses do ano, os russos compraram muito, agora acalmou um pouco. Estavam interessados em apartamentos na Recoleta, Palermo, e até mesmo em casas em condomínios como Nordelta (um bairro da grande Buenos Aires).

Outro cálculo feito pelo site imobiliário Zonaprop indica que entre junho de 2022 e o mesmo mês deste ano o valor dos imóveis em dólar em Buenos Aires sofreu queda de 5,7%.

Segundo ele, a Argentina hoje é competitiva em matéria de aluguéis temporários, pela invasão de turistas estrangeiros no país. Por isso, muitos investidores compram apartamentos para alugar através de plataformas como a Airbnb. Outros, como Chase, decidem morar em Buenos Aires pelos preços baixos para quem tem renda em dólares ou euros.

— Hoje, você compra um apartamento bonito, de quarto e sala e bem localizado, por entre US$ 80 mil e US$ 90 mil. Em 2018, esse mesmo apartamento custava US$ 130 mil — afirma o CEO da Remax.

O problema deste fenômeno é que os argentinos, que não têm acesso a crédito habitacional, estão ficando marginalizados das operações no mercado imobiliário em seu próprio país. Conseguir alugar um apartamento em pesos é missão praticamente impossível, já que a grande maioria dos proprietários optou por aluguéis temporários, pagos em dólares.

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Apartamentos alugados em pesos conseguem fechar contratos no mesmo dia em que são colocados no mercado, pela escassez de ofertas para que não tem dólares ou euros.

— Temos lista de espera para alugar em pesos, é desesperador para quem não tem outra opção — afirma a corretora Luciana Cabanillas, gerente da Abba Cabanillas Imóveis, de Palermo.

Anúncio de aluguel em prédio de Buenos Aires: maioria das locações é cobrada em dólar, e argentinos sofrem para conseguir imóvel pagando em pesos — Foto: La Nación
Anúncio de aluguel em prédio de Buenos Aires: maioria das locações é cobrada em dólar, e argentinos sofrem para conseguir imóvel pagando em pesos — Foto: La Nación

Um de seus clientes estrangeiros comprou recentemente um apartamento no bairro, pagando cerca de US$ 300 mil.

— Era um aposentado americano, que ficou encantado com um apartamento com uma enorme varanda, piscina no prédio, garagem e outras comodidades. Fez um ótimo negócio — admite Cabanillas, que também é arquiteta e fez algumas reformas no imóvel.

Segundo Champanier, os imóveis mais procurados por estrangeiros são apartamentos nos bairros de Palermo, Recoleta, Belgrano e Villa Devoto, com preços em torno dos US$ 100 mil. Nessas regiões, desde o começo da pandemia, os valores dos apartamentos caíram, em média, 25%, acrescentou o CEO da Remax.

Dados da Mercado Livre Imóveis e da Universidade de San Andrés indicam, por outro lado, que os preços dos apartamentos na capital argentina caíram 6,2% entre maio de 2022 e o mesmo mês deste ano.

Para pessoas como Chase, que já planeja trabalhar remotamente de seu apartamento portenho, morar na Argentina é amplamente vantajoso. Ganhando em dólares, a inflação local (que este ano vai superar 100%), deixa de ser uma dor de cabeça, e o que se gasta em alimentação, aproveitando os melhores restaurantes da cidade, é incrivelmente pouco.

— Saio para jantar e como muito bem, com vinho, gastando US$ 15. O que consigo comer com esse dinheiro em Dallas? Hambúrguer! — brinca Chase, entusiasmado com sua nova vida no país e já pensando em pedir a cidadania argentina.

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