Economia
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Por Maria Emília Zampieri, Globo Rural — Vinhedo, SP

Antônio La Selva, grande produtor rural e protagonista da novela Terra e Paixão, da TV Globo (vivido pelo ator Tony Ramos), ainda não sabe, mas seu negócio está em risco. Dedicado à expansão de suas atividades e envolvido em conflitos pessoais com os filhos Caio (Cauã Reymond) e Petra (Debora Ozório), o agricultor deixou de cuidar de um elemento que especialistas afirmam ser vital para a sobrevivência dos negócios, em particular na atividade rural: boas relações interpessoais com familiares e planejamento para a transição de comando.

É claro que a dramaturgia pode sempre dar uma ajudinha a Antônio, Caio e Petra, mas, na vida real, a sucessão familiar exige planejamento, dedicação de todos os familiares e, sempre que possível, do apoio de especialistas.

Com isso, os produtores rurais podem fugir de uma dura realidade: segundo estudo da Fundação Dom Cabral, somente 30% das empresas familiares sobrevivem à primeira transição de gerações, 10% passam da segunda e 3% continuam em operação após a terceira.

O holandês René Vernooy está nesse processo. Radicado no Brasil desde 1983, ele trouxe na bagagem a experiência do trabalho com rosas e, desde então, dedica-se ao cultivo de flores na cidade de Holambra (SP).

Por muitos anos, Vernooy trabalhou ao lado da esposa, Marijke Goris, também holandesa, e hoje tem a companhia do filho do meio, Jordy Vernooy, de 22 anos, recém-formado em agronomia pela Esalq/USP.

‘Família empresária’

Jordy começou a trabalhar com o pai há um ano e meio, após concluir a graduação. René conta que o ingresso de Jordy nos negócios da família ocorreu de acordo com procedimentos legais, com o auxílio de uma mentoria especializada.

— São três filhos, mas só um se interessou. Contratamos profissionais especializados na área para eles nos orientarem sobre o que fazer — diz.

Segundo Ronaldo Behrens, professor convidado da Jornada PDA (Parceria para o Desenvolvimento da Família Empresária), da Fundação Dom Cabral, o primeiro passo para uma sucessão dar certo é a família se abrir ao diálogo, resgatar os valores em comum e conversar sobre as expectativas de cada um:

Jordy e René Vernooy trabalham juntos no cultivo de flores em Holambra (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Jordy e René Vernooy trabalham juntos no cultivo de flores em Holambra (SP) — Foto: Arquivo pessoal

— Em consultorias, muitas vezes utilizamos psicólogas nas reuniões para abordar pontos de conflito de maneira mais assertiva.

Essa poderia até ser uma solução para as brigas da família La Selva em “Terra e Paixão”. Suposições sobre a dramaturgia à parte, Behrens diz que a simples substituição do termo “empresa familiar” por “família empresária” já faz diferença no processo de transição.

— É uma dica simples, mas que estabelece uma diferença no posicionamento da liderança. Uma família empresária compartilha laços e também informações e perspectivas para o futuro — explica.

Para Fabio Mizumoto, professor da Fundação Getulio Vargas, é igualmente importante traçar um plano para acolher as novas demandas do fundador e também dos herdeiros.

— Trata-se de combinar quais serão as regras do jogo a partir de então. Isso cria uma base de confiança no negócio — diz ele.

Conselho consultivo

Mizumoto reconhece que é grande o desafio de uma empresa migrar de um modelo de governança autocentrada, quando muitas vezes há somente um tomador de decisão, para um negócio em que filhos e sobrinhos também têm voz de comando.

— Isso é um aprendizado para todas as partes. Daí a importância de se fazer tudo com calma, mentoria e respaldo jurídico — avalia.

Ele conta que, a depender do tamanho do negócio, costuma recomendar a criação de um conselho consultivo para colocar as decisões em prática.

Tony Ramos interpreta Antonio La Selva, empresário do agronegócio que busca entre os filhos seu sucessor nos negócios — Foto: João Miguel Júnior
Tony Ramos interpreta Antonio La Selva, empresário do agronegócio que busca entre os filhos seu sucessor nos negócios — Foto: João Miguel Júnior

Seja qual for o caminho para a transição, a palavra-chave de um processo bem-sucedido é previsibilidade. O agricultor Giovanni Luis Weber faz parte da terceira geração da família que se dedica ao cultivo de tabaco em Santa Cruz do Sul (RS). Ele trabalha na propriedade de 11,5 hectares que já ficou sob o comando de seu avô, Arlindo, e depois de seu pai, Aloysio.

— Tudo o que meu pai conquistou foi com essa terra. Ele fez a sucessão, permaneceu na propriedade, e hoje, em 2023, cá estamos nós — conta.

Aos 46 anos, Weber ainda não está no momento de passar o bastão, mas já vislumbra a transição para a quarta geração: ele tem uma filha de 16 anos.

— Se ela vai fazer a sucessão, isso é uma história para mais adiante — diz. — O que eu sei é que a gente está com planos de se aposentar nesse pedaço de terra.

Talvez os personagens de Tony Ramos, Cauã Reymond e Debora Ozório possam tirar daí alguma inspiração.

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