Economia
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Por Bloomberg — Buenos Aires

Em lojas de toda a Argentina, de cafeterias a vendedores de utensílios de cozinha, muitos comerciantes acordaram na segunda-feira com o seguinte aviso em suas caixas de e-mail: seus fornecedores haviam aumentado os preços em 20% durante a noite.

O motivo, segundo eles, foi a votação das primárias realizadas no domingo, em que o candidato de extrema direita Javier Milei teve uma vitória apertada, porém surpreendente, aprofundando a sensação de caos político e financeiro no país. Horas depois, o governo liderado pelo presidente Alberto Fernandez anunciou uma alta de 22% na cotação oficial do dólar no país.

Num país que acumula uma inflação de 115% nos últimos 12 meses, altas de preços se tornaram rotina. Mas o que aconteceu esta semana foi atípico até para a Argentina.

Na segunda-feira, logo após a vitória de Javier Milei, os preços de eletrônicos e eletrodomésticos foram reajustados imediatamente. A MacStation, revendedora oficial de produtos importados da Apple na Argentina, aumentou os valores de seus computadores em quase 25%, enquanto o site local de comércio eletrônico Precialo, mostrou preços de geladeiras, máquinas de lavar e TVs com altas acima de 20%.

Algumas lojas chegaram ao ponto de suspender as vendas de produtos como autopeças e papel higiênico até que os preços mostrassem sinais de estabilização nos próximos dias, de acordo com empresários de Buenos Aires ouvidos pela Bloomberg.

Outros disseram que não conseguiam nem mesmo obter novas estimativas de remessas ou vender dólares no mercado paralelo.

O deputado de extrema direita Javier Milei derrotou os candidatos presidenciais dos dois principais partidos na Argentina — Foto: Bloomberg
O deputado de extrema direita Javier Milei derrotou os candidatos presidenciais dos dois principais partidos na Argentina — Foto: Bloomberg

Momentos como os de segunda-feira reforçam uma realidade crescente na Argentina: ninguém sabe quanto custam as coisas em pesos. De uma esquina a outra, itens básicos - como toalhas de papel, fraldas, leite, ovos - podem custar o dobro, dependendo da loja e do dia da semana.

Sem um norte, os consumidores tendem a manter seu dinheiro na carteira enquanto as lojas aumentam os preços.

Ao mesmo tempo, os argentinos estão tão acostumados com o caos financeiro nessa fase que estão quase anestesiados. Eles não vão às ruas para protestar como aconteceu em lugares como o Chile e a França nos últimos anos. Em vez disso, recorrem a uma longa lista de estratégias de sobrevivência à inflação, com graus variados de sucesso ou fracasso.

As empresas locais são as maiores empregadoras do país depois que anos de volatilidade afugentaram as grandes corporações, inclusive o Walmart. Como em qualquer outro lugar, as lojas familiares geralmente enfrentam margens muito pequenas, e mesmo as mais criativas dizem que não há como escapar das perdas.

'Eu não tenho uma bola de cristal'

Quando um dos clientes de Lionel Barese telefonou na semana passada para perguntar sobre a instalação de bancadas de cozinha de alta qualidade em sua casa no subúrbio, ele fez um orçamento de 3,1 milhões de pesos. Mas o cliente confirmou o serviço na segunda-feira, forçando Barese a revisar o preço para 3,5 milhões de pesos. Nesse momento, ele está cauteloso em aceitar novos negócios porque se preocupa com o aumento dos custos do material que importa da Europa.

- Você pode tentar cobrir o prejuízo, mas eu não tenho uma bola de cristal. Normalmente, quando você faz um negócio, fica feliz. Mas, na Argentina, quando se vende algo, nunca se sabe se isso é bom ou ruim - afirmou Barese.

Marcela Cina, esteticista que dirige seu próprio pequeno negócio no bairro de Caballito, em Buenos Aires, viu os preços de uma máscara de tratamento de pele que ela usa em clientes saltar de 6.200 para 7.300 pesos da noite para o dia.

E um gerente de padaria, que pediu para não ter seu nome revelado para evitar a revolta dos clientes, disse que espera aumentar os preços em 10% esta semana e depois ver se precisará aumentar novamente no fim do mês. Ele diz que a experiência é como apertar o cinto de segurança quando um avião decola.

Enquanto a maior parte do mundo tem conseguido dominar o aumento da inflação pós-pandemia, a Argentina está indo na direção oposta, selando seu status de pária na comunidade financeira global. Agora, os economistas locais estão alertando que os preços podem subir mais de 10% somente em agosto - o triplo da taxa de aumento de preços que os americanos veem ao longo de um ano.

'Choques que esmagam as pequenas empresas'

A inflação está agora em seu nível mais alto desde que a Argentina saiu da hiperinflação na década de 1990. Fernando Iglesias Molli, proprietário da cafeteria OssKaffe, em Buenos Aires, lembra-se daqueles tempos difíceis e diz que isso forçou gerações de argentinos a se tornarem financeiramente mais experientes. Porém, até mesmo ele diz que nenhuma estratégia, por mais inteligente que seja, pode estancar totalmente o sangramento.

- Isso vai nos atingir diretamente - disse Molli, observando que suas importações são cotadas em dólares. - A Argentina sempre nos moldou para termos essa resiliência única para nos adaptarmos, sermos criativos com novas ideias para que possamos superar esses enormes choques que esmagam as pequenas empresas.

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