Uma das maiores especialistas em moda e beleza do país, Glória Kalil diz que antes havia um movimento de cima para baixo, no qual a alta costura ditava a tendência, seguida pelo prêt-à-porter e depois pelas ruas. Hoje, isso se inverteu, avalia: a rua dita a moda, numa composição mais horizontal na qual todas as tribos convivem.
- Novas tendências: Eles descobrem a maquiagem e o esmalte. E elas, a beleza ao natural
- De time de futebol a horta: as estratégias das empresas para atrair o funcionário ao escritório
Homens usarem maquiagem, esmalte é uma tendência?
Cada cluster tem sua estética. O conceito muito rígido e muito único se espatifou. O pai convive com filho de 15 anos que sai de saia. Há uma tolerância em relação a essas novidades. Essa coisa piramidal passou a ser mais achatada, cheia de bolhas.
É um movimento mais concentrado nos jovens?
Os homens ou mulheres ainda continuam muito clássicos. Mas estou acostumada com meninos de saia há muito tempo. Na bolha da moda, em desfile de jovens criadores. A Casa de Criadores (plataforma dedicada à moda e arte brasileiras) é outro mundo. Todos os meninos estão maquiados, estão de saia, não distingue menina e menino. Hoje, nós convivemos com vários grupos.
A moda está mais democrática?
Antes era uma tendência de cima de baixo. No topo da pirâmide vinha a alta costura, depois prêt-à-porter, a rua. A classe dominante tinha a primazia de ditar a estética. Hoje há fluidez e apropriação muito maior da moda da rua.
Marcelo D2 lançou um álbum, com ele na capa usando saia pregueada, entrando no mundo do samba e se apropriando dessa moda. Leva renovação e juventude para o samba.
Essa liberdade também chegou às mulheres?
Na questão das mulheres, é coisa de bolha. Há uma certa liberdade de não ficar presa ao salto alto, ao cabelo pintado, mas não podemos esquecer dos influencers, com a estética Barbie. Ao lado da liberdade de ser mais como você, não se incomodar com imposições, as influencers usam cabelo comprido, penteado para o lado, vestindo igual, com a mesma maquiagem. Há onda para cá e para lá. Estamos convivendo com informações paradoxais.