Economia
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Wellington Silva e Thaiz Monteiro, ambos de 29 anos, só precisaram de uma semana para tomar uma decisão radical: colocar o apartamento para alugar e viver num motorhome. A ideia veio depois de Silva sofrer um infarto aos 26 anos. O desejo de viver intensamente levou o casal a comprar uma kombi, que foi batizada de Chico, no ano passado. Após adaptações como um teto elevado para permitir um banho no meio da nova sala de estar, o veículo foi equipado com minigeladeira, pia, fogão e itens essenciais. Tudo custou R$ 120 mil, o que foi compensado pela nova economia doméstica. Eles gastam com a manutenção do Chico a metade dos R$ 3 mil mensais que eram consumidos pelo apartamento em São Paulo.

— Gostávamos muito de viajar e pensei que precisava mudar de vida. Parei de querer ficar rico. Queremos conhecer o Brasil — diz Silva, que segue atuando em logística à distância enquanto a mulher se dedica às redes sociais.

Thaiz e Wellington na kombi Chico — Foto: Arquivo pessoal
Thaiz e Wellington na kombi Chico — Foto: Arquivo pessoal

O casal faz parte de um grupo em crescimento no Brasil: pessoas que trocam a casa por uma vida mais simples a bordo de motorhomes, veículos como vans, kombis e ônibus adaptados como casas ambulantes.

É um estilo de vida mais disseminado na Europa e nos EUA e que passou a atrair mais os brasileiros após o confinamento da pandemia — que também popularizou o trabalho on-line. O movimento impulsiona um mercado que envolve empresas especializadas na adaptação de veículos, algo que ficou mais acessível com equipamentos mais baratos.

Só no Rio, os emplacamentos de motorhomes no Detran subiram de 334 em 2019 para 894 em 2023. Em São Paulo, de 2.338 para 4.328 no mesmo período. Após a adaptação, é preciso emitir um Certificado de Segurança Veicular (CSV) e fazer registro no órgão de trânsito estadual. Dependendo do tamanho do veículo, é preciso ter habilitação nas categorias C ou D.

Quanto custa transformar um veículo — Foto: Editora de Arte
Quanto custa transformar um veículo — Foto: Editora de Arte

Orçamento customizado

Os preços variam de acordo com o veículo e equipamentos instalados, mas com R$ 50 mil já é possível transformar uma kombi em casa, dizem agentes do setor. Quem pretende viver no veículo e enfrentar longas distâncias, incluindo vários países, tende a investir mais nos equipamentos que uma família que apenas vai usar o motorhome para as férias.

Com sete anos de estrada, a fabricante de motorhomes Estrella Mobil produz hoje setenta unidades por ano em São Paulo. Em 2016, eram oito. A empresa faturou R$ 19 milhões no ano passado e projeta alta de 18% no fim deste ano.

Da Toca da Philomena, que monta motorhomes em São Carlos (SP), já saíram 30 neste ano, o triplo da marca de 2019. Os números incluem motorhomes construídos do zero a partir de movelaria planejada ou modelos prontos, que são encaixados nos veículos.

A paulistana Motorhome O Sonho vende motorhomes prontos, mas Lucas Escobar, o proprietário, diz que a maior demanda é pela reforma personalizada. Há cinco anos, ele diz que levava seis meses para montar uma unidade. Agora, entrega duas a cada mês:

— Temos doze funcionários e somos especializados em vans. Hoje motorhome é mais falado, mas antigamente era uma brincadeira elitizada.

A Toca da Philomena se especializou na adaptação de kombis, que são baratas e têm um charme nostálgico. O dono, Fabu Dias, diz que completa uma adaptação entre 30 e 60 dias, mas a fila de encomendas só tem vaga para entrega no ano que vem. A empresa firmou uma parceria com a Westkombi, especializada em bancos que viram camas sob medida para esses veículos. O proprietário da fornecedora, Fábio Moraes, conta que, se há pouco tempo as vendas não passavam de 15 por ano, hoje ultrapassam cem.

Dias explica que os equipamentos ficaram mais baratos nos últimos anos. Geladeiras para veículos desse tipo custavam quase o valor de um carro há pouco tempo, mas agora podem ser encontradas por R$ 3 mil a R$ 8 mil.

Jonathan Sousa, diretor comercial da eKipa Trailer, plataforma de equipamentos para motorhomes, afirma que a indústria também investiu em tecnologia. Atualmente, a empresa vende, por exemplo, claraboias com sensores que fecham com a chuva e mesas com pés automáticos, que são recolhidas sem esforço para abrir espaço nos ambientes.

Para o empresário, o home office levou muita gente a descobrir que poderia trabalhar e viajar ao mesmo tempo:

— Isso fora o medo de não aproveitar a vida quando mais velho. Todo mundo quer viver mais agora. Meus clientes são, em maioria, casais de meia idade ou aposentados — diz.

Thiago Maia, do S+T Studio Arquitetura para Motorhomes, diz que o maior desafio é manter a ergonomia do ambiente interno, para ninguém ficar batendo cabeça toda hora.

— Desenhar uma casa leva três meses, enquanto se desenha um motorhome em trinta dias. O problema é encaixar tudo, então essas reformas podem demorar até quatro meses — diz o arquiteto, que criou a empresa com a designer Stephanie Dourado em 2021 e já entregou 40 veículos.

Apesar de ainda caro, o motorhome também pode virar fonte de renda e ajudar a recuperar o investimento. Após a empresa de Tiago Reis e Rafael Manteufel falir na pandemia, eles decidiram reformar um ônibus por meio de produção de conteúdo para redes sociais. A adaptação terminou em um ano e meio, com 90% do custo patrocinado por 35 marcas. Atualmente, a renda do casal vem inteiramente do trabalho na internet, onde os dois compartilham aventuras.

— Viemos sem dinheiro, apostando que a internet nos ajudaria. Se não temos trabalho, ficamos parados, sem gasto. Dormimos na praia em que gravamos e vamos para outro lugar — conta Reis.

Campings são refúgios

Quem compra um motorhome só para as férias ou fins de semana pode colocar o carro para alugar em plataformas para esse público quando não estiver na estrada. Uma delas é a CamperVamos, uma espécie de Airbnb dos motorhomes.

Maria Eduarda Cardoso, de 31 anos, e Alessandro De Franceschi, de 38, também trabalham apenas com produção de conteúdo sobre motorhomes. O casal passou a levar uma vida sobre rodas em 2020.

— Éramos advogados e percebemos que trabalhávamos esperando as férias. Não queríamos chegar ao fim da vida arrependidos — diz Eduarda.

Segurança é uma preocupação. Ela conta que sofreu duas tentativas de arrombamento na Colômbia, o que os levou a isolar a cabine do motorista e instalar cadeados e câmeras.

Eduarda e De Franceschi em seu motorhome — Foto: Arquivo pessoal
Eduarda e De Franceschi em seu motorhome — Foto: Arquivo pessoal

Não há regras específicas sobre onde estacionar, mas a maioria dos viajantes prefere passar as noites em campings. Segundo Fabricio Granito, CEO da HEL Ecossistemas, uma empresa de turismo e lazer, os motorhomes revitalizam espaços subutilizados.

O Camping Tiradentes, na cidade mineira de mesmo nome, por exemplo, passou a exigir reservas com alta de 50% na demanda nos últimos dois anos. Antes, era raro ter as 30 vagas para veículos ocupadas.

— Viajante quer experiência. Destinos de aventura e natureza estão em evidência— afirma Granito.

Para André Coelho, coordenador da FGV Projetos e especialista no setor, esse movimento favorece o turismo regional, com os viajantes consumindo por onde passam:

— Esse segmento pode impulsionar outras atividades, como fornecimento de peças e equipamentos. Pode ser um incentivo a ter estradas boas.

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