Para cumprir sua meta de crescimento de 5% este ano, o governo chinês ampliou as ações para tentar uma recuperação econômica do país neste ano com a maior injeção de liquidez desde dezembro de 2020.
O Banco Popular da China (PBoC, na sigla em inglês) anunciou nesta segunda-feira a injeção de 289 bilhões de yuans (US$ 39,6 bilhões) ao sistema financeiro através do chamado mecanismo de empréstimo de médio prazo.
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Analistas avaliam que a injeção de recursos visa garantir as condições de liquidez entre bancos, além de oferecer mais crédito, inclusive para os governos regionais, que estão altamente endividados e viraram fonte de preocupação do governo central. O PBoC manteve a taxa de juros em 2,5%.
Com desemprego aumentando entre os jovens, crescimento mais lento do Produto Interno Bruto (PIB) no pós-covid, queda do investimento estrangeiro e crise no setor imobiliário, o presidente americano Joe Biden definiu a economia da China, a segunda maior do mundo, como uma "bomba-relógio". O líder chinês, Xi Jinping, reagiu a Biden e destacou a forte resiliência e vitalidade de seu país.
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Analistas que acompanham os números chineses observam que existem sim preocupações de curto prazo, mas também riscos estruturais devido à fraqueza do setor imobiliário, setor que tem peso de 30% no Produto Interno Bruto (PIB).
Um relatório dos economistas Laura Pitta, Gabriella Garcia e Pedro Schneider, do banco Itaú, observa que uma das preocupações de curto prazo é que, mesmo com a reabertura pós-Covid, a economia chinesa vem crescendo a uma velocidade de 4,1% ao ano desde 2021.
É um ritmo muito fraco para quem se acostumou a uma expansão de dois dígitos no passado. Até mesmo as exportações chinesas que cresceram 9,5%, entre 2020 e 2022, vêm perdendo fôlego.
— O ambiente econômico está muito mais desafiador para a China do que se via alguns anos atrás. O investimento direto caiu, o governo chinês estabeleceu políticas mais duras para o setor privado, o que trava o investimento e impacta o crescimento. E o distanciamento dos EUA impõe uma questão para a China que é crescer de forma isolada — descreve a economista Laura Pitta, uma das autoras do estudo.
Setor imobiliário perde força
Ela observa que o setor imobiliário perdeu tração porque o pico de demanda por novas moradias já passou. Por isso, Pequim terá que encontrar alternativas para reduzir o peso da construção civil na economia. Os economistas do Itaú lembram que não houve estímulos fiscais para as famílias durante a pandemia de Covid-9, uma das razões para a retomada do crescimento com menos força do que se esperava.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2020 os países do G-20 aportaram US$ 15,2 trilhões em suas economias por meio de medidas de estímulos fiscais, impulsionando o consumo. Isso explica os processos de recuperação mais fortes em países como EUA, Europa, e emergentes como o Brasil.
A ausência desse incentivo para as famílias pode ter um impacto estrutural ainda maior na China, porque com uma rede de proteção social limitada, os chineses estão tendo que manter um nível maior de poupança por precaução.
Pouso suave chinês
Os autores do estudo preveem um crescimento do PIB chinês de 4,9% em 2023 e 4,1% em 2024. Pitta diz que se há um 'softlanding' (pouso suave) da economia americana, o mundo também terá que se acostumar também com um softlanding chinês.
No mês passado, a agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) cortou a previsão de crescimento do crescimento da China para 2023. Os novos dados apontam que o avanço deverá ser de 4,8% frente a uma projeção anterior de 5,2%. A meta do governo chinês é que o país cresça 5% este ano.
A preocupação do mercado aumentou depois que a Evergrand, gigante chinesa do setor imobiliário que já tinha dado calote em títulos em dólares, anunciou que novamente deixou de pagar títulos internos chineses no valor de US$ 540 milhões. As ações da empresas perderam 25% de seu valor em apenas um dia.
Isolamento da economia
Outro fator de preocupação, são as relações geopolíticas entre EUA e China, que vêm se deteriorando desde o início da guerra comercial de 2018-19. Uma das consequências, apontam os analistas, foi a redução dos investimentos estrangeiros diretos (IED) na China, deixando a economia asiática mais isolada da economia global. O investimento direto para a China foi menor do que para o Brasil, em US$ 66 bilhões, e para a Índia, em US$ 49 bilhões, no biênio 2021/2022.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, observa que a economia chinesa passa por um momento delicado desde 2021, especialmente no setor imobiliário, que vinha crescendo com alavancagem. Quando houve restrição do governo a esse movimento de alavancagem apareceram os primeiros sinais de fraturas, com o calote da Evergrand. A expectativa com a reabertura pós-Covid era alta, mas os dados econômicos do primeiro semestre mostraram frustração no crescimento.
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— A saturação do modelo econômico chinês tem chamado a atenção e a tentativa de reverter esse movimento deveria vir por estímulos econômicos, mas estímulos em demasia pressionam a inflação global. É uma linha muito tênue entre evitar um colapso da economia chinesa ou inflacionar o mundo — diz Spiess.
— Não sei se a economia chinesa é uma bomba-relógio, mas existe sim o temor de que se uma das grandes do setor imobiliário quebrar a China repita o episódio da falência do banco americano Lehman Brothers, em 2008, que desencadeou uma crise global.
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No curto prazo, o efeito direto do crescimento mais fraco da China tende a ser deflacionário, já que a menor demanda chinesa por commodities deve pesar negativamente sobre o preço desses produtos, explicam os economistas do Itaú.
Para o Brasil, maior parceiro comercial chinês, pode haver impacto negativo na balança comercial. Ao mesmo tempo, diz Laura Pitta, a distensão entre China e EUA está provocando a realocação das cadeias de produção da China, onde há eficiência e o custo é menor, para países como a índia, onde produzir é mais caro. Esse deslocamento também tende a provocar uma inflação global mais alta.
— O difícil é saber qual será o efeito médio desses dois movimentos — questiona Laura Pitta.