Economia
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Por — São Paulo

O holandês Peter Bakker, presidente do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (da sigla em inglês WBCSD), uma organização global liderada por CEOs, composta por mais de 200 grandes empresas que trabalham em conjunto para acelerar a transição para um mundo sustentável, está no Brasil nesta semana com uma agenda atribulada.

Ele participou do Congresso Sustentável do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), o equivalente brasileiro do WBCSD. Também se encontrou com CEOS de grandes companhias de diferentes setores da economia como mineração, cosméticos, agro, energia para apresentar o projeto "De Dubai a Belém e além". O projeto prevê uma estratégia única de atuação do setor privado, em nível mundial, em busca do desenvolvimento sustentável.

Alguns pontos a serem discutidos são a transição para sistemas alimentares mais justos, criação de um mercado de carbono e como aumentar a escala de soluções baseadas na natureza.

— A ideia é mobilizar as companhias no Brasil e mundialmente para colaborar e impulsionar diretamente a transição para a economia verde, sobretudo nessa janela de oportunidade importantíssima entre a COP de Dubai, esse ano, e a de Belém, em 2025, pensando em deixar legados para os anos seguintes — disse Bakker, lembrando que o CEBDS tem mais de cem associadas (50% do PIB brasileiro somando os faturamentos) e o WBCSD agrega cerca de 200 das maiores empresas multinacionais do planeta, que juntas têm faturamento anual superior a US$ 8,5 trilhões.

Bakker deu a seguinte entrevista ao GLOBO:

O que é o projeto "De Dubai a Belém e além"?

Sabemos que se quisermos superar alguns dos desafios climáticos, precisamos de iniciativas que deixem um legado para vários anos. E este é um momento único em que podemos reunir o setor empresarial global para essa iniciativa.

Alguns focos de discussão são como podemos transformar os sistemas alimentares, o que podemos fazer em relação a um mercado de carbono, como aumentar a escala de soluções baseadas na natureza.

Precisamos de adesão e colaboração das empresas para a transição a uma economia verde. Na COP 28 haverá pela primeira vez um dia da Agricultura e da alimentação. precisamos aproveitar esses dois anos e meio até a COP de Belém para um trabalho d emobilização das empresas e obter resultados impactantes.

Como está o interesse das empresas no projeto?

Encontramos um interesse muito grande por parte das empresas. Ainda não pedimos às empresas que se inscrevam concretamente, mas faremos isso.

Qual tem sido o papel da WBCSD em auxiliar as empresas nessa transição para a economia verde?

Eu ingressei na organização em 2012. Antes, fui CEO do grupo de logística TNT. Temos feito um trabalho importante junto às empresas mostrando porque a sustentabilidade é importante. Mostramos o que um mundo dois graus mais quente significaria para os negócios. Publicamos trabalhos sobre transição do sistema energético, para o sistema agrícola e de transportes.

Há dez anos a conversa era: porque sustentabilidade ou mudança climática são importantes? Atualmente a conversa mudou para: como fazer para descarbonizar? Como aumentar a produção de hidrogênio verde? Como comprar energia renovável? Mostramos ferramentas muito práticas que as empresas podem usar.

À medida que impulsionamos maior transparência e responsabilidade nos negócios, há uma mudança na forma como eles são valorizados.

Então você está mais otimista?

Estou mais otimista porque a maioria dos líderes empresariais agora entendem que é preciso integrar a discussão sobre as alterações climáticas na forma como pensam sobre o futuro da sua empresa.

Não creio que os incentivos econômicos sejam suficientemente fortes para fazer com que a mudança aconteça em larga escala. Acho que precisamos encontrar melhores formas de garantir que os riscos e as oportunidades climáticas sejam compreendidos pelos investidores e integrados nos seus modelos de avaliação.

No WBCSD, construímos uma rede global de CFOs (diretores financeiros de empresas) para saber como eles integram o clima em sua tomada de decisão de investimento e nas relações com investidores.

Ainda existe conflito entre investidores, acionistas de que a mudança para práticas mais sustentáveis é importante hoje?

Não, eu acho que não. Há um grupo crescente de investidores que está tentando entender quais são os riscos climáticos no futuro e qual impacto terão na avaliação das empresas.

As empresas serão solicitadas a divulgar suas emissões, de acordo com decisão do International Sustainability Standards Board (ISSB) (organização composta por especialistas que vem definindo regras globais de sustentabilidade).

Mais e mais empresas vão reportar informações com base nessa nova estrutura de sustentabilidade, alertando sobre riscos climáticos, e será possível comparar como as companhias estão se saindo em termos de descarbonização. E assim ficará mais fácil para os investidores dizerem: vou colocar meus investimentos na empresa que faz mais para compensar ou evitar esses riscos ou nas empresas que não fazem nada?

O mercado de capitais já está aumentando o investimento nessa transição?

O investimento de impacto continua a crescer em termos total investido. Vejo uma tentativa de redirecionar o capital para essas soluções. E quando todas as empresas reportam suas emissões da mesma forma, permitindo compração, então veremos uma mudança no mercado de capitais, o que será um incentivo para as empresas agirem rapidamente.

Ainda existe muito 'greenwashing' (divulgação falsa sobre sustentabilidade) entre as companhias? Como combater essa prática?

Ainda existe muita oportunidade para o 'greenwashing' porque não temos regras comuns globais. Então há oportunidade para intepretação de histórias em vez de apresentação de dados concretos.

O combate a essa prática é simples: colocar a divulgação sobre emissões como obrigatória, de acordo com regras globais, o que sigifica que todas as companhias usarão os mesmos parâmetros. Os dados mostrarão quais empresas estão realmente fazendo progresso e quais empresas estão apenas contando histórias.

O senhor acredita num mercado global de carbono?

No contexto geopolítico atual não é fácil ver surgir qualquer solução global. Há muitas tensões e diferenças de opiniões. Eu sempre defendi que um preço global para o carbono seria a melhor solução para descarbonizar rapidamente a sociedade.

Mas sou realista o suficiente para saber que isso não acontecerá tão cedo. Na União Europeia já se fala, por exemplo, em tributar na fronteira produtos importados de países que tenham baixa descarbonização. Isso é um passo na direção correta.

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E há outro caminho nesse mercado que é buscar soluções de descarbonização baseadas na natureza. Temos oportunidade de olhar essas soluções de forma global.

O Brasil aprovou recentemente um projeto que estabelece regras para um mercado de carbono, compensação de amissões.....

Acho que é melhor do que ter um mercado voluntário. As regras, na prática, incentivam o comportamento correto. Eu não sei o suficiente sobre o que tem acontecido no Brasil, mas acho que na prática é bom ter um mercado regulado, em que todas as empresas participem.

E o que esperar da COP de Belém?

Não sei como vai funcionar a logística, mas trazê-la para perto da Amazônia será um ambiente muito inspirador.

Os líderes empresariais com quem converso, independentemente de serem da América Latina ou de outras partes do mundo, estão muito entusiasmados. Ainda faltam mais de dois anos e temos Dubai antes. Esperamos mobilizar muitos líderes empresariais.

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