Após as ações da Petrobras desabarem mais de 6% nesta segunda-feira, com investidores reagindo às mudanças propostas para a indicação de membros da alta administração e do conselho fiscal, a estatal emitiu um comunicado afirmando que as alterações não reduzem exigências da Lei das Estatais.
No documento, divulgado no fim de tarde, após o fechamento do pregão da Bolsa, a companhia alegou que o objetivo é "alinhar o Estatuto ao disposto na Lei nº 13.303/2016, a Lei das Estatais, quaisquer que venham a ser as decisões judiciais a respeito do tema".
Em março, enquanto o governo tentava aprovar a indicação de políticos para a direção de estatais, o então ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu os efeitos normativos de parte da Lei das Estatais que restringe indicações políticas para estatais.
No comunicado, a Petrobras também afirma que a proposta, que ainda precisa ser deliberada em assembleia de acionistas (onde, a exemplo do conselho, o governo também tem maioria), "mantém todos os requisitos previstos na Lei das Estatais nas indicações de membros da administração, retirando somente o parágrafo segundo do mesmo artigo 21 do Estatuto Social, que reproduzia o conteúdo de cada um dos incisos do art. 17, parágrafo segundo, da referida lei".
A divulgação do comunicado é uma tentativa de tranquilizar os investidores em relação aos riscos de ingerência na companhia.
Petrobras 70 anos: o que pensam ex-presidentes para o futuro da estatal
Analistas ouvidos pelo GLOBO relataram receio de que, além de passar a indicar políticos sem qualidades técnicas para cargos importantes, a Petrobras volte a fazer investimentos que não façam sentido do ponto de vista estratégico econômico, como já ocorreu no passado.
O caso da refinaria Abreu e Lima, que levou a um prejuízo bilionário, é apontado como um dos exemplos por quem teme os próximos passos dos governantes da empresa.
Quatro dos 11 membros do Conselho de Administração da Petrobras, que representam os acionistas minoritários, votaram contra a proposta, segundo pessoas a par do assunto na estatal, ouvidas pela agência Bloomberg sob condição de anonimato.
A proposta ainda pode reduzir o potencial para futuros pagamentos extraordinários de dividendos, de acordo com analistas e operadores, já que traz a criação de uma reserva para a remuneração do capital — que irá assegurar o pagamento de dividendos, recompra de ações e absorção de prejuízos.
A leitura do mercado é a de que a reserva é uma forma de a empresa financiar a ampliação de investimentos de interesse do governo.
A Petrobras deve apresentar um novo plano estratégico de cinco anos que tende a superar o anterior, de US$ 78 bilhões. A gigante petrolífera planeja destinar até 15% dos seus investimentos totais para projetos de energias renováveis e de baixo carbono – medida que preocupa operadores com a possibilidade de a Petrobras mudar o seu foco para projetos menos rentáveis.