Economia
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Por Bloomberg — Nova York

Ellen Kessler estava visitando sua mãe na Flórida no ano passado quando as coisas deram uma reviravolta.

- Ela me ligou às 3h da madrugada e estava histérica, com medo de que alguém estivesse na casa. Cheguei lá e parecia que ela não era a mesma pessoa. Eu não sabia o que fazer - contou Ellen, que estava hospedada em um hotel próximo.

Preocupada em deixar sua mãe de 91 anos sozinha, decidiu levá-la de volta com ela para Maryland, o que, depois, admitiu ter sido "o pior erro que já cometi".

Estar longe de casa exacerbou a ansiedade da mãe e acrescentou um fardo à vida diária de Ellen, uma diretora sênior de 60 anos da cadeia de hotéis Hilton Worldwide Holdings.

A situação de Ellen está se tornando cada vez mais comum. Mais da metade da força de trabalho dos Estados Unidos tem responsabilidades de cuidado fora do trabalho, e cerca de 37 milhões de americanos podem passar, em média, quase quatro horas por dia cuidando de um idoso, de acordo com dados do governo dos EUA.

Geração 'sanduíche'

Os trabalhadores que cuidam de pais idosos e têm filhos em casa, a chamada geração sanduíche, relatam níveis ainda mais altos de tensão emocional e financeira, de acordo com a AARP, uma organização sem fins lucrativos e apartidária que capacita aposentados a escolher como viver à medida que envelhecem.

As estimativas do custo econômico do cuidado nos EUA variam de US$ 264 bilhões a até US$ 600 bilhões.

"O impacto é sentido por uma parcela surpreendentemente grande da população e tem um custo enorme", afirma um relatório da seguradora de saúde Blue Cross Blue Shield.

Muitas pessoas que tentam equilibrar suas vidas profissionais com a prestação de cuidados são forçadas a faltar ao trabalho, tirar licença ou pedir demissão.

Uma startup está tentando novas maneiras de ajudar as pessoas que cuidam de seus familiares e que trabalham fora a suportar a carga. Quando Ellen explicou sua situação ao chefe, ela ficou sabendo que a Hilton tinha um novo benefício de assistência a idosos gerenciado por uma startup chamada Wellthy.

Outras grandes empresas, incluindo a varejista de eletrônicos Best Buy, a Meta Platforms, controladora do Facebook, e a gigante de fundos mútuos Vanguard Group também oferecem os serviços da Wellthy a seus funcionários.

Aplicativo da Wellthy, startup que ajuda a orientar os cuidados a idosos — Foto: Michelle Bruzzese/Bloomberg
Aplicativo da Wellthy, startup que ajuda a orientar os cuidados a idosos — Foto: Michelle Bruzzese/Bloomberg

Apenas 12% das empresas oferecem alguma forma de apoio ao cuidado de idosos, de acordo com a Gallagher Surveys. Embora um número cada vez maior de grandes empregadores ofereça licença remunerada para cuidadores e muitos tenham serviços de referência ou aconselhamento, quase nenhum oferece orientação especializada e personalizada sobre como lidar com os desafios complexos e agudos de cuidar de familiares idosos.

Isso significa que a Wellthy tem pouca concorrência direta.

Essa relativa falta de opções para cuidar de idosos contrasta com a maior disponibilidade de benefícios para cuidar de crianças, como reservas para arcar com despesas com creches e serviços de assistência de emergência.

A Wellthy ajuda os trabalhadores a lidar com as várias questões que podem surgir quando um membro mais velho da família precisa de cuidados.

Quando Ellen entrou em contato com a Wellthy, eles a colocaram em contato com a consultora de cuidados Lynda Cooke. A mãe de Kessler tem degeneração macular que prejudica sua visão, mas ela resistiu a se mudar para um lugar com cuidadores em tempo integral, então Lynda orientou a família a encontrar um auxiliar de saúde domiciliar.

No entanto, uma queda noturna que resultou em uma costela quebrada fez com que a mãe de Ellen mudasse sua maneira de pensar sobre a moradia assistida.

- Ela disse: 'Ellen, não vou mais lutar contra você'", lembra a diretora da rede de hotéis Hilton.

A partir daí, Lynda Cooke conseguiu mudar o curso e fornecer a Ellen perguntas detalhadas para fazer aos estabelecimentos, orientação sobre a negociação de taxas e apoio emocional.

- Se dividir entre o hospital, a reabilitação e a tentativa de trabalhar, é muita coisa. Você realmente sente o desgaste de estar ao lado de seus pais - afirmou Ellen.

Ellen Kessler lançou mão de uma empresa especializada em cuidados com idosos para atender a mãe — Foto: Michelle Bruzzese/Bloomberg
Ellen Kessler lançou mão de uma empresa especializada em cuidados com idosos para atender a mãe — Foto: Michelle Bruzzese/Bloomberg

Os programas de assistência aos funcionários que muitas grandes empresas oferecem normalmente não podem ajudar os funcionários a navegar pelo labirinto de provedores de cuidados de longo prazo, regulamentações e opções de pagamento.

Alguns empregadores oferecem serviços que direcionam os funcionários a fornecedores, mas a escassez de auxiliares de saúde domiciliar e outros trabalhadores em funções de cuidados de saúde de baixa remuneração e alta rotatividade pode dificultar a obtenção de ajuda.

- É um grande abismo - disse o diretor administrativo e sócio do Boston Consulting Group, Suchi Sastri, parte de uma equipe cuja pesquisa estimou que a escassez de cuidadores no país, somada ao envelhecimento da população, custará aos EUA US$ 290 bilhões por ano a partir de 2030. - Não acho que esse seja um assunto prioritário no momento, mas tem que estar na agenda dos CEOs.

Lindsay Jurist-Rosner foi cofundadora da Wellthy em 2014, depois de lutar para equilibrar uma carreira exigente em marketing com os cuidados de sua mãe, que sofria de esclerose múltipla e faleceu em 2017. Ela começou a oferecer o serviço de concierge para pessoas físicas, mas rapidamente expandiu o foco para vendê-lo a empregadores como um benefício patrocinado, o que significa que é gratuito para os funcionários.

As empresas geralmente pagam entre US$ 3 e US$ 6 por funcionário por mês. Isso lhes dá acesso à rede de especialistas em cuidados da Wellthy - muitos deles assistentes sociais experientes - que estão disponíveis 24 horas por dia.

- As pessoas nos procuram em momentos de crise. Você tem poucos momentos em sua vida como esse, por isso temos que oferecer um atendimento extraordinário - afirmou Lindsay.

Christopher Cowan, diretor de recursos humanos da ChristianaCare, uma rede de assistência médica com sede em Delaware que emprega 13.700 pessoas, deu uma chance à Wellthy em agosto passado. Embora Cowan tenha afirmado que "não é barato", disse que o investimento se pagará se o ajudar a manter 11 enfermeiras ou três executivos que, de outra forma, poderiam ter deixado a empresa devido a tarefas de cuidado com familiares.

Joseph Fuller, professor da Harvard Business School, que estudou o efeito da prestação de cuidados na força de trabalho e aconselhou Lindsay quando ela estava lançando a Wellthy, disse que essas obrigações são o principal fator de rotatividade de funcionários:

- Não é preciso muita utilização para justificar a cobertura.

Além de cuidar de idosos, a Wellthy também oferece ajuda para crianças pequenas, adolescentes e para os próprios funcionários.

Laura Fuentes, chefe de recursos humanos da Hilton, disse que a Wellthy economizou 20 mil horas de seus 49 mil funcionários nos EUA em menos de um ano, o que a convenceu a expandi-lo para os funcionários da empresa no Reino Unido e na Irlanda.

Kamy Scarlett, vice-presidente executiva sênior de recursos humanos, assuntos corporativos e Canadá da Best Buy, disse que a Wellthy economizou cerca de 60 mil horas para seus 90 mil funcionários nos últimos dois anos e tem um dos mais altos índices de satisfação entre todos os benefícios para os funcionários.

- Passei por isso anos atrás e, se eu tivesse a Wellthy naquela época, teria tomado decisões diferentes - admite Kamy.

Para os trabalhadores que não têm acesso a benefícios de assistência a idosos, especialmente aqueles que ainda têm filhos morando com eles, equilibrar trabalho e família pode ser uma tarefa árdua. Kelly Mann, de 50 anos, ocupa um cargo corporativo de alto nível, ajudando as empresas a mapear o trabalho híbrido. Ela tem uma filha adolescente com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e pais idosos que enfrentam sérios problemas de saúde.

Recentemente, sua mãe de 79 anos foi levada às pressas para o hospital com diverticulite, e uma ressonância magnética de acompanhamento constatou um sangramento cerebral, exigindo uma consulta neurológica. A internação em uma clínica de reabilitação foi inicialmente rejeitada pela operadora do seguro-saúde da mãe, o que obrigou Kelly a passar cinco horas ao telefone para recorrer da decisão. Em seguida, sua mãe teve um derrame, o que a levou de volta ao hospital.

Na mesma época, seu pai, de 85 anos, foi diagnosticado com demência em estágio intermediário, exigindo um auxiliar de saúde domiciliar durante o dia. O marido de Kelly, que trabalha com imóveis residenciais, ajuda, mas ela diz que fazer malabarismo com tudo é um fardo.

- Tenho um tempo livre ilimitado. Se não fosse isso, estava ferrada.

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