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Por e — Rio de Janeiro

Os iguais se atraem? ‘Veggly matches’ e ‘chamegos’ mostram que sim. Esses são os nomes dados às interações em novos aplicativos de namoro que seguem a tendência de focar em grupos específicos. Com a promessa de afinidade máxima no flerte virtual, startups investem em apps de relacionamento em nichos que vão de universitários e cristãos a maduros, negros e LGBTs.

As empresas perceberam que, na tentativa de não perder tempo com encontros com gente sem pontos em comum, os usuários de aplicativos de relacionamentos gostam dos filtros que refinam suas buscas. As plataformas viram nisso uma forma de conquistar assinantes para seus planos pagos e aumentar o faturamento.

Danielle Kindi, servidora pública de 41 anos, resolveu baixar e assinar o Veggly — aplicativo de relacionamento para vegetarianos e veganos — em maio de 2020. Não demorou para que ela, vegana desde 2009, e Fábio Batista, adestrador de cães de 42 anos, dessem match e marcassem um encontro. Juntos há três anos, já têm uma filha, que criam com dieta livre de carnes, claro. Para Danielle, o app foi decisivo na história de amor deles:

— Eu já tinha me relacionado com uma pessoa de aplicativo antes, já tinha ido a encontros. Mas o que me motivou mais com relação ao Veggly foi que, mesmo que as pessoas achem que é mais uma questão alimentar, ser vegano ou vegetariano é toda uma filosofia de vida.

Ovolactovegetariano (não come carne, mas segue dieta que permite consumo de produtos de origem animal, como ovos e laticínios) desde 2010, Fábio nunca tinha usado apps de relacionamento antes de ver esse tão nichado.

— Quando a pessoa não entende o que é o vegetarianismo, acaba zombando ou colocando a gente em situações desconfortáveis, como jantar num restaurante que não tem opção sem carne. Com uma pessoa que também pensa nessa alimentação, quase tudo fica mais fácil — diz.

Lançado em 2019 inicialmente no Reino Unido e depois nos EUA e no Brasil, o Veggly é um dos dois apps da Similar Souls, startup brasileira criada pelo engenheiro de computação Alex Felipelli, de 44 anos, para lançar plataformas para grupos específicos.

O Veggly já conta com 1,1 milhão de usuários e se diz líder mundial em dates de veganos e vegetarianos. Da receita, 90% vêm principalmente das assinaturas pagas pelos usuários e da venda de moedas digitais na plataforma, que permitem, por exemplo, dar mais curtidas. A empresa não fornece cifras, diz que o app chegou neste ano ao equilíbrio das contas, mas ainda sem lucro.

‘Date’ progressista

O outro aplicativo da startup, o Lefty, é voltado para pessoas com posicionamento político à esquerda. O foco é naquele usuário que não quer correr o risco de descobrir só na mesa do bar que o pretendente é militante de direita. Começou no Brasil em agosto de 2022, no auge da polarização da campanha presidencial. Como divisão ideológica não ocorre só no Brasil, a empresa quer tornar a plataforma global em 2024. E tem levado os dois apps a rodadas com investidores, em busca de recursos.

— Acreditamos que as pessoas têm preferência por um relacionamento com alguém da mesma comunidade. No caso do Lefty, a gente reparou que em muitos perfis nos apps (convencionais) as pessoas colocam o posicionamento político, por isso pensamos que seria um bom segundo nicho para trabalhar — diz Felipelli.

Michel Alcoforado, pesquisador de antropologia do consumo, atribui o crescimento dos apps nichados à tendência de digitalização dos afetos, com os algoritmos no papel de cupido digital. Eles permitem restringir o contato a pessoas que fazem parte de contextos que esperam reproduzir suas visões de mundo, observa:

— O grande problema disso é que a gente tem um acirramento das práticas narcísicas no amor. Os apps têm esse papel de botar o consumidor em contato com gente que ele quer, o que está muito atrelado a essa nossa dificuldade de lidar com o diferente, com o que não cabe na nossa fantasia.

No entanto, o pesquisador chama atenção para aplicativos específicos para a comunidade negra, que surgem justamente para combater o racismo na sociedade e que se reproduz no meio digital, gerando níveis mais altos de rejeição a pessoas pretas ou a hipersexualização de seus corpos nos apps convencionais.

— Se uma pessoa negra tomava um toco em uma festa de brancos, agora nos aplicativos ela pode não conseguir fazer match. Então apps exclusivos para a comunidade negra surgem para valorizar sua beleza e autoestima, o que eu acredito que tenha o mesmo papel dos bailes black nos anos 80 e 70, de permitir vínculos e debates fundamentais.

Foi com esse objetivo que surgiu o Denga Love. “Amor negro, carinho e chamego” é o que promete o app em sua primeira tela. Criado em outubro de 2022, a ideia surgiu quando Fillipe Dornellas, de 31 anos decidiu largar o emprego e investir todas as suas economias — cerca de 100 mil reais — no empreendimento.

— É uma empresa de pessoas negras que começaram do zero. E tem um papel de impacto social, porque oferece um serviço para a comunidade negra e emprega exclusivamente pessoas pretas, gerando renda para uma dezena de famílias. Em um país em que a maior parte da população é condicionada a um empreendedorismo de sobrevivência, de pretos e pobres que não se encaixam no mercado de trabalho e vão fazendo qualquer coisa pra conseguir existir, a gente conseguiu em menos de um ano ter um faturamento super expressivo — destaca Roger Cipó, cofundador do Denga.

Rebeca Barcellos e Jhon Francis se conheceram em um aplicativo para pessoas negras no final do ano passado, — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Rebeca Barcellos e Jhon Francis se conheceram em um aplicativo para pessoas negras no final do ano passado, — Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

O app tem 112 mil usuários (cerca de 15% pagantes), usa o critério racial de autodeclaração e já é autossustentável, mas tem buscado investidores para crescer. No Denga, que se vale de elementos da cultura afro-brasileira para se diferenciar, em vez de um match, quando o interesse é mútuo os usuários “dão chamego”. Foi o caso de Rebeca Fernandes, 27 anos, e Jhon Francis, 25. Ela chegou ao app por indicação de amigo, após experiências ruins em outras plataformas.

— É muito difícil você conhecer pessoas negras em outros aplicativos. E eu passei por coisas absurdas em relacionamentos com pessoas brancas. Aí um amigo comentou sobre o Denga e eu resolvi testar. Passou um tempinho e eu já dei match com o Jhon. Desde o primeiro dia em que nos encontramos, a gente nunca mais se largou.

Investidores seduzidos

Há uma série de outros nichos explorados em plataformas digitais de namoro, como redes de paquera entre evangélicos ou com idade acima de 50 anos. Entre os mais jovens, a Umatch, lançado em setembro de 2020, promove uma rede de relacionamentos de universitários. Bruno Adami, empreendedor de 26 anos, conta que a ideia surgiu a partir de conversas com amigos na faculdade, que percebiam o interesse de conhecer pessoas com objetivos parecidos.

— É uma rede para a galera de faculdade, que se identifica por estar vivendo essa fase, que é uma transição da adolescência para a vida adulta, um momento de conhecer pessoas da sua idade, sair, ir para as festas universitárias, se descobrir — define Adami, CEO da empresa, que tem como principal fonte de receita planos pagos.

O app já conta com mais de meio milhão de usuários e tem a pretensão de se internacionalizar. Foi lançado recentemente na Califórnia, berço das big techs nos EUA. Nele, é possível filtrar por universidade e até por curso e participar de dinâmicas como questionários relacionados à faculdade e conferir eventos previstos para já chegar lá com um match com quem também vai.

— Você só consegue entrar se comprovar que é universitário, então é uma rede muito mais segura. Das nossas usuárias, 65% só usam a Umatch. Elas não estavam se identificando com outros aplicativos — diz Adami, que já conseguiu pequenos aportes no negócio e agora está em busca de grandes investidores para escalar.

Os aplicativos de namoro não atraem apenas os que buscam uma cara-metade. Entraram no radar dos investidores, que vislumbram nesse setor um grande potencial de rendimentos. Levantamento recente da consultoria de varejo CVA Solutions, com base em dados do Statista, aponta que esse mercado deve alcançar US$ 11 bilhões (R$ 55 bilhões) no mundo em 2028.

Sandro Cimatti, sócio-fundador da consultoria, explica que as oportunidades vêm do diagnóstico de que as plataformas podem dobrar receitas com melhorias na tecnologia para incluir mais filtros e ferramentas de interação, estimulando mais pagantes. Hoje, são cerca de 25%. No Brasil, 18 milhões usam esse tipo de serviço, sendo 4,4 milhões assinantes de planos pagos.

Tinder é cobiçado

Recentemente, o banco JP Morgan sinalizou para investidores nos EUA que era hora de deslizar para a direita (movimento nos apps para indicar interesse em alguém) e cortejar o setor. Num relatório, previu forte crescimento do Grupo Match, dono do Tinder, o mais conhecido app do gênero, com cerca de 50% do mercado global.

O grupo, que tem 15,6 milhões de pagantes no mundo, lançou em setembro nos EUA uma assinatura chamada Tinder Select, que custa US$ 499 (R$ 2.500) por mês. O plano, oferecido a 1% dos clientes, permite buscar pessoas e enviar mensagens diretamente, mesmo sem ter dado match antes.

A novidade parece inspirada no The League, exclusivo para “solteiros ambiciosos”, que só entram no app com convite. Foi adquirido em 2022 pelo Match. Para garantir troca de likes só com pessoas bem-sucedidas, paga-se US$ 1 mil (R$ 5 mil) por semana, segundo a Bloomberg.

— Os novos consumidores são a geração Z, entre 15 e 20 anos. Cresceram num mundo com redes sociais, não sabem como era antes do WhatsApp, do Uber. Para relacionamentos, vai ser a mesma coisa — diz Joshua Montenegro, assessor de investimentos da Ável.

*Estagiária sob supervisão de Alexandre Rodrigues

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