Economia
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As ações do Magazine Luiza (MGLU3) chegaram a cair 10% na Bolsa na terça-feira, depois de a empresa informar, na noite de segunda-feira, ter descoberto um erro contábil cuja correção reduziu em R$ 830 milhões seu patrimônio líquido. Os papéis, no entanto, se recuperaram no fim do dia, fechando com ganho de 1,73%, a R$ 1,76.

Foram impulsionados pelo bom desempenho generalizado das ações — o Ibovespa fechou no maior nível desde agosto de 2021 — e pela percepção de que os problemas da varejista são diferentes do caso da Americanas.

A reação inicial dos investidores refletiu uma combinação de crise no varejo, endividamento elevado e a lembrança da fraude de R$ 20 bilhões da Americanas. Também houve rumores de que o Magalu poderia fazer uma oferta de ações, aumentando o capital. Isso tende a afugentar investidores, porque dilui a participação dos acionistas atuais.

Em teleconferência sobre os resultados do terceiro trimestre, a diretoria da empresa negou a possibilidade da oferta.

A virada para o positivo no fim do dia surpreendeu, comentou João Frota, estrategista de renda variável da Senso Corretora. Em sua visão, a alta seguiu o ganho do Ibovespa em um dia muito positivo:

— Como o papel estava muito depreciado, ou seja, com valor muito barato, acabou subindo, assim como outras varejistas.

Ações Magalu — Foto: Criação O Globo
Ações Magalu — Foto: Criação O Globo

Além do bom desempenho do mercado, a recuperação foi marcada pela possibilidade de uma capitalização bancada apenas pelos controladores, a família Trajano, conforme revelado pelo site Pipeline, do Valor, e confirmado pelo GLOBO.

Uma fonte a par da situação do Magalu, que preferiu não se identificar, informou que um aporte de R$ 2 bilhões é uma opção na mesa, mas que ainda não foi levada ao Conselho de Administração. Essa injeção poderia acontecer até o fim do ano.

Segundo a fonte, além de dar fôlego financeiro à empresa, o aporte teria a função de sinalizar ao mercado que o erro contábil foi pontual, distanciando a empresa do caso Americanas, em que os controladores de referência foram acusados de saber das fraudes.

O anúncio do Magalu sobre o erro contábil veio minutos antes da divulgação dos resultados do terceiro trimestre — com lucro de R$ 333,2 milhões, ante um prejuízo de R$ 190,9 em igual período do ano passado. Segundo a empresa, o problema estava em “incorreções” na forma como eram lançadas no balanço financeiro as “bonificações” nas transações com fornecedores.

Os contratos de bonificação e descontos entre varejistas e seus fornecedores são recorrentes no mercado, segundo Ana Paula Tozzi, à frente da AGR Consultores, especializada em varejo. Nesses contratos, é possível negociar a redução de preço de mercadorias ou o envio de unidades adicionais.

— O número de modelos de negociação comercial é muito grande. Pode variar de categoria para categoria com um mesmo fornecedor. Porém, isso precisa ser muito regulado contabilmente para evitar espaço para erro — alertou Ana Paula.

Denúncia anônima

O erro no balanço do Magalu foi identificado por uma apuração conduzida pelo Comitê de Auditoria, Riscos e Compliance da empresa, com o auxílio externo da consultoria PwC e do escritório TozziniFreire Advogados. A apuração partiu de uma denúncia anônima, apresentada em março, levantando suspeitas de práticas contábeis irregulares envolvendo a bonificação de fornecedores.

Naquele mesmo mês, o Magalu comunicou a denúncia ao mercado. Segundo a companhia, a apuração concluiu que as práticas irregulares não se confirmaram, mas foram identificadas “incorreções em lançamentos contábeis”. A correção desses lançamentos resultou na redução de R$ 830 milhões no patrimônio, sem impacto no fluxo de caixa, explicou a companhia.

Segundo Eduardo Viana, sócio da autoria externa Russell Bedford Brasil, o caso do Magalu é diferente da fraude da Americanas. Ainda assim, levanta questionamentos.

— Contratos comerciais, como os de bonificação, fechados com fornecedores têm de estar bem amarrados, seguindo controles internos. É uma exigência da B3 para empresas listadas ter a matriz de riscos e auditoria interna. Os erros divulgados indicam que a matriz de risco da companhia foi furada, não funcionou — destacou Viana, completando que, mesmo sem fraude, o caso traz consequências negativas para a companhia.

Para Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, não é um erro comum, mas o Magalu merece crédito porque apurou a denúncia anônima logo:

— A companhia reconhecia no resultado receita de bônus comerciais antes do efetivo cumprimento das metas estabelecidas, inflando assim o lucro (e, consequentemente, o patrimônio líquido).

Crise no varejo

O erro contábil ocorre em um quadro de crise para o varejo, setor que vem registrando perdas desde ao menos meados de 2022, por causa do cenário macroeconômico, conforme relatório da Genial Investimentos. Entre os problemas estão o “elevado nível de inadimplência das famílias combinado ao alto nível de taxa de juro e ao menor apetite de concessão de crédito pelas financeiras.”

Ferrer lembrou que as lojas físicas, que eram conhecidas como o motor de rentabilidade do Magalu, perderam o ímpeto depois da pandemia. Isso aconteceu pela restrição de renda e também pelo menor fluxo de clientes. Atualmente, disse o analista, a companhia tem caixa líquido. Por outro lado, uma parcela relevante — de R$ 3 bilhões — da dívida da empresa vence no ano que vem.

— A situação da companhia é difícil, mas bem menos frágil do que Americanas e Casas Bahia — disse Ferrer.

Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos, avalia que o Magalu deverá conseguir rolar essa parcela da dívida, com prazos mais extensos, mas juros mais altos.

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