Em meio à crise provocada pelo afundamento de solo em uma grande área de Maceió relacionada à sua atividade mineral na capital alagoana, a Braskem teve hoje o grau de investimento retirado pela Fitch Ratings. Trata-se de mais uma grande agência de classificação de risco financeiro a rebaixar o status da companhia, cuja atividade é apontada como a causa do desastre ambiental.
A maior petroquímica da América Latina teve sua nota de crédito rebaixada para a categoria conhecida no mercado como junk, algo como “lixo” no jargão dos operadores. Isso significa que a empresa é considerada de alto risco quanto a honrar seus compromissos financeiros.
A Fitch reclassificou hoje a Braskem para a nota BB+, citando aumento de riscos ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). A classificação ainda põe a empresa sob viés negativo.
O movimento da Fitch segue um similar da Moody´s, que também rebaixou a Braskem. A companhia, que viu seus títulos de dívida perderem valor no mercado nos últimos dias, cancelou na semana passada seu pedido de avaliação da Moody’s para cortar custos, mas a agência disse que manteria a análise mesmo sem ser solicitada.
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A Braskem era uma das cinco empresas brasileiras rankeadas com o chamado grau de investimento (o que significa baixo risco financeiro), de acordo com dados da Bloomberg. A empresa declarou mais de US$ 10 bilhões de dívidas de longo prazo no fim do terceiro trimestre deste ano.
É o mais recente golpe recebido pela companhia, que aumenta a pressão sobre a empresa e atrapalha ainda mais o seu processo de venda de controle, do qual já se afastaram pretendentes. A empresa ainda é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a ser criada no Congresso.
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A companhia enfrenta uma ação judicial da ordem de R$ 1 bilhão de procuradores alagoanos para reparar os danos causados pelo colapso parcial de minas de extração de sal em suas instalações em Maceió, onde atuou por cinco décadas.
A Fitch, em seu relatório, justificou o rebaixamento citando que impactos ambientais “podem possívelmente poluir paisagens próximas, a lagoa e o solo”, elevando a exposição da Braskem a impactos sociais enquanto é necessário realocar residentes.
Fora do índice de sustentabilidade da B3
No início do mês, as ações da empresa foram retiradas do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de São Paulo, a B3.
A B3 informou em comunicado que a participação da Braskem no ISE será redistribuída proporcionalmente às demais ações integrantes da carteira. A Bolsa iniciou no início de dezembro o chamamdo plano de resposta a eventos ESG relacionados ao índice em função da situação de emergência decretada pela prefeitura de Maceió.
A decisão de excluir a companhia do ISE considerou os quatro pilares divulgados no plano: o impacto ESG da crise, gestão da crise pela companhia, impacto de imagem da crise na companhia e resposta da companhia à crise.