A administração da distribuidora de eletricidade Light, que fornece energia no Rio e está em processo de recuperação judicial, vem apresentando a seus credores, nas últimas semanas, uma nova versão do plano para reestruturar sua dívida bilionária, segundo uma fonte que acompanha as negociações e pediu anonimato.
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Pela nova proposta, credores que aceitarem converter 40% do valor da dívida em ações receberão os 60% restantes em oito anos, corrigidos pelo IPCA mais 4% ao ano. Quem não aceitar a conversão, terá a dívida renegociada para pagamento em 15 anos, corrigida pelo IPCA mais 2% ao ano.
Em crise financeira, o grupo Light pediu recuperação judicial em maio. Em julho, apresentou o plano de reestruturação à 3ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).
Assembleia está marcada para março
A apresentação do plano é uma etapa do processo de recuperação, como define a lei. Uma vez apresentada ao Judiciário, a estratégia para equilibrar as contas da empresa precisa ser aprovada pelos credores, numa votação em assembleia. Em novembro, a Light informou ao TJRJ que marcou essa assembleia para 21 de março de 2024.
Os credores vão avaliar o plano de recuperação, além das condições para a renegociação da dívida. A companhia depende de um acordo para conseguir renovar suas concessões, que vencem em 2026, junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A proximidade do fim das concessões foi um dos estopins da crise financeira – a Light começou a encontrar dificuldade em obter novos financiamentos, já que investidores viam isso como uma fonte de incerteza para as receitas futuras da distribuidora.
Concessão perto do fim
Um pedido de renovação antecipada já foi apresentado à Aneel, que tem até o fim de 2024 para responder. Questionada nesta quarta-feira, a agência informou apenas que “o processo de recuperação judicial da Light segue em âmbito judicial, do qual a Aneel não é parte”. “No que diz respeito à Agência, informamos que a Light está em dia com suas obrigações setoriais”, diz uma nota encaminhada pela Aneel.
Para a pessoa ouvida pelo GLOBO, que acompanha as negociações pelo lado de investidores que têm títulos de dívida – também chamados de "debêntures", daí porque esses credores são classificados como “debenturistas” – da empresa, o novo plano não será aprovado em março.
A Light tem 40 mil debenturistas, mas em torno de 25 mil deles detêm títulos no valor de até R$ 10 mil. Conforme o plano de julho, os investidores pessoas físicas desses títulos seriam pagos integralmente em 30 dias.
Votação será ponderada por valor da dívida
Só que a votação na assembleia de março se dá de forma ponderada, levando em conta o valor detido por cada credor. Logo após a apresentação do plano de reestruturação, em julho, um grupo de credores que detém em torno de R$ 5 bilhões da dívida total de R$ 11 bilhões da dívida incluída no processo divulgou uma nota pública com críticas à proposta da empresa.
Isso porque entre os debenturistas também há grandes fundos e gestores de investimentos. Como já mostrou O GLOBO, esses credores, como as gestoras como AZ Quest, BB Asset e JGP vêm travando uma queda de braço com a administração da Light desde o início da crise.
Segundo a fonte ouvida pelo GLOBO, os debenturistas dificilmente aprovarão a nova proposta porque o nível de perdas do valor que a Light deve não mudou muito em relação a primeira proposta, de julho.
O plano de julho propõe sete opções para reestruturar a dívida, incluindo trocar os créditos a receber por novas ações da empresa, e prevê um desconto de até 60% no pagamento a credores. Quanto maior o desconto, menor o prazo de pagamento.
Light não comenta o assunto
A nova proposta de reestruturação tem sido apresentada em reuniões pontuais com os credores e ainda não foi formalizada no processo. Procurada, a Light informou que não comentaria o assunto.
Em meio ao processo de recuperação judicial, a empresa também passou por mudanças na gestão. O empresário Nelson Tanure comprou ações e ampliou sua fatia. Foi eleito um novo Conselho de Administração, com nomes indicados por Tanure, que se tornou o principal acionista da companhia, ao lado de Ronaldo Cezar Coelho e Carlos Alberto Sicupira.
Até mesmo o presidente da Light será substituído. O mandato de Octávio Pereira Lopes vai até o próximo dia 31. Alexandre Nogueira, atual diretor de regulação e relações institucionais, assumirá o cargo.