Economia
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Por e , Em Globo Rural — Porto Alegre e Vinhedo

O clima hostil, que já afetou várias culturas no país, não está poupando nem o vinho nacional. A produção de uvas no Rio Grande do Sul, o maior produtor de vinho do Brasil, deve cair este ano, afetando a fabricação da bebida, e a culpa é toda das instabilidades climáticas registradas no último ano, agravadas pelo fenômeno El Niño.

“Está todo mundo desanimado”, resume Odair Molon, produtor de uvas em Flores da Cunha, na Serra Gaúcha. Em sua propriedade de 12 hectares, Molon planta 4,5 hectares com videiras. Em um ano bom, a produtividade costuma ser de 20 mil a 25 mil quilos de uvas por hectare. No entanto, em 2024, ele espera que esse volume seja 40% menor.

A causa da quebra foram os problemas climáticos enfrentados em 2023. Primeiro, um inverno com pouco frio, incluindo um calor fora de época em julho que alterou a floração das videiras. Em agosto, uma geada prejudicou os brotos. Mas o pior foram as chuvas excessivas entre setembro e novembro. Em três meses, a precipitação foi igual à média histórica do ano inteiro.

Uvas da propriedade de Odair Molon em Flores da Cunha (RS). O agricultor teve perdas de 40% na produção devido às doenças nos cachos de uvas causadas pelo excesso de chuvas no município — Foto: Arquivo pessoal/ Odair Molon
Uvas da propriedade de Odair Molon em Flores da Cunha (RS). O agricultor teve perdas de 40% na produção devido às doenças nos cachos de uvas causadas pelo excesso de chuvas no município — Foto: Arquivo pessoal/ Odair Molon

“Com muita chuva na floração e poucos períodos de sol direto, houve muito abortamento de flores e bagas, especialmente nas variedades Isabel e Bordô, que são as duas mais cultivadas. Além disso, a chuva prejudicou os tratamentos fitossanitários”, explica Ênio Todeschini, engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS).

O excesso de umidade gerou o ambiente ideal para a expansão do míldio, um fungo que ataca folhas, ramos e, em alguns casos, os cachos e bagas da uva. Com isso, menos frutas estão se formando com condições para serem colhidas.

“Se as chuvas continuarem fortes durante a época da colheita, com poucos períodos de sol, temos risco de podridão na maturação da uva, prejudicando ainda mais a produção”, diz Todeschini.

Parreiral de Giseli Boldrin Rossi em Nova Pádua (RS), que perdeu 60% de sua produção devido a uma chuva de granizo em novembro. Os cachos de uvas ainda apresentam marcas dos estragos causados pelo granizo — Foto: Gisele Boldrin Rossi/Arquivo Pessoal
Parreiral de Giseli Boldrin Rossi em Nova Pádua (RS), que perdeu 60% de sua produção devido a uma chuva de granizo em novembro. Os cachos de uvas ainda apresentam marcas dos estragos causados pelo granizo — Foto: Gisele Boldrin Rossi/Arquivo Pessoal

Em Nova Pádua, a produtora Giseli Boldrin Rossi enfrentou um problema adicional: o granizo. No dia 17 de novembro, uma tempestade de granizo destruiu de 60% a 70% dos 12 hectares de videiras da família. Em todo o município, 45% dos 1,5 mil hectares ocupados com uvas foram devastados.

“Se somar os problemas causados pelos fungos, então a perda em Nova Pádua vai passar de 50%”, afirma Giseli, que também é presidente da Câmara de Vereadores do município.

Menos vinho

Em 2023, os produtores de uvas gaúchos colheram 665 milhões de quilos de uva, segundo a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra). Desse volume, foram fabricados 455 milhões de litros de bebidas, entre vinhos, espumantes, sucos e derivados. No entanto, para este ano, o setor projeta uma redução de colheita entre 30% e 40%.

“Com a quebra de safra, as indústrias já se prepararam para uma produção menor de vinhos e espumantes”, afirma Daniel Panizzi, presidente da Uvibra.

A cooperativa Aurora, com sede em Bento Gonçalves, já iniciou o recebimento da safra 2024 com a projeção de alcançar 63 milhões de quilos de uva até março, oriundos de seus 1.100 produtores cooperados. Segundo a empresa, o volume deverá ficar 2,5% abaixo da média dos últimos 10 anos. Na comparação com a vindima de 2023, a redução é de 10,6%.

Na última década, a média anual de volume foi 64,4 milhões de quilos, sendo que a maior safra registrada foi em 2021 (90 milhões) e o menor volume em 2016 (33,6 milhões) - esta última foi outra safra realizada em um ano marcado pelo El Niño.

“Anos de El Niño são sempre um desafio. Mas, sabendo da previsão do fenômeno, nossa equipe técnica buscou fazer ações com associados para buscar evitar perdas e para trazer o volume e a qualidade que a cooperativa precisa”, afirma o gerente Agrícola da Cooperativa Vinícola Aurora, Maurício Bonafé.

A Cooperativa Nova Aliança, com unidades em Flores da Cunha, Farroupilha e Santana do Livramento, prevê uma quebra de 30% da colheita em razão das constantes e intensas chuvas. A vinícola espera processar neste ano 35 milhões de quilos de uva.

“É um contraste grande com as quatro últimas safras, que foram acima da média”, comenta Heleno Fachin, diretor superintendente da Nova Aliança.

Mais custos

Além dos parreirais, outro local que está sofrendo ataques dos efeitos do clima é o bolso dos produtores. O excesso de umidade força os viticultores a fazer mais aplicações de defensivos nas videiras, aumentando seus gastos .

“Eu tratava de manhã, mas chovia de tarde e tinha que ir no outro dia tratar de novo. Tive que passar no mínimo o dobro de fungicida que usei no ano passado, e ainda assim não foi suficiente para salvar toda a produção”, lembra Odair Molon.

Em Nova Pádua, Giseli Boldrin Rossi conseguiu evitar a proliferação do míldio nas uvas que restaram após a chuva de granizo. No entanto, o sucesso veio com custo alto.

Os cachos de uvas ainda apresentam marcas dos estragos causados pelo granizo em novembro no parreiral de Giseli Boldrin, no RS — Foto: Giseli Boldrin/Arquivo pessoal
Os cachos de uvas ainda apresentam marcas dos estragos causados pelo granizo em novembro no parreiral de Giseli Boldrin, no RS — Foto: Giseli Boldrin/Arquivo pessoal

“Tive que investir bastante. A média seria um tratamento a cada oito dias, com produtos mais simples e baratos, em torno de R$ 40 a R$ 50 o quilo. Mas neste ano chegamos a fazer dois tratamentos por semana, com fungicidas sistêmicos, que custam até R$ 150 o quilo”, comenta a produtora.

Esses custos mais elevados de produção podem ser repassados pelas vinícolas ao consumidor, reconhece o presidente da Uvibra. Mas o consumidor pode demorar um tempo até adquirir as bebidas produzidas neste ano, uma vez que vinhos e espumantes finos têm um tempo de guarda prolongado até que sejam comercializados.

“Meu espumante que vai mais rápido para o mercado leva dois anos para ficar pronto. Dessa forma, o impacto da safra de 2024 só será sentido em 2026”, diz Panizzi, que é diretor da vinícola Don Giovanni, de Pinto Bandeira.

Preço e qualidade da uva

Ao mesmo tempo que o produtor está gastando mais para salvar suas uvas, ele será menos remunerado neste ano. Um dos motivos é, novamente, o clima. Além da produção menor, a falta de dias ensolarados reduz a quantidade de açúcar na fruta, um dos fatores que influencia no preço pago.

O teor alcóolico dos vinhos varia entre 10% e 14% em volume, sendo necessário, para isso, processar uvas com teor de açúcares entre 15 e 20 graus glucométricos (unidade que representa a quantidade de açúcar, em peso, existente em 100 gramas do caldo da uva).

Em dezembro, o governo federal estabeleceu para a safra 2023/24 o preço mínimo básico de R$ 1,50/kg da uva industrial com 15 graus glucométricos.

“Se tiver pouca insolação nas semanas antes da colheita, dificilmente a uva vai chegar a 15 graus. Então o produtor vai receber ainda menos”, lamenta Giseli Boldrin Rossi.

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