Economia
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O lançamento do edital do Concurso Nacional Unificado (CNU) a quatro meses da prova levou os cursinhos a uma corrida frenética para contratar professores para novas disciplinas e adaptar material didático para os candidatos. Não haverá uma prova de Língua Portuguesa e conteúdos sobre Ética e Diversidade serão incluídos.

As salas de aula já começam a encher com o aumento da procura, mas muita gente prefere lançar mão da tecnologia para acompanhar o conteúdo à distância e acelerar o passo na preparação para o que tem sido chamado de “Enem dos Concursos”. A demanda pode ser medida pelo número de inscritos. Com apenas um dia e meio, já havia mais de 200 mil candidatos.

Coordenadores e professores se surpreenderam com os conteúdos que serão cobrados dos candidatos. Embora Língua Portuguesa não vá ter prova específica, o conhecimento do candidato será medido por sua aplicação prática, com respostas discursivas (nível superior) ou na prova de Redação (ensino médio). Além disso, entraram áreas anteriormente não contempladas, como Diversidade, Integridade e Ética.

Para adaptar o que é oferecido aos alunos, coordenadores de cursinhos contam que tiveram de virar noites traçando estratégias, além de contratar professores e mudar a grade de horários para abrir espaço para novas turmas. Apostilas foram iniciadas do zero, em alguns casos com a intervenção de professores de quatro disciplinas diferentes.

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Diones Martins, coordenador do curso Zerohum, conta que a maior dificuldade foi encontrar docentes que entendessem ao mesmo tempo de História, Geografia e Direitos Humanos para ministrar aulas sobre os novos assuntos.

A ideia de oferecer aulas on-line foi descartada por falta de tempo hábil para gravar e editar vídeos. Mesmo assim, a instituição teve aumento de 60% na busca em suas três unidades, em Niterói, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, no Grande Rio.

— A maior procura por aulas presenciais é de pessoas interessadas nas funções de nível médio. Ficamos madrugadas pensando num novo modelo... Português, que costumava ser o foco, por ser o critério de desempate em muitos concursos, não veio, enquanto matérias novas entraram — diz Martins, que vê diferentes perfis de candidatos no cursinho.

Nathália Carvalho, de 33 anos, de Mongaguá (SP), também tem virado madrugadas. Dedica o dia à casa e ao filho de 1 ano enquanto o marido trabalha fora. À noite, com a casa silenciosa, estuda para o CNU.

— É um sacrifício que estou fazendo para alcançar um objetivo. Não tem um dia que eu passe sem ler ao menos uma página do conteúdo ou assistir aulas on-line— ela diz.

‘Vida de concurseira’

Incentivada pela mãe, que é concursada da Prefeitura de São Paulo, Nathália começou a pensar no serviço público quando o filho nasceu. Vê a chance de mais estabilidade e qualidade de vida. Antes de se dedicar ao trabalho doméstico, atuava em longas jornadas no comércio, com escalas inclusive nos fins de semana.

Após cinco anos no Exército, Flávio Henrique da Silva, de 26 anos, começou a atuar como segurança num banco no Rio. Mas a renda de pouco mais de um salário mínimo não é suficiente para o sonho de dar uma casa própria à mãe, que o criou sozinha.

— Já fiz um concurso do IBGE, mas não fui chamado. Vou mirar no bloco que tem exigência de ensino médio, também com foco no IBGE. Meu objetivo é um salário inicial de R$ 6 mil. Depois que passar, pretendo fazer faculdade para focar em concursos de salários mais altos — planeja.

Julia Goncalves, aluna do curso preparatório Degrau, no Centro do Rio — Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Julia Goncalves, aluna do curso preparatório Degrau, no Centro do Rio — Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Júlia Gonçalves, de 22 anos, passa o dia, das 8h às 21h, de segunda à sexta, em um curso preparatório no Centro do Rio. Mergulhou na “vida de concurseira”, como define, em 2020, quando viu o anúncio de uma prova e decidiu tentar. Desde então, fez mais quatro exames.

Foi aprovada no concurso do Tribunal de Justiça do Rio para um cargo de nível médio, mas está no cadastro de reserva. Chegou a se matricular num curso on-line de Administração Pública. A dedicação só é possível com o apoio financeiro dos pais, embora ela venda doces no intervalo das aulas para ter algum extra.

— Não vou desistir até passar. No início, a gente fica megaempolgada, e acha que vai passar logo, até que a primeira prova te derruba. Você pensa que não é bom o suficiente, pensa em desistir. Por isso, ter apoio da família e dos amigos e cuidar da saúde mental é muito importante — diz Júlia, otimista com a leva de concursos.

O investimento mensal de cada concurseiro num curso pode chegar a R$ 3.500, dependendo do nível da prova, com aulas de segunda a sexta em turno único ou no fim de semana, em tempo integral.

On-line é mais barato

Para alcançar mais alunos, inclusive em outras cidades, o curso Degrau, por exemplo, investe em aulas ao vivo pela internet. Essa modalidade é uma vantagem para o concurseiro de hoje, porque, além de acessar aulas ministradas em qualquer lugar, o preço é mais acessível.

Com aulas exclusivamente on-line, o Direção Concursos tem um pacote para o CNU com transmissões ao vivo que pode ser parcelado em 12 vezes de 29,90, por exemplo. A instituição precisou contratar dez novos professores. Há ainda uma ampla oferta de aulas gratuitas em vídeos na internet, facilitando a vida de quem não tem muito para investir no sonho.

— Estamos vendo um público bem diversificado pela característica do concurso — diz Erick Alves, professor do Direção Concursos e do Emaudio Concursos. — Os concurseiros experientes estão atraídos pelos bons cargos, que pagam de R$ 15 mil a R$ 20 mil iniciais, e os mais novos, pelo bloco de nível médio, como cargos do IBGE e Funai, que pagam de R$ 6 mil a R$ 7 mil iniciais. Além disso, há vagas para formações específicas, como diplomas na área de saúde ou de engenheiro agrônomo.

Alta procura

No Rio, Victor Tanaka, representante do Estratégia Concursos, diz que as matrículas mais que dobraram desde o lançamento do edital do CNU, em 10 de janeiro, mas a maior parte dos novos candidatos ainda está confusa sobre o conteúdo e a estrutura da prova. Gabriel Granjeiro, fundador do Gran Cursos, diz que houve alta de 50% na procura de novos alunos neste mês, em comparação com janeiro de 2023:

— Como é um concurso que nunca tinha saído antes, a gente não tinha uma referência. Estamos virando noites produzindo material.

Ferramenta do GLOBO mostra cidades em que a prova será realizada. Caso não consiga visualizar, clique aqui.

Com o prazo apertado, Victor Dalton, fundador do Direção Concursos, vê uma nova função para os professores para o CNU: sai a simples transmissão de conteúdo e entra a capacidade de fazer o candidato entrar na nova “mentalidade de concurso”.

— Com apenas quatro meses até a prova, estamos lutando para mostrar aos candidatos que devem viver para esse concurso se quiserem passar. E estudar muito. Como produtores de conteúdo, temos muito pouco tempo para entregar a essas pessoas o que precisam.

Nos últimos anos, o mercado de cursos para concursos andava desaquecido, já que os últimos governos não tinham essa prioridade. Paulo Presse, coordenador de Estudos de Mercado da Hoper Consultoria, lembra que várias empresas do ramo migraram para cursos de outros tipos, como preparatórios para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ele avalia que, agora, os cursinhos devem ganhar nova musculatura, mas num modelo diferente. A tecnologia será decisiva para ampliar o alcance, mas permitirá a entrada de novos competidores.

— Se a demanda (de concursos) for fomentada neste novo governo, é possível vermos a entrada de novos players nesta área, ainda mais porque a tecnologia permite a uma empresa de uma região atingir alunos do Brasil todo com aulas on-line — diz o consultor.

Na semana passada, a ministra da Gestão e da Inovação, Esther Dweck, confirmou que o governo quer tornar o CNU uma seleção recorrente, realizada a cada dois anos, com a próxima edição já em 2026.

*Estagiária sob supervisão de Janaina Lage

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