O mercado formal de trabalho fechou o ano passado com a criação de 1,483 milhão de empregos, considerando contratações menos demissões. O resultado representa queda de 27% em relação ao registrado em 2022, quando os novos postos com carteira assinada atingiram 2,037 milhões, segundo dados consolidados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho nesta terça-feira. Foi a menor geração de empregos desde 2020, no auge dos efeitos da Covid-19.
O resultado do acumulado do ano ficou abaixo da estimativa mediana de instituições financeiras, gestoras de recursos e consultorias, de abertura líquida de 1,538 milhão de vagas, segundo o Valor Data. As projeções, todas positivas, iam de 1,442 milhão a 1,643 milhão.
Em dezembro, mês tradicionalmente negativo para emprego formal devido aos desligamentos de trabalhadores temporários no fim de ano, foram fechadas 430.159 vagas com carteira assinada. No mesmo período de 2022, foram eliminados 431.011 postos, saldo negativo que sobe para 455.544, considerando ajustes, declarações prestadas por empresas fora do prazo.
Do total de empregos criados no ano passado, 255.383 se referem a contratos de trabalho atípicos, com a predominância de trabalhadores com menos de 30 horas semanais e intermitentes, modalidades criadas pela reforma trabalhista.
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que o saldo do emprego formal no primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é "razóavel" e tem relação direta com o comportamento da atividade econômica que se desacelerou no segundo semestre.
O resultado veio abaixo da previsão do ministro, que projetou a criação d de criação de 2 milhões de empregos.
— Não vamos comemorar, mas é um número razoável no primeiro ano de governo. Precisamos agora fazer uma colheita melhor — afirmou o ministro, acrescentando que, apesar do início da trajetória de queda nos juros e do programa "Desenrola", as familias ainda estão muito endividadas.
Ele evitou fazer uma nova previsão para 2024, mas destacou que a tendência é de melhoria do mercado formal de trabalho.
— Creio que a tendência neste ano é ser melhor do que no ano passado — disse o ministro, citando os projetos do governo em andamento, como a retomada de obras paralisadas.
Setor de serviços puxa geração
Segundo o Caged, o emprego com carteira assinada no ano passado foi puxado pelo setor de serviços, que respondeu por 886.256 postos. Os subsetores que mais contrataram foram informação, comunicação, financeiro, imobiliário, atividades administrativas, serviço público e educação e saúde.
O segundo maior crescimento do emprego formal ocorreu no comércio, com um saldo de 276.528 postos, com destaque para o setor varejista, supermercados, minimercado e venda de combustíveis para veículos.
Já a construção civil, um dos setores mais dinâmicos da economia, ficou em terceiro lugar com a 158.940, seguida pela indústria, com saldo positivo de 127.145 postos e agropecuária, com 34.762.
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Os estados que mais contrataram foram São Paulo, com saldo positivo de 390.719 postos, Rio de Janeiro, 160.570 e Minas Gerais, que respondeu por 140.836 contratações.
A indústria apresentou a maior queda na geração de empregos em relação a outros setores. Foi abertas 127.145 vagas no ano passado, contra 251.868 em 2022, recuo de 49,5%. Para o ministro, o parque industrial brasileiro precisa de investimentos para voltar a gerar emprego de melhor qualidade em relação à duração dos contratos e remuneração.
Em dezembro, salário médio real de admissão foi de R$2.026,33, com leve redução de R$ 6,52 quando comparado com o valor corrigido de novembro (R$ 2.032,85).
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados consideram os trabalhadores com carteira assinada, e não incluem os informais. Com isso, os resultados não são comparáveis com os números do desemprego divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (Pnad) e cujos resultados sairão amanhã.
Rodolfo Margato, economista do time de Macro da XP, afirma que que o emprego formal continua sólido. As contratações totais cresceram 1,2% em dezembro, para 1,935 milhão, nível consideado alto. Por sua vez, os desligamentos totais subiram 1,8%, para 1,882 milhão, o patamar mais elevado do último ano.
— Este aumento veio acima do esperado, explicando a diferença entre a nossa projeção e o resultado observado no saldo total em dezembro — diz ele. — O aumento do emprego formal continuará a apoiar o consumo das famílias em 2024. Prevemos criação líquida total de 1,100 milhão de vagas este ano.
Para Fabiano Zavanella, sócio do escritório Rocha, Calderon e Advogados Associados, na comparação com o desempenho em anos anteriores, afetados inclusive pela pandemia, o dado é ruim. Além disso, Zavanella.
— O aumento de custo e de burocracia prejudicam a capacidades de geração de empregos em setores como comércio e serviços — disse Zavamella, reforçando que a indústria já vem fechando postos de trabalho.
O economista de João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, destacou que há uma desaceleração gradual, mas que o mercado formal de trabalho ainda continua aquecido:
— O melhor momento do emprego formal ficou para trás, mas ainda estamos longe de ver um mercado de trabalho fraco esse ano.