Economia
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Por Bloomberg — Buenos Aires

Com a suspensão de obras públicas na Argentina decretada pelo novo presidente do país, Javier Milei, uma das maiores empreiteiras argentinas ficou com o caixa zerado e teve de pedir uma espécie de trégua aos credores. E deixou bem claro a quem atribui a culpa: Milei.

O presidente argentino está no cargo há apenas 61 dias, mas a Cia Latinoamericana de Infraestructura y Servicios (Clisa) diz que a decisão dele de reduzir os gastos do governo em obras públicas, combinada com a maxidesvalorização do peso que promoveu logo após assumir o governo, já está afetando seu negócio.

É por isso que a Clisa, gigante que atua na gestão de resíduos, construção e transporte na Argentina, está pedindo que investidores que detém seus títulos de dívida aceitem mais papéis do gênero em vez de dólares como pagamento de juros sobre US$ 343 milhões (R$ 1,7 bilhão) com vencimento em 2027.

É uma medida que analistas e agências de classificação de risco classificam como equivalente a um calote e prenunciam mais problemas pela frente.

— O risco de uma reestruturação (de dívidas) é extremamente elevado — disse Francisco Schumacher, analista empresarial do BancTrust & Co. — Não vemos uma recuperação nos gastos com infraestruturas públicas e recomendamos cautela (em relação aos títulos da empresa).

A crise na Clisa, uma subsidiária importante do conglomerado Grupo Roggio, que tem 115 anos de existência, começa a lançar luz sobre a tensão crescente entre o setor empresarial e os esforços de Milei para conter a inflação de três dígitos e estimular a retomada do crescimento da economia.

Nos últimos dias, o presidente sofreu um duro golpe no Congresso quando um projeto de lei sublinhando sua “terapia de choque” para reformar a economia argentina voltou à estaca zero no Legislativo.

Um em cada dez títulos corporativos em dólares na Argentina tem rendimentos negociados acima de 10 pontos percentuais em relação a títulos do Tesouro dos EUA semelhantes, de acordo com dados compilados pela Bloomberg, um sinal da tensão no mercado local.

O prêmio de risco dos papéis da Clisa com vencimento em 2027 está entre os mais elevados do grupo, com os investidores exigindo 66 pontos percentuais adicionais. O título é negociado a 23 centavos de dólar, próximo ao nível mais baixo de todos os tempos.

A empresa aponta o caos macroeconômico da Argentina como a razão de suas dificuldades. A Clisa diz que seus clientes muitas vezes pagam com atraso e usando pesos, o que gera uma perda para a empresa com a rápida desvalorização da moeda argentina entre a prestação do serviço e o pagamento, em meio à inflação de três dígitos.

A ascensão de Milei ao poder complicou ainda mais as coisas, afirmou a Clisa aos detentores de títulos em um comunicado justificando a proposta de alterar os termos de pagamento de sua dívida.

A promessa do governo de suspender obras públicas já havia desacelerado os negócios da empresa, acrescentando que o plano de ajuste fiscal do país seria doloroso. Mas a Clisa não apresentou números sobre o impacto das novas políticas no comunicado e não respondeu a pedidos de explicação sobre isso.

Um efeito do plano de choque de Milei detalhado pela Clisa foi a forte desvalorização do peso oficial. O novo governo desvalorizou o peso em 54% na sua primeira semana de mandato, e os analistas esperam que seja necessária outra medida em breve.

A desvalorização “afeta significativamente a situação financeira da Clisa”, afirmou a empresa, já que 82% da sua dívida em setembro era denominada em moeda estrangeira, enquanto 87% da receita do ano anterior era em pesos.

Os problemas na Clisa, no entanto, vão além da chegada de Milei à Casa Rosada. Projetos de construção encerrados durante a pandemia levaram a empresa em 2021 a pedir aos investidores que trocassem títulos com vencimento em 2023 por novas notas com vencimento em 2027.

Ela também exerceu uma opção de pagamento em espécie para o pagamento de juros em julho de 2020, o que levou a um rebaixamento para inadimplência.

O destino do plano de ajuste fiscal de Milei é incerto com sua derrota inicial no Congresso. Mesmo assim, Paula La Greca, analista de crédito corporativo da TPCG Valores em Buenos Aires, avalia que a decisão da Clisa de pedir clemência aos detentores de títulos foi lógica depois de adiar o pagamento de juros de US$ 10,7 milhões sobre as notas com vencimento em 25 de janeiro.

A empresa está pedindo o consentimento dos titulares para efetuar esse pagamento de 8,5% integralmente na forma de títulos em vez dos 6,25% previamente acordados em dinheiro e 2,25% de notas de pagamento.

— Provavelmente terá uma taxa de participação muito alta, perto de 100% — disse La Greca. —Basicamente, quem se recusa a participar fica sem pão nem bolo.

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