Economia
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Mais uma reunião extraordinária do Conselho de Administração da Vale, para discutir o futuro do atual CEO da mineradora, Eduardo Bartolomeo, terminou sem uma definição na tarde de quinta-feira, após o colegiado se dividir ao deliberar, em votação, entre a renovação do mandato do executivo e o início de um processo seletivo.

A votação terminou empatada em seis votos a seis, segundo uma fonte que pediu para não se identificar. O Conselho da Vale tem 13 membros, mas houve uma abstenção, de Luís Henrique Guimarães, conselheiro eleito em 2023 e ligado a Cosan, gigante do açúcar e etanol.

Com isso, as discussões seguirão pela próxima semana, disse a fonte que acompanha as discussões. O Conselho tem uma reunião ordinária marcada para a quinta-feira, dia 22, mas a sucessão de Bartolomeo não está na pauta. O mais provável é que mais um encontro extraordinário seja convocado para tratar do comando da empresa.

Também não está definido se a próxima reunião do Conselho sobre a sucessão tentará deliberar novamente por votação. Segundo a fonte ouvida pelo GLOBO, os conselheiros tentarão manter conversas para chegar a algum consenso antes.

O estatuto da Vale diz que as deliberações do Conselho devem ser por maioria dos presentes nas reuniões, mas não menciona nada sobre “voto de qualidade” ou “voto de minerva”, como é conhecido o mecanismo, usual em diversos colegiados, em que, geralmente, o presidente decide os casos de empate.

Em nota à imprensa divulgada logo após o encontro de quinta-feira, a companhia informou apenas que “a reunião terminou de forma inconclusiva e o Conselho voltará a se reunir nos próximos dias em busca de uma definição sobre o assunto”.

Bartolomeo, CEO da Vale: mandato do executivo no comando da mineradora vai até 26 de maio — Foto: José Palma/Divulgação
Bartolomeo, CEO da Vale: mandato do executivo no comando da mineradora vai até 26 de maio — Foto: José Palma/Divulgação

O mandato de Bartolomeu vai até 26 de maio próximo, mas as regras de sucessão da Vale impõem que um processo de sucessão seja iniciado de seis a quatro meses antes de seu término. A companhia já informou publicamente que tem até o fim do mandato para decidir se o atual CEO terá o contrato renovado ou se será substituído.

Disputas inflamadas

A proximidade do fim do mandato de Bartolomeo vem inflamando as disputas entre os acionistas da mineradora, marcadas pela necessidade de enfrentar as consequências da tragédia de Brumadinho (MG) – onde, cinco anos atrás, o rompimento de uma barragem de rejeitos deixou 270 mortos – e acirradas por uma reestruturação que transformou a empresa numa corporação, sem controle definido, em novembro de 2020.

Como mostrou O GLOBO em janeiro, a entrada da Cosan no jogo foi uma das novidades nas disputas entre os acionistas, por isso, a abstenção de Guimarães na reunião de quinta-feira chamou a atenção. O executivo não teria alegado motivos para se abster, disse a fonte ouvida pelo GLOBO. Se ele tivesse votado, o Conselho teria deliberado sobre a sucessão.

Pelas regras de governança da Vale, Guimarães é considerado membro independente do Conselho, mas ele entrou na lista de indicados para o colegiado após a Cosan adquirir a participação relevante na mineradora, em intrincada operação financeira anunciada em outubro de 2022.

Em novembro passado, o anúncio da saída de Guimarães do cargo na Cosan deu margem a especulações de que o grupo poderia trabalhar por sua indicação para a presidência da Vale. Seu nome tem sido citado, desde então, como candidato a sucessor de Bartolomeo – esse seria um motivo para o executivo se abster da votação na reunião extraordinária do Conselho.

Conflito de interesses

O grupo Cosan tem negócios também na distribuição de combustíveis e na logística. Como é dona da operadora de ferrovias Rumo, a entrada no capital da Vale pode suscitar uma série de situações de potenciais conflitos de interesses, porque a mineradora também opera ferrovias.

Na mineração, a operação logística é fundamental para o negócio, e as ferrovias são o melhor meio de levar a produção mineral para os portos por onde ela é exportada.

Dessa forma, a Vale pode ser sócia ou concorrente da Rumo numa série de projetos. Assim, a Cosan poderia influir, no comando da mineradora, à favor de decisões da companhia que favoreçam seus próprios negócios, em vez dos interesses da Vale.

A outra novidade recente nas disputas entre os acionistas da Vale foi a volta do PT ao Palácio do Planalto. Desde o início do terceiro governo Lula, circula nos bastidores a informação de que o presidente gostaria de indicar o ex-ministro Guido Mantega como CEO da Vale, embora a influência direta do governo federal sobre a mineradora tenha diminuído após a reestruturação de 2020.

Mês passado, o governo federal elevou a pressão política sobre a companhia, até que, no último dia 26, sinalizou – também nos bastidores – que desistiu da ideia. Desde então, fontes próximas à Vale têm dito que a pressão do governo diminuiu, mas ela segue no radar.

Resultados financeiros vs. desempenho operacional

A sucessão de Bartolomeo também é marcada por uma questão que costuma emergir em corporações sem controle definido: a busca do equilíbrio entre resultados financeiros de curto prazo e desempenho operacional de médio e longo prazo.

Nas corporações, grandes investidores financeiros – como a gestora americana BlackRock, a maior do mundo – tendem a ganhar relevância como acionistas minoritários, ainda que eles interfiram menos nos rumos das companhias do que acionistas controladores. E eles priorizam resultados financeiros.

Bartolomeo apresenta a melhoria nos indicadores de segurança, após a tragédia de Brumadinho, como trunfo para permanecer, mas sua gestão também vem colhendo críticas por causa de dificuldades para elevar a produção e controlar a alta de custos operacionais.

No último dia 2, em outra reunião extraordinária do Conselho para tratar da sucessão, também sem uma definição, os conselheiros trataram da apresentação de um relatório de avaliação de desempenho de Bartolomeo. O documento sugere que seja feito um processo seletivo para o cargo, com a possibilidade de que o atual CEO participe, disse uma fonte na ocasião, pedindo anonimato.

Quem quer o quê no Conselho

Na votação de quinta-feira, a maioria dos membros independentes do Conselho, que tendem a votar conforme os interesses dos investidores financeiros, teria votado pela renovação automática do mandato de Bartolomeo, segundo apurou O GLOBO.

Mesmo assim, fontes que acompanham o processo já relataram insatisfação de parte desses investidores financeiros com o desempenho operacional da Vale. Ou seja, mesmo entre esses membros do Conselho haveria divisão.

Já os membros do Conselho vinculados à Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, e à Bradespar, gestora do Bradesco – dois acionistas históricos da Vale, que integravam o antigo acordo de acionistas firmado logo após a privatização, em 1997 – teriam votado pelo início de um processo seletivo. O argumento é que o desempenho operacional da Vale poderia melhorar.

Provisão da BHP assusta

O novo capítulo, inconclusivo, na novela da sucessão da Vale, se deu num dia de notícia negativa para a mineradora: a BHP anunciou na quinta-feira que deve aumentar em US$ 3,2 bilhões sua provisão por causa do rompimento da barragem da Samarco, ocorrido em 2015, em Mariana (MG).

Provisões são os valores reservados no balanço financeiro das empresas para o pagamento de eventuais despesas futuras, como indenizações determinadas pelo Judiciário. A Vale era a dona da Samarco, em sociedade com a BHP. As duas gigantes da mineração enfrentam um processo judicial no Reino Unido sobre o caso de Mariana.

Para Bruno Komura, da Potenza Capital, é possível que a Vale tenha que fazer o mesmo que a BHP, reservando em seu balanço mais de US$ 3 bilhões para despesas relacionadas ao caso.

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