As manifestações trabalhistas ganham força na Argentina, em um esforço dos sindicatos para combater as medidas de austeridade do presidente Javier Milei que comprometem salários e aposentadorias.
Ontem, começou uma greve de 24 horas dos ferroviários, enquanto os profissionais de saúde planejam uma paralisação hoje, e os funcionários públicos devem parar no dia 26 de fevereiro. Alguns sindicatos de professores também anunciaram greve.
'Isso é contra o povo'
O porta-voz de Milei denunciou a greve dos ferroviários em seu briefing diário, dizendo que mais de 1 milhão de passageiros foram afetados. “Esta não é uma medida contra o governo nacional”, disse Manuel Adorni aos repórteres em Buenos Aires. “Isso é contra o povo.”
Os poderosos sindicatos da Argentina foram rápidos em denunciar as políticas do presidente libertário, com uma greve geral em 24 de janeiro. Milhares de pessoas encheram as ruas na primeira manifestação desse tipo contra um novo presidente na história recente.
Em resposta, o governo anunciou um aumento de 27% em benefícios de seguridade social até março, embora isso não compense totalmente as perdas acumuladas contra a inflação.
'Jogo de alto risco'
Com a alta anual dos preços ao consumidor de cerca de 250%, a austeridade de Milei causa grandes perdas de renda real para os argentinos. Só em dezembro, o crescimento salarial de 8,9% foi prejudicado por uma inflação mensal superior a 25%.
Argentinos vão às ruas contra 'decretaço' de Milei
Esta semana, os títulos soberanos do país subiram após o primeiro superavit fiscal mensal do governo em anos. Mas os números de janeiro foram possíveis graças à redução de 30% dos gastos com a seguridade social quando ajustados pela inflação — uma estratégia que “não pode ser sustentável”, segundo a Latin Securities.
— Isso mostra que o governo está pronto para jogar um jogo de alto risco — disse Hernan Ladeuix, diretor de estratégia da Latin Securities. — O governo deve fazer a transição do atual plano de emergência para um programa de estabilização econômico sustentável.
Embora Milei ainda tenha altos índices de aprovação no país e receba elogios no exterior, a realidade começa a revelar a resistência que ele e outros líderes governamentais preveem que aumentará em março e abril, após o fim do verão.
Historicamente, a inflação na Argentina tende a acelerar em março, à medida que os sindicatos exigem aumentos salariais e o início do ano escolar traz novos gastos com vestuário, materiais e mensalidades.
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Além disso, a administração de Milei está aumentando significativamente os preços dos transportes, ao mesmo tempo que eleva os custos de serviços públicos, com o corte de subsídios generosos que alimentaram o déficit crônico do governo.
'Milei não se afastará um centímetro'
O porta-voz de Milei foi firme no compromisso do novo governo com seu plano, acrescentando que são avaliadas medidas para garantir que os grevistas enfrentem consequências.
— Essa prática habitual de obstruir a vida dos argentinos para permanecer no poder não funciona mais — disse Adorni. — O presidente não se afastará um centímetro de seu mandato popular.