Uma semana depois da reunião de chanceleres do G20, no Rio, ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais das maiores economias do mundo vão se encontrar, nos dias 28 e 29 deste mês, na Fundação Bienal de São Paulo, no Parque do Ibirapuera.
O Grupo dos 20, ou G20, é uma organização que reúne 19 países, mais a União Europeia e a União Africana. Juntas, essas nações representam cerca de 85% de toda a economia global, mais de 75% do comércio mundial e cerca de dois terços da população do planeta. O G20 tem presidências rotativas, e o Brasil preside o grupo até novembro deste ano, quando haverá uma grande cúpula de líderes, no Rio.
Na abertura do encontro sobre economia, o ministro Fernand Haddad fará um discurso, seguido pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto — cujos auxiliares vão propor aos demais bancos centrais, em reunião separada, a criação de um índice de bem-estar financeiro para o consumidor.
O Brasil quer lançar debates em defesa da redução das desigualdades entre os países, a tributação dos "super-ricos" e a revisão das condições impostas pelos organismos internacionais em financiamentos para países endividados que precisam se recuperar.
Carla Beni, economista e professora de política fiscal da Fundação Getúlio Vargas, avalia que pautas como a financeirização da economia e a tributação dos mais ricos, para a redução das desigualdades de oportunidades, chegam com atraso no cenário internacional, "mas antes tarde do que nunca". Ela afirma que questões financeiras estão relacionadas com o desenvolvimento social.
— A tributação internacional pode e deve ser usada no combate à fome e a sustentabilidade só será completa com a inclusão financeira. Brasil pode e deve liderar este debate — diz a economista.
Para Gabriel Petrus, diretor global de parcerias estratégicas da Câmara Internacional de Comércio (ICC na sigla em inglês), de todos os temas, o problema da liquidez global e do endividamento das chamadas economia médias é o que parece ter mais consenso no G20. O motivo é que os impactos para o sistema financeiro mundial podem se transformar em uma bola de neve, inclusive representando um risco de recessão no longo prazo, se não resolvidos agora.
— A dívida também é acentuada pela inflação global, que acelerou, e tem impacto direto no comércio internacional, porque esses países terão menos poder de compra. Para que o problema seja resolvido de forma estrutural, precisamos repensar a governança de instituições como Banco Mundial e FMI, e revisar o sistema de SDR (direitos de saques especiais), para fazer a liquidez chegar nos países que mais precisam — diz Petrus.
Ele cita como exemplo as atuais regras de direito de voto e participação no FMI, "que não refletem a atual geopolítica do mundo em desenvolvimento". Ressalta que, quando o Fundo foi criado, na Conferência de Bretton Woods, em 1944, mais de 30 países da África ainda não existiam.
— A reforma do FMI tem apoio de alguns países desenvolvidos, como a França. O presidente Macron [Emmanuel Macron]também colocou esse tema na prioridade da agenda da Conferência para o novo Pacto para o Financiamento do Desenvolvimento, que também deve se reunir neste ano às margens do G20.
A estimativa de técnicos do Ministério da Fazenda é que entre 50 e 70 países enfrentam crise de endividamento. As taxas de juros cobradas e as condições dos financiamento são vistas como entraves.
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Ao contrário da reunião de chanceleres — que continuarão discutindo a reforma da ONU em setembro, em Nova York — o encontro desta semana terá um comunicado final. Os técnicos da área econômica admitem que não será uma negociação fácil.
Encontros bilaterais
Afirmam que deverá haver pressões para que seja incluído algo sobre as guerras e seu impacto na macroeconomia, mas o Brasil avalia que isso tem de ficar com os chanceleres, não com os ministros de Finanças do grupo.
Mas São Paulo não será palco apenas do G20. Estão previstas reuniões importantes à margem do evento. Uma delas, no dia 27, será dos Brics. O G7 (conhecido como o grupo dos mais ricos e formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) pediu uma sala para uma reunião de coordenação no dia 28.
Haddad também terá uma série de encontros bilaterais. Estão previstas reuniões com Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos EUA, com ministros da França, Coreia do Sul, África do Sul, Indonésia, e com a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva.