Economia
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Por El País — Turim

A paz armada mantida pelo clã Agnelli "explodiu" e, nos últimos dias, revelou uma nova rixa nesta poderosa linhagem — o mais próximo que a República Italiana tem de uma família real. A guerra está aberta novamente. No centro da batalha, que já dura duas décadas — e é temperada com jogos de poder, disputas nos tribunais da Itália e no estrangeiro, ambições, censuras e acusações cruzadas — está a distribuição da herança do patriarca Gianni Agnelli, vaidoso "playboy" que reinventou a Fiat e faleceu em 2003.

Em 2003, quando morreu Gianni Agnelli, eclodiu uma luta pela herança na família. Após um ano de árduas negociações, Margherita Agnelli assinou um acordo no qual renunciou às ações da empresa familiar (que na época olhava para o abismo e hoje se tornou um império próspero). Em troca, ela receberia uma grande soma de dinheiro que rondava os 1,3 bilhão de euros (quase R$ 7 bilhões, na cotação atual).

Quando Margherita renunciou às ações, estas passaram da sua mãe, Marella, para o seu primogênito, John Elkann, herdeiro universal do império — e atualmente presidente e CEO do grupo empresarial. A maioria das propriedades também passou para seu nome (hoje, a Forbes estima a fortuna dele em US$ 3 bilhões, equivalente a R$ 14,8 bilhões).

Em 2021, Margherita contestou esse acordo por considerar que o valor que recebeu tinha sido inadequado, demasiado baixo, tendo em conta o valor que posteriormente atingiram as ações que recusou.

O novo capítulo da briga corrobora que as feridas nunca foram curadas. Desta vez, começa com uma denúncia de Margherita Agnelli, filha do aristocrata, que afeta o filho dela, John Elkann, herdeiro do império familiar. A acusação está relacionada a supostas irregularidades fiscais no caso da herança da avó Marella Caracciolo, falecida em 2019.

Não surgiram mais detalhes da acusação, mas sabe-se que o Ministério Público está investigando Elkann. Foi o estopim do novo conflito entre os integrantes de uma das dinastias industriais mais poderosas da História da Itália. Trata-se de uma eterna guerra de sucessão.

Margherita, praticamente excluída dos assuntos familiares desde a morte de Gianni, está em conflito há duas décadas com alguns dos seus filhos: John, Lapo e Ginevra Elkann, nascidos do seu primeiro casamento com o escritor Alain Elkann. Entre outras coisas, ela exige que a distribuição dos bens leve também em conta os outros cinco filhos, que teve com o segundo marido, o conde russo Sergio de Pahlen.

Na sequência da nova denúncia, os advogados de John Elkann negaram qualquer tipo de irregularidade fiscal e defenderam que o seu cliente pagou os impostos devidos. Em nota enviada ao jornal El País, também criticaram as iniciativas judiciais que Margherita Agnelli empreendeu ao longo dos anos.

"Há uma mãe que persegue, em todas as instâncias judiciais há mais de 20 anos, fazendo inclusive ampla publicidade na imprensa, os seus pais e três dos seus filhos, que não têm outra responsabilidade senão terem sido os únicos a terem assistido, com carinho, assistência e dedicação, a sua avó até o último dia", diz a nota.

O advogado de Margherita Agnelli, em resposta, alega que sua cliente está apenas se defendendo. "No mesmo dia da morte de Marella Caracciolo, John Elkann, com seus dois irmãos [Lapo e Ginevra], abriram processos judiciais na Suíça contra sua própria mãe, antes mesmo de qualquer disputa sobre a herança de sua avó, sem sequer ter havido qualquer testamento", explica o advogado, em nota.

Briga por herança

John Elkann acusa a mãe de tentar aproveitar o bom desempenho econômico do grupo familiar, hoje um colosso próspero — que, entre outras marcas, inclui Ferrari e Fiat — que estava em maus momentos quando Margherita assinou o acordo. Ele a repreende por ignorar o futuro da empresa, para depois reivindicar sua parte quando o vento mais uma vez soprou a favor da montadora.

"Vale ressaltar que Margherita Agnelli, evidentemente considerando crítico e incerto o destino da atividade empresarial de seu filho e de sua família de origem, decidiu em 2004 rentabilizar sua parte, e depois tentar paradoxalmente se beneficiar de um novo aumento de ativos derivados do sucesso do plano de relançamento da Fiat, para o qual não contribuiu em nada, mas do qual, como mãe, deve estar feliz e orgulhosa, já que o seu filho foi o principal arquiteto", salientam os três advogados de Elkann.

Fontes próximas a Margherita Agnelli dizem ao El País que “não é que Margherita tenha assinado os acordos e no dia seguinte começou a contestar o que assinou”, mas sim, que três anos depois do acordo, em 2007, “ela descobriu que a mãe tinha um fortuna na Suíça de centenas de milhões de euros que não constavam das contas oficiais e que poderiam fazer parte dos antigos bens do pai que não tinham sido incluídos na distribuição". Na época, entrou com uma ação na Justiça para esclarecer todos os bens do espólio de Gianni Agnelli, mas foi julgada improcedente.

Os advogados dos irmãos Elkann destacam que até agora "todas as iniciativas jurídicas de Margherita Agnelli não foram reconhecidas em nenhum tribunal, nem criminal nem civil". Ressaltam que o simples fato de ser investigado, como hoje é John Elkann, não implica qualquer responsabilidade e nem sequer pressupõe uma acusação formal. E aproveitam para lembrar que, no passado, sempre no âmbito da batalha pela herança, Margherita também foi investigada, "juntamente com o seu então advogado suíço, por tentativa de extorsão", denunciada por outro advogado que se queixou de "ter sido submetido a forte pressão para induzi-lo a prestar declarações favoráveis ​​a ela no caso da sucessão, ameaçando caso contrário com denúncia por sonegação fiscal". Os advogados de Elkann indicam que este caso foi arquivado.

Representantes de Margherita Agnelli explicam que "a via judicial não é a mais adequada para resolver questões familiares", mas que "Margherita foi obrigada a prosseguir por esse caminho, porque foi a primeira a receber uma intimação judicial". Eles ressaltam que, para Margherita, é importante que todos os seus filhos sejam tratados igualmente na distribuição da herança.

"As outras crianças [sobrenome Pahlen] não deveriam ter sido separadas, não há evidências de que a senhora Marella tenha especificado algo semelhante em seu testamento", apontam. Os irmãos Elkann afirmam, por meio dos seus advogados, que sentem "tristeza e dor" com as acusações da mãe.

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