Economia
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Por , Em Globo Rural — São Paulo

Fabricantes de pães, sorvetes e chocolates têm usado cada vez mais a macadâmia como ingrediente, um movimento que busca “desgourmetizar” a noz, associada a pratos e produtos mais caros. A aposta da indústria para ampliar o consumo é também a de 250 produtores brasileiros que investiram na cultura há pelo menos dez anos.

— Há uma gourmetização da macadâmia, porque sempre foi um fruto seco caro e quando passa a fazer parte da receita de um sorvete popular, ou de um pão mais acessível ao consumidor, muda de rota e potencializa a oportunidade de ganhar espaço no Brasil — afirma Pedro Piza, diretor da Associação Brasileira de Noz-Macadâmia (ABM).

Este ano, o país deve produzir 6,5 mil toneladas, com mais de 80% dessa produção concentrada na Região Sudeste. O volume representa 2,2% das 300 mil toneladas beneficiadas no mundo a cada ano. Embora o cultivo seja recente por aqui, o Brasil já é o décimo no ranking dos maiores produtores. Mas está longe de ser um grande consumidor.

É esse potencial de crescimento que o paulista Alberto Samaja almeja aproveitar. Há sete anos, ele investiu em 212 hectares consorciados entre espécies de café arábica e 125 pomares de macadâmia na cidade de Brotas (SP). Ali, as duas culturas perenes convivem em harmonia, inclusive na venda planejada dos produtos ao empório de um supermercado da cidade, conta Samaja.

A integração entre o café conilon e a macadâmia em plantação no Espírito Santo — Foto: Arquivo pessoal de Ézio Sena, produtor do ES
A integração entre o café conilon e a macadâmia em plantação no Espírito Santo — Foto: Arquivo pessoal de Ézio Sena, produtor do ES

No projeto, as duas culturas irão conviver juntas pelos próximos 35 anos, com previsão de produtividade estável de 55 sacas de 60kg de café por hectare e de 18kg de noz por planta em fase adulta. Segundo o agricultor, o custo não aumenta, mas a produção se complementa, e a macadâmia “protege” o café e permite maior rentabilidade.

—A macadâmia ajuda no cultivo do café, porque serve como sombreamento, aumenta a amplitude térmica e combina com as janelas de desenvolvimento e colheita do café, ajudando a gente a aproveitar a mão de obra — diz Samaj, acrescentando que as culturas dão bons resultados juntas porque exigem cuidados parecidos e até máquinas de café podem ser adaptadas para colher a noz.

Nativa da Austrália, a macadâmia ganhou características próprias no Brasil. Com testes em solos acompanhados por instituições como Embrapa Meio Ambiente, as variedades da noz se multiplicaram e ganharam características como resistência às variações do clima, o que chama a atenção do mercado internacional.

Mas a macadâmia representa apenas 1% do mercado das castanhas em território nacional. E do total produzido no país, apenas 450 toneladas ficam no mercado interno. Outras 2 mil toneladas de noz com casca são embarcadas para China, um dos principais consumidores de macadâmia do mundo, comprando cerca de 90 mil toneladas por ano.

De acordo com Piza, um dos poucos com doutorado em macadâmia no Brasil, ela representa apenas 2% do total de árvores de nozes do mundo, entre elas pistache, avelã, pecã, com a diferença que o valor da macadâmia é o maior entre todas essas.

— Há mercado imenso para a macadâmia, incluindo a indústria de cosméticos. Hoje, somente 3% a 4% do que é produzido no mundo vai para esse segmento. A aposta, então, fica como ingrediente de outros produtos queridinhos e consumidos em larga escala — diz Piza.

Alberto Samaja investiu em 212 hectares consorciados entre espécies de café arábica e 125 pomares de macadâmia — Foto: Arquivo pessoal/Alberto Samaja
Alberto Samaja investiu em 212 hectares consorciados entre espécies de café arábica e 125 pomares de macadâmia — Foto: Arquivo pessoal/Alberto Samaja

Capital da macadâmia

Ele também é diretor da QueenNut, empresa que sozinha responde por 30% da produção brasileira de macadâmia no município de Dois Córregos (SP), considerada a capital da macadâmia brasileira. O grupo se interessou em plantar árvores da noz como alternativa para plantar em uma área de 500 hectares, onde a cana-de-açúcar não iria se desenvolver.

O projeto teve largada em 1989 e hoje fornece a brasileiras, como Dengo, Unilever, Jundiá, WickBold e Dia Supermercados.

A 1.500 quilômetros do município paulista, Ezio Sena de Oliveira cultiva macadâmia na cidade capixaba de São Mateus, que concentra a maior produção da noz no Espírito Santo. Foi ele quem plantou a primeira muda no estado há mais de 30 anos.

— No começo, pensei em desistir, pois não havia conhecimento técnico difundido no Brasil e o pomar é delicado, demora para dar frutos. Isso faz pensar que há algo de errado — conta o engenheiro agrônomo.

Atualmente, ele também a incluiu em um consórcio com café conilon e mamão em 20 hectares. Como pequeno produtor, seu objetivo é garantir a “aposentadoria verde” com os frutos que podem surgir até 60 anos de vida do pomar e participar como fornecedor de mercados que democratizam a macadâmia.

— O que falta no Brasil é uma maior divulgação do produto e suas características organolépticas. Mesmo sendo a macadâmia considerada a rainha das nozes, com uma falsa ideia de um produto de luxo, ela tem todas as condições de ocupar um bom espaço da castanha do Pará e caju, com preços competitivos— salienta.

Café arábica com as recém-plantadas árvores de macadâmia em um dos espaços da fazenda de Alberto Samaja em Brotas — Foto: Arquivo pessoal de Alberto Samaja
Café arábica com as recém-plantadas árvores de macadâmia em um dos espaços da fazenda de Alberto Samaja em Brotas — Foto: Arquivo pessoal de Alberto Samaja

A produtividade média global é de 2 toneladas a 2,5 toneladas da noz com casca por hectare, enquanto no Brasil pode ficar entre 3 toneladas até 5 toneladas por hectare, o que evidencia a oportunidade de o país deslanchar no investimento de macadâmia como alternativa de culturas, explica o especialista Leonardo Moriya.

— Acredito que a macadâmia possa ser um cultivo de pequenos produtores também para consumo próprio e para atender comércios pequenos. Ela é uma noz que pouca gente conhece, mas tem um monte de benefícios funcionais, nutricionais e financeiros”, agregou o consultor.

Ele avalia que a facilidade de criar agroindústria para beneficiamento da macadâmia são os fatores que elevam o potencial do Brasil até 2030, quando a planta completará o primeiro ciclo de 50 anos no país. Embora exija um investimento alto por parte dos produtores, o rendimento pode ser dobrado se comparado com uma castanha nativa, como a do Pará.

Fonte de fibras e proteínas, a noz é um alimento funcional rico em ômega 3, fator que eleva o preço no mercado internacional a cerca de US$ 3,00 por quilo, enquanto nos mercados brasileiros o quilo da noz descascada pode chegar a R$ 180,00, segundo um relatório da Fundação Getúlio Vargas (FGV). É possível plantar 500 árvores por hectare e ter um rendimento de R$ 30 a R$ 50 mil, segundo Moriya.

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