Economia
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Por — Rio de Janeiro

A dupla jornada das mulheres, com a divisão do tempo entre o emprego e o cuidado com filhos e/ou tarefas domésticas, praticamente não mudou ao longo dos últimos anos. Elas dedicam quase o dobro do tempo dos homens para afazeres domésticos. Em 2022, eram em média 21,6 horas semanais para os afazeres domésticos e/ou cuidados de pessoas. Entre os homens, a média era de 11 horas por semana - uma diferença de 10,6 horas a mais.

É o que apontam os dados da terceira edição do estudo Estatísticas de Gênero: Indicadores sociais das mulheres no Brasil, divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira, dia 8, no Dia da Mulher.

— A sobrecarga de trabalho não remunerado é a mesma desde o início da série (iniciada em 2016) — analisa Leonardo Athias, pesquisador do IBGE.

E ainda há uma subestimação na quantidade de horas dedicadas aos afazeres, lembra Barbara Cobo, coordenadora de População e Indicadores Sociais do IBGE.

— Há coisas que são feitas ao mesmo tempo, como quem olha uma criança enquanto faz feijão e cuida da casa. São atividades simultâneas que ainda não são investigadas e deveriam ser.

As mulheres pretas ou pardas estavam ainda mais envolvidas nessas atividades do que as mulheres brancas, dedicando 1,6 hora a mais (22 horas, ao total) aos afazeres domésticos. A região Nordeste foi onde as mulheres dedicaram mais horas a essas atividades (23,5 horas). Para os homens, a cor ou raça declarada não afetou a dedicação a essas atividades.

Tempo de horas dedicadas pelos homens não muda

O tempo desigual dedicado por homens e mulheres às tarefas do lar é um drama que perdura por décadas no país, destaca Hildete Pereira de Melo, doutora em Economia e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A economista cita que em 2001 o IBGE mensurou que as mulheres gastavam 29 horas semanais com tarefas do lar contra 10,9 gastas pelos homens. Em 2005, as mulheres marcaram 25,3 horas gastas com estes cuidados e os homens, 9,9.

— Não muda. Até hoje eles declaram cerca de 10 horas.

Isabela Duarte, economista e pesquisadora do FGV Ibre, destaca que o homem ainda ocupa na sociedade o papel de ser o sustentador do lar e responsável pela ida ao mercado de trabalho, apesar das mulheres terem conquistado parte desse espaço ao longo dos anos.

— Só que a gente não viu esse caminho de volta dos homens na realização da tarefa do lar. São as mulheres que estão em dupla, tripla jornada, sempre tendo que se equilibrar entre o trabalho remunerado e não remunerado —afirma.

As famílias brasileiras ainda precisaram aumentar o número de horas dedicadas ao trabalho não remunerado em 2022, sendo essa tarefa assumida em sua maioria pelas mulheres e trazendo reflexos sobre o desemprego feminino pós-pandemia.

É o que aponta estudo assinado pela economista em 2022 ao lado de Lucilene Morandi e Lorena Lima de Moraes, publicado no ano seguinte pela Fundação Friedrich Ebert.

— Quem ficou cuidando das pessoas durante a pandemia foram as mulheres. Elas estiveram no centro das resposta, tanto a partir da atuação nos centros de saúde quanto no cuidado com pessoas em casa durante o isolamento social — conclui Hildete.

Quanto menor a renda, maior o tempo dedicado aos cuidados com a casa

A renda também é um fator que impacta o nível de desigualdade entre as mulheres, segundo o IBGE. Em 2022, as 20% mais pobres dedicaram 7,3 horas a mais ao trabalho doméstico não remunerado em relação às 20% mais ricas.

"A renda permite, por exemplo, a contratação de trabalho doméstico remunerado e, com ele, a delegação das atividades de cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos, sobretudo a outras mulheres, dado que elas eram 91,3% das pessoas ocupadas em serviços domésticos remunerados", informou o instituto.

Força de trabalho feminina está estagnada há uma década

O maior tempo gasto com cuidado de pessoas e/ou afazeres domésticos acaba limitando a participação das mulheres de forma mais ampla no mercado de trabalho. Não por acaso a taxa de participação da mulher na força de trabalho ficou praticamente estagnada em baixo patamar entre 2012 e 2022.

A taxa de participação das mulheres na força de trabalho ficou em 53,3% em 2022, enquanto a de homens chegou a 73,2%. Em 2012, esse percentual era de 52,5% para as mulheres e 76,1% para os homens.

O cenário é ainda mais desafiador para mulheres pretas ou pardas, que tem a menor participação na força de trabalho (52,2% entre aquelas com 15 anos ou mais, em 2022).

Mais presente em trabalhos parciais

A participação das mulheres em trabalhos parciais no país é quase o dobro frente à fatia dos homens. Elas são as que mais ocupam postos com carga horária reduzida e que costumam ter menor cobertura trabalhista e previdenciária. Enquanto a proporção de mulheres em trabalho parcial foi de 28% em 2022, 14,4% dos homens estiveram nessa condição no mesmo período.

O panorama das mulheres no mercado de trabalho pouco mudou no país ao longo da década, conforme indicam os dados. Em 2012, 29,8% das mulheres estavam ocupadas em trabalho parcial, contra 12,6% de homens nessa condição. De lá para cá, o percentual das mulheres em trabalho parcial variou em torno de 1 ponto percentual - ora para cima, ora para baixo - a cada ano.

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