Para a agenda da equidade de gênero avançar no mercado de trabalho, a maternidade precisa deixar de ser um “pedágio” para a carreira das mulheres, avaliam especialistas. Algumas empresas já tentam lidar com o tema, com iniciativas como licença-paternidade estendida para além do prazo legal de cinco dias, acolhimento maior às funcionárias no retorno ao trabalho após a maternidade e até políticas como o custeio do congelamento de óvulos para aquelas que decidem adiar, momentaneamente, os planos de ser mãe.
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— A maternidade é um enorme pedágio para mulheres. O cuidado como um todo, com pais, familiares doentes, é um atravessador para a carreira da mulher — diz Maíra Liguori, diretora da consultoria Think Eva.
Ela defende que uma licença-paternidade de prazo semelhante ao concedido para as mães, com uma política pública e subsídio do governo, ajudaria na agenda de equidade.
Peso da licença dos pais
No Brasil, enquanto as mães têm quatro meses de licença legal, os pais contam com cinco dias apenas. As companhias que aderem ao programa Empresa Cidadã, que tem como contrapartida benefícios fiscais, concedem 20 dias aos pais e seis meses para as mães.
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Em dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que o Legislativo foi omisso quanto à regulamentação da licença-paternidade, prevista na Constituição, e determinou que o Congresso legisle sobre o tema em até 18 meses. Após esse prazo, se a inércia continuar, a licença-paternidade será automaticamente equiparada à licença-maternidade, de 120 dias.
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O acolhimento às mães que voltam ao trabalho após a maternidade também é indispensável, avaliam especialistas. A mudança pede medidas integradas ao dia a dia da empresa. Na gravidez do segundo filho, hoje com 1 ano de idade, a gerente de marketing do Grupo Cataratas, Camila Martins, de 34 anos, teve uma experiência diferente da primeira gestação. Na volta ao trabalho, contou com uma infraestrutura de apoio.
— Muitas vezes, no meio de uma reunião, eu precisava sair para tirar leite, e todos compreendiam — lembra. — Nas unidades do Cataratas, há uma “sala cegonha”, com privacidade e cadeira de amamentação.
Para as mulheres que decidem adiar a maternidade, muitas empresas começam a oferecer apoio para o congelamento de óvulos e a fertilização in vitro, conta Débora Ribeiro, gerente comercial de parcerias estratégicas na consultoria Robert Half. No Brasil, a Microsoft e o Mercado Livre são exemplos de companhias que oferecem esses benefícios aos colaboradores.
— Muitas mulheres querem ser mães, mas estão focadas na carreira. Não querem tomar essa decisão aos 30, 35 anos. Ainda são raras as empresas que estão bancando o congelamento de óvulos, que tem custo altíssimo, de cerca de R$ 30 mil. Mas isso tende a aumentar, quando as empresas notarem que conseguem reter ou atrair talentos por causa desse benefício — avalia.