Após uma queda de mais de 10% no valor das ações da Petrobras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá uma reunião com o presidente da empresa, Jean Paul Prates, nesta segunda-feira no Palácio do Planalto. Em teleconferência com analistas na semana passada, Prates escancarou um racha no Conselho de Administração da Petrobras na votação sobre pagamento de dividendos extraordinários.
Na última quinta-feira, a empresa divulgou seus resultados de 2023 com uma queda de 33,8% nos lucros e anunciou um pagamento de dividendos (parcela do resultado da empresa distribuída aos acionistas) abaixo do previsto pelo mercado. O encontro está previsto para 15h.
As ações da Petrobras, que eram vendidas a R$ 40,50 no fechamento do mercado na quinta-feira abriram em queda na sexta e terminaram cotadas a R$ 36,30.
Abstenção de Prates
Em reunião com investidores na sexta-feira, Prates explicitou a divisão no Conselho de Administração da empresa em relação ao pagamento dos dividendos. Existia a perspectiva no mercado financeiro de que a estatal distribuiria ao menos 50% dos dividendos extraordinários, mas e empresa decidiu reter esse repasse.
- As atas (da reunião do Conselho) são públicas. Os conselheiros do governo votaram por 100% (dos dividendos extraordinários) para reserva. Os conselheiros privados votaram por 100% da distribuição. E eu, como presidente, me abstive de votar, porque não faria diferença para o resultado, e acompanhei o voto da minha diretoria que propôs 50%-50% (a diretoria não participa do Conselho, apenas faz a proposta para a votação) - disse Prates.
De acordo com a colunista do GLOBO, Bela Megale, Jean Paul Prates se absteve na votação do Conselho que decidiu sobre os dividendos. Em reunião realizada com minoritários, Prates teria dito que as intervenções dos ministros Rui Costa e Alexandre Silveira na empresa inviabilizaram seu posicionamento no Conselho.
A reunião de hoje entre Lula e Prates ocorre em meio a uma disputa entre o presidente da Petrobras e os ministros nos bastidores. Segundo a colunista do GLOBO, Malu Gaspar, Prates participou da reunião do Conselho de forma remota, exatamente porque previa uma derrota sobre a questão dos dividendos por causa dos votos dos indicados do governo para o colegiado.
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Lula arbitrou decisão
O conselho da estatal tem 11 conselheiros, dos quais seis alinhados com o governo. Isso fez com que a visão dos ministros prevalecesse na reunião.
De acordo com a colunista Mau Gaspar, a decisão foi arbitrada pelo próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, depois de duas reuniões no Palácio do Planalto com a presença de ministros, diretores e conselheiros da companhia. Nenhum dos encontros constou na agenda oficial do presidente ou dos ministros.
Nesta reunião, Prates defendeu a proposta da diretoria de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram livres no caixa após o pagamento dos dividendos regulares – R$ 43,9 bilhões. Já o grupo de Silveira defendia segurar todo esse dinheiro em um fundo de reserva.
Prates disse que não pagar o dividendo extra poderia derrubar o valor de mercado da companhia e sustentou que não havia risco financeiro em fazer os pagamentos.
Já Silveira dizia que, de acordo com um estudo técnico, a distribuição afetaria a capacidade da empresa de se financiar para fazer frente ao plano de investimentos de US$ 102 bilhões.