Andar pelas oliveiras, observar a extração do óleo, degustar azeites frescos e harmonizá-los com a gastronomia regional. Essa é a proposta do olivoturismo na Serra da Mantiqueira de Minas Gerais, onde dezenas de propriedades abrem suas porteiras — e pomares — e recebem visitantes.
Entre os meses de janeiro e março, período da colheita das azeitonas, é possível acompanhar a retirada dos frutos das árvores. Neste ano, as oliveiras estão mais carregadas. Segundo o consultor especializado Nilton Oliveira, a safra na região pode atingir o volume recorde de 400 mil litros de azeite, mais do que o dobro de 2023.
Dois fatores ajudam a explicar o salto na produção: o aumento de área plantada e as condições climáticas. Diferentemente de muitas culturas, que sofreram com os efeitos do El Niño, as oliveiras foram beneficiadas com o clima do último ano.
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— Os frutos das oliveiras precisam do contato com a água, mas sem excessos. No cenário ideal, teríamos chuvas regulares durante o período vegetativo e frio mais intenso no início do inverno, para a florada acontecer em agosto. E foi o que aconteceu — diz o especialista em olivicultura.
Bastante explorado por vinícolas ao redor do mundo, o turismo ainda é novo para os olivicultores da região mineira. A iniciativa surge como uma oportunidade de apresentar os diferenciais do produto nacional frente aos importados, favorito dos brasileiros no momento da compra.
Notas de rúcula e figo
A predileção não é fruto do acaso — tampouco está relacionada à qualidade: enquanto a Europa possui tradição milenar no segmento, a olivicultura ainda é jovem e pouco explorada no Brasil. O país produz cerca de 750 mil litros por ano, enquanto o consumo anual alcança 100 milhões de litros, de acordo com o Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva).
— Muitos chegam aqui e percebem que nunca experimentaram um extravirgem de verdade. O azeite nada mais é do que um suco de azeitona, é preciso consumi-lo fresco. Se não, ele perde suas características principais — afirma Amanda Neris, doutora em Ciências de Alimentos pela UFMG e especialista em análise sensorial.
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Notas de tomate-cereja, rúcula, folha de mostarda e figo branco são alguns dos atributos que podem ser saboreados. A complexidade de sabores que misturam doçura, amargor e acidez estão relacionadas com as variedades utilizadas na produção. Na região da Serra da Mantiqueira, as espanholas arbequina e arbosana, e a grega koroneiki são as mais comuns.
— Nosso grande inimigo é a não valorização do produto. Quando os turistas conhecem o processo, entendem melhor a relação custo e benefício. Estamos falando de um cultivo delicado, que dá uma vez ao ano, não segue padrão e, no caso da Mantiqueira, ainda é essencialmente manual — afirma Manoela da Silva Costa, produtora da Fazenda Serra que Chora.
Apesar de a Região Sul ser a maior produtora nacional de azeite, a primeira extração brasileira de óleo de oliva foi realizada em 2008, no Campo Experimental de Maria da Fé da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). O pioneirismo foi resultado de uma parceria entre a instituição e Ítalo Mostarda, filho de olivicultores italianos que sonhava em trazer a técnica para o Brasil.
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Atualmente, a empresa segue buscando tecnologias para auxiliar os produtores da região — possui uma agroindústria própria, laboratório de testagem e um banco de germoplasma com mais de 50 variedades de oliveiras. Oito têm patentes patentes registradas pela Epamig e Fapemig.
Conhecida como a capital do azeite extravirgem, a cidade mineira de Maria da Fé tornou-se uma das paradas obrigatórias no roteiro. Na Fazenda Santa Helena, os visitantes podem experimentar o premiado Monastro. A poucos quilômetros dali, o Olival Quemelém chama atenção pela vista, pelo cultivo da oliveira Maria da Fé — variedade 100% mineira — e pela produção do Zet, primeiro azeite biodinâmico do país.
Sozinho, o olivoturismo ainda não é capaz de movimentar a economia da região, mas José Maurício Ribeiro, Secretário de Turismo de Maria da Fé, acredita em uma mudança do cenário nos próximos anos.
— Vemos as buscas por esse tipo de passeio aumentar, existe uma tendência. A experiência sensorial, de participar da colheita, observar o fruto ainda na árvore e degustar o azeite é enriquecedora. Temos um desafio, mas acreditamos que, muito em breve, vamos nos consolidar como um destino turístico — vislumbra.
*A jornalista viajou a convite da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive)