O mercado formal de trabalho registrou 180.395 empregos criados no mês de janeiro, considerando contratações menos demissões, segundo dados consolidados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) nesta sexta-feira.
É o dobro do número de vagas abertas em janeiro de 2023, quando o Caged registrou saldo líquido de 90.031 novos postos. O resultado veio acima do que projetavam analistas do mercado financeiro.
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Do total de empregos criados em janeiro, 37.001 se referem a contratos de trabalho atípicos, com a predominância de trabalhadores com menos de 30 horas semanais e intermitentes, modalidades criadas pela reforma trabalhista.
Também houve um acréscimo de renda. O salário médio de admissão subiu para R$ 2.118,32, uma alta de 3,38% em relação a dezembro do ano passado.
Serviços puxam abertura de vagas
As contratações em janeiro foram puxadas pelos setores de serviços, com 80.587 postos e pela indústria de transformação, com 65.763 vagas. Houve fechamento de 38.212 vagas no comércio, o que sazonalmente ocorre em janeiro com o fim das vagas temporárias de Natal.
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, destacou a performance do setor de indústria.
— Comparado com o ano passado, a gente olhava a indústria sempre andando muito de lado (...) Espero que isso seja um anúncio de continuidade até o fim do ano — afirmou o ministro em coletiva nesta sexta-feira.
O Brasil agora tem 45,697 milhões de pessoas trabalhando formalmente nos setores público e privado.
Os estados que mais contrataram foram São Paulo, com saldo positivo de 38.499, Santa Catarina, 26.210, Rio Grande do Sul, 20.810 e Paraná, 20.198. Os menor saldo foi registrado no Maranhão, que perdeu 831 postos de trabalho.
Os dados do Caged, um registro administrativo, consideram os trabalhadores com carteira assinada, e não incluem os informais. São diferentes dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, que captam os empregos informais e cuja fonte são entrevistas com os próprios trabalhadores.
Números surpreendem analistas
A abertura de vagas em janeiro surpreendeu positivamente. Pesquisa do jornal Valor com analistas do mercado financeiro apontava para a abertura líquida de 86,5 mil vagas. O dado divulgado pelo MTE veio acima até da mais otimista das projeções da pesquisa, que estimava a abertura de 115,4 mil postos.
José Márcio Camargo, economista-chefe da corretora Genial Investimentos, a aceleração revelada pelos números de janeiro já era esperada por economistas, e tem a ver com a evolução da atividade no ano passado. Em 2023, o crescimento econômico de 2,9% foi todo concentrado no primeiro semestre.
— Crescimento foi forte no primeiro semestre e estagnou no segundo semestre. Agora, neste começo do ano, temos uma retomada — disse Camargo. — Sem dúvida, esses primeiros números de janeiro estão mostrando uma reaceleração da economia em relação ao fim do ano passado.
Os números do Caged de janeiro vieram tão positivos que levaram Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, a fazer uma análise mais detalhada sobre a base de dados divulgada pelo MTE, para verificar a possibilidade de alguma explicação atípica para o crescimento em janeiro.
Segundo Donato, a análise apontou que a geração de vagas foi mesmo generalizada no primeiro mês do ano, sinalizando para uma economia que parece estar em aceleração.
Mesmo o comércio, única atividade a registrar fechamento de vagas em janeiro, teve desempenho positivo. É comum o setor fechar postos de trabalho em janeiro, por isso, quando se faz o cálculo do ajuste sazonal, para eliminar esse efeito que ocorre sempre nessa época do ano, o comércio fica com saldo positivo em torno de 30 mil empregos, estimou Donato.
– Quando dessazonalizado, o mercado de trabalho como um todo registrou a abertura de cerca de 200 mil vagas.
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Após a divulgação dos dados pelo MTE, a XP Investimentos projeta uma criação líquida total de 1,25 milhão de empregos em 2024.
"O emprego formal permanece muito sólido, sinalizando aceleração da atividade doméstica no período recente. O aumento do emprego e dos salários reais dará suporte às despesas de consumo das famílias neste ano", afirma um relatório divulgado pela XP.
Risco de inflação e voo de galinha
Por outro lado, a alta dos salários poderá aquecer demais a demanda e, dessa forma, alimentar a inflação. Tanto Donato quanto Camargo avaliam que o cenário ficou mais complicado para o Banco Central (BC), que vem baixando a taxa básica de juros (a Selic, hoje em 11,25% ao ano) desde agosto.
Tanto que o mercado de títulos futuros de juros viu as taxas subirem ontem – uma aposta de que, talvez, o BC interrompa o ciclo de queda na Selic em nível superior ao anteriormente esperado.
Camargo, da Genial Investimentos, chamou a atenção para outro aspecto do crescimento econômico de 2023. Pelo lado da demanda, a economia foi puxada pelo consumo das famílias e pelas exportações. Os investimentos, importantes para ampliar a capacidade de crescimento, caíram.
— Estamos crescendo com o consumo, mas o estoque de capacidade produtiva não está crescendo. Isso é um sintoma sério de voo de galinha. A pergunta é: será que a taxa de investimento vai voltar a crescer? — afirmou Camargo, destacando que ainda não há sinais de retomada dos investimentos. — Pelo contrário. Esse aumento do intervencionismo do governo sobre o mercado, com tentativa de nomear CEO da Vale e intervenção na Petrobras, é muto negativo do ponto de vista do investimento privado.