O governo anunciou ontem um pacote de medidas voltadas a microempreendedores individuais (MEIs) e às micro e pequenas empresas, incluindo o Eco Invest, uma iniciativa para atrair investimentos privados externos necessários à transformação ecológica do país e para ajudar empresas brasileiras acessarem o mercado de capitais no exterior.
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De acordo com o Secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, as ofertas de derivativos cambiais e de linhas de liquidez para eventos de volatidade cambial excessiva serão estimuladas, com o objetivo de proporcionar mais segurança a investidores estrangeiros.
Desde o início do ano, a Bolsa brasileira já perdeu mais de R$ 30 bilhões em capital estrangeiro, segundo levantamento de Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta.
A criação do "Programa de Mobilização de Capital Privado Externo e Proteção Cambial" já havia sido anunciada no início do ano. Por meio da iniciativa, o governo quer garantir proteção cambial de longo prazo em moeda estrangeira no país. Será oferecida uma espécie de “seguro” para mitigar o risco de variação na taxa de câmbio.
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Em fevereiro, foi anunciado que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) irá desembolsar US$ 5,4 bilhões (cerca de R$ 27 bilhões) — sendo US$ 2 bilhões em linhas de crédito e US$ 3,4 bilhões voltados para cobertura cambial.
Com o Eco Invest, o governo visa agora atrair recursos e tecnologia, criando um ambiente saudável e estrutural de fomento a investimentos produtivos.
— O Eco Invest pode chegar ao ponto de atrair capital externo na casa de bilhões de dólares se for bem-sucedido como esperamos. Os setores elegíveis são os ligados à indústria descarbonizada, energia renovável e infraestrutura sustentável — afirma Ceron.
Diogo Moreira Carneiro, consultor e professor da Fipecafi, não vê entraves para que investidores tenham interesse em fazer negócios no Brasil. Além de o país ser uma das maiores economias do mundo, com um mercado consumidor bastante expressivo, há outras vantagens econômicas. O que pesa contra, em sua visão, são as incertezas globais que levam investidores gringos a buscarem alternativas consideradas mais seguras.
— São medidas muito bem-vindas, mas também não produzem os resultados almejados sozinhas. Investimentos estrangeiros dependem de muitos fatores, alguns fora do controle do governo do país. Além disso, é muito importante manter uma conduta prática alinhada ao discurso. No Brasil, não são raros episódios em que se alteram as regras no meio do jogo, tornando a situação dos investidores mais incertas — opina.
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Outra frente do Eco Invest busca estimular que empresas brasileiras façam captações no exterior, principalmente no mercado de capitais, criando maior integração das companhias com o sistema financeiro internacional.
Isso será feito por meio de linhas de blended finance (uma forma de investimento que une recursos públicos a capital privado com objetivo de financiar projetos de impacto positivo social, ambiental ou de desenvolvimento econômico).
No caso, o setor público irá entrar com e capital catalítico — que visa mitigar o risco dos projetos e atrair capital comercial — para financiar a parte minoritária da demanda de recursos, enquanto a maior parte será captada por meio de uma operação no exterior.
— O objetivo é que, com o aumento do número de operações, tenhamos uma maior integração das empresas domésticas com o sistema financeiro internacional, o que naturalmente aumenta o interesse por empresas brasileiras e acaba transbordando para outros setores, como Bolsa de valores — explica o secretário do Tesouro Nacional.