A taxa de desemprego subiu de 7,5% no trimestre encerrado em dezembro para 7,9% em março, puxada pela habitual dispensa de trabalhadores temporários no início do ano. Apesar do aumento, o indicador está em seu menor nível para o período desde 2014, dez anos antes, quando chegou a 7,2%. E a renda subiu 1,5% na comparação com o fim do ano passado e 4% contra o mesmo período de 2023, alcançando R$ 3.123 no trimestre.
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O resultado veio melhor do que o esperado pelos analistas, que projetavam alta de 8,1% para o desemprego no primeiro trimestre, segundo mediana das projeções compiladas pela Bloomberg. Um sinal de que o mercado de trabalho esteve mais aquecido do que estimava o mercado.
- Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e foram divulgados pelo IBGE nesta terça-feira
- No trimestre encerrado em dezembro, a taxa ficou em 7,4%
O que dizem os analistas?
Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, os números do IBGE consolidam o cenário de desemprego estrutural mais baixo no país. Segundo ele, esse panorama é sustentado por dois fatores. De um lado, a atividade econômica mais forte do que o esperado tem auxiliado na geração de emprego e renda nos últimos meses. Do outro, há uma composição favorável do mercado de trabalho já que a taxa de pessoas aptas a trabalhar segue comportada.
O economista calcula que a taxa de participação, que mede o percentual de pessoas da força de trabalho na população em idade de trabalhar, caiu de de 62% em fevereiro para 61,9%, sendo a terceira retração consecutiva. Isso também ajuda o desemprego a seguir em nível mais baixo:
— Com pessoas mais idosas na composição etária e recebendo auxílio, isso incentiva que as pessoas busquem menos emprego. O desemprego deve continuar bem comportado ao longo do ano. Projetamos uma taxa média de 7,8% no ano, com viés para baixo. Isso só não deve se concretizar se a desaceleração econômica for mais forte no segundo semestre, mas acho pouco provável que isso aconteça — diz Cadilhac, que projeta desemprego caindo a 7,2% em dezembro.
Rodolpho Tobler, pesquisador do FGV Ibre, ressalta que os números mostram um mercado de trabalho aquecido em linha com desempenho mais forte da economia, com destaque para o desempenho dos serviços e do comércio no primeiro trimestre.
Prova dessa resistência do mercado é que, descontados os efeitos sazonais da saída de temporários até março, o desemprego continua com viés de queda no início do ano. Assim como Cadilhac, Tobler aponta que a taxa de participação segue abaixo do pré-pandemia e isso também ajuda a manter o desemprego em patamares baixos:
— Isso tem uma influência, junto com o desempenho da atividade econômica. Ainda vamos continuar tendo geração de vagas no ano como um todo, e a taxa média de desemprego em 2024 deverá ficar próxima de 8%, até um pouco abaixo disso — diz.
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O crescimento da renda média do trabalhador também é um fator positivo e que se confirma por conta da inflação mais controlada e da maior geração de postos formais do ano passado para cá. Mas a perspectiva é de um crescimento mais tímido do rendimento este ano, projeta Tobler:
— A gente vê perda de fôlego na ponta. E, sem que a alta da renda venha acompanhada da produtividade, isso pode ser um problema para a inflação (aumento de preços). E isso pode ser importante para o Banco Central quando se observa a inflação de serviços — alerta o economista, já que o este é um dos indicadores acompanhados pelo BC para analisar as possibilidades de corte de juros.
Dispensa de temporários na educação básica
A alta do desemprego no primeiro trimestre foi puxada, principalmente, pela saída de 782 mil pessoas do mercado de trabalho. Deste total, 75% (ou 589 mil) que deixaram postos estavam ocupados informalmente. No mesmo período, houve um aumento de 542 mil pessoas em busca de ocupação.
Cerca de 320 mil pessoas deixaram seus postos no segmento da administração pública, saúde e educação (ou 1,8% do total ocupado no segmento). Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas Domiciliares do IBGE, essa redução no número de trabalhadores está ligada ao movimento de dispensa dos profissionais sem carteira no setor da educação básica nesta época do ano.
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— São trabalhadores da educação, principalmente docentes, que são lotados em prefeituras por meio de contratos temporários. Acaba tendo essa sazonalidade que é o processo de dispensa na virada do ano. E, à medida que se inicia novamente as atividades educacionais e escolares, há uma recontratação desses profissionais — afirma.
Emprego com carteira segue em alta. Renda sobe para R$ 3.123
A queda no contingente de profissionais que atuam com serviços domésticos também contribuiu com o desemprego. Houve uma queda de 2,3% no percentual de ocupados neste setor, uma redução de 141 mil pessoas em relação ao trimestre anterior.
Segundo Adriana, o primeiro trimestre do ano é historicamente marcado por perda de trabalhadores. E tudo indica que o avanço do desemprego no período não indica mudança de trajetória no mercado de trabalho:
— A taxa de desemprego ainda registra quedas sucessivas no confronto anual — afirma.
Outro dado que demonstra o ímpeto do mercado de trabalho neste ano é o contingente de trabalhadores formais. O número de trabalhadores com carteira assinada permaneceu estável em 38 milhões de pessoas, maior contingente para esta série histórica.
— A estabilidade do emprego com carteira no setor privado, em um trimestre de redução da ocupação como um todo, é uma sinalização importante de manutenção de ganhos na formalização da população ocupada — analisa a coordenadora.
Uma das consequências da manutenção do emprego com carteira foi que o rendimento médio das pessoas ocupadas chegou a R$ 3.123, com alta de 1,5% no trimestre e de 4% na comparação anual.
Pnad x Caged
A Pnad traz informações sobre trabalhadores formais e informais. A pesquisa é divulgada mensalmente, mas traz informações do trimestre. A coleta de dados é feita em regiões metropolitanas do país.
Outra pesquisa, também divulgada nesta terça-feira, é a do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Esta só traz informações sobre trabalho com carteira assinada, com base no que as empresas informam ao ministério.
O Caged apontou que o primeiro trimestre fechou com criação de 719 mil vagas, alta de 33,9% em relação ao registrado no mesmo período do ano de 2023.