O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira que o “tempo vai jogar a favor” do BC para redução de ruídos têm aumentado as expectativas de inflação. Em evento promovido pela corretora Monte Bravo, em São Paulo, ele indicou que a curva inflacionária atual é positiva, mas que a “a notícia não tão boa” segue sendo as previsões para o índice.
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— Alguns ruídos fizeram com que essa expectativa de inflação desancorasse. A gente acha que ao longo do tempo esses ruídos devem ser atenuados ou revertidos — pontuou o presidente do BC.
Após a declaração, o dólar perdeu fôlego, embora ainda esteja em trajetória de alta. Por volta de 13h15, a moeda era cotada a R$ 5,27. Na máxima do dia, bateu R$ 5,29, após divulgação de dados do emprego americano.
Campos Neto também voltou a citar que o país vive um momento atípico em que a inflação corrente é “benigna” enquanto as expectativas estão desancorando, ou seja, estão se distanciando das metas estabelecidas pela autoridade monetária. Ele lembrou, por exemplo, que o último resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) veio melhor do que o projetado.
Ele disse ainda que o último comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) citou o movimento de desancoragem e mencionou a subida nas taxas de juros de longo prazo para títulos públicos como “fator de preocupação”.
— A gente vive um momento que é até um pouco atípico, de termos uma inflação corrente vindo em convergência relativamente benigna ao passo que as expectativas estão desancorando. Já tínhamos antecipado isso um pouco no último Copam e a gente decidiu que era importante passar para o mercado uma visão realista — afirmou Campos Neto.
Entre os riscos no horizonte inflacionário, o presidente do BC citou o mercado de trabalho aquecido, o que poderia gerar inflação de serviços.
Desvinculação do orçamento
O presidente do BC reconheceu que o governo tem feito um “esforço enorme” do ponto de vista de política fiscal, mas ressaltou “inconsistências” nas medidas para controle dos gastos públicos. Ao citar essas inconsistências, Campos Neto voltou a defender desvinculação dos gastos da saúde e educação ao orçamento e a desindexação do salário mínimo com a Previdência.
— A gente vê isso com bons olhos e acha que seria um choque positivo importante se pudesse ser feito.
Sobre impactos da tragédia climática no Rio Grande do Sul, ele lembrou que o estado é responsável por 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, além de ter um peso relevante no agronegócio. Segundo o presidente do BC, será importante acompanhar daqui para frente ‘os efeitos secundários’ das inundações, como o solo prejudicado que pode afetar as próximas safras do estado e ter influência nos preços de alimentos.