Cumprindo agenda de compromissos em São Paulo desde o fim de semana e na reta final de seu mandato, que termina no fim do ano, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, recebeu hoje uma medalha na Assembleia Legislativa (Alesp), foi homenageado num jantar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, oferecido pelo governador Tarcísio de Freitas, e sinalizou o que faria caso volte a operar no mercado.
Ao tecer elogios a Campos Neto, Tarcísio usou uma imagem um tanto original para homenagear o presidente do BC.
— É meu E.T. preferido. É um extraterrestre. A gente conhece pessoas fora da curva, e Roberto Campos é um desses caras, que se destaca pela densidade. Eu não fazia um road show (apresentações de oportunidades de negócios) sem entender o cenário econômico que ia acontecer no Brasil. O que ele dizia, acontecia — disse o governador, na sessão em homenagem na Alesp, já de noite.
Mais cedo, em entrevista durante um evento, Tarcísio já havia chamado Campos Neto de “E.T.”, ao descartar qualquer viés político no jantar, marcado para depois da sessão na Alesp — segundo ele, um “encontro entre amigos”. Tarcísio é apontado como nome da oposição para concorrer ao Planalto, enfrentando o candidato do PT em 2026, dada a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Depois de ter recebido na noite de hoje o "colar de honra ao mérito legislativo" na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) por sua atuação à frente da autoridade monetária, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi homenageado num jantar oferecido pelo governador Tarcísio de Freitas, como adiantou o colunista do GLOBO Lauro Jardim.
Por causa da independência do BC, aprovada em 2021, os diretores da autoridade monetária, incluindo o presidente, têm mandatos por período fixo. Assim, Campos Neto, indicado por Bolsonaro, seguiu no cargo no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mandato termina no fim do ano, quando então Lula poderá indicar um novo presidente do BC.
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Em tom de balanço da gestão, Campos Neto disse na Alesp que trabalhou para “dar previsibilidade a quem gera emprego e produz no país”, afirmou que “o homenageado é o mundo privado, que faz o país andar,” e ressaltou que o processo de desinflação é a melhor política contra a pobreza no país:
— Esse foi o trabalho mais importante de minha vida profissional e temos muito trabalho até o final do ano.
Banqueiros na sessão
Desde o início do governo, Campos Neto tem sido alvo de críticas do Palácio do Planalto, por causa do nível da Selic, a taxa básica de juros (hoje em 10,5% ao ano). O presidente Lula e parte de seu entorno vêm defendendo juros mais baixos desde o início do governo.
A sessão de entrega da medalha na Alesp foi prestigiada pelo banqueiro André Esteves, sócio do BTG Pactual. Estavam lá os presidentes dos bancos Santander, Mario Leão; Bradesco, Marcelo Noronha; BTG Pactual, Roberto Saloutti; e Safra, Alberto Monteiro; assim como o presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Isaac Sidney. Também participou da sessão o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).
O deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos), autor da homenagem, disse, durante a sessão legislativa, que o presidente do BC é “criticado pelos erros que não comete, assim como fizeram com seu avô (o economista Roberto Campos, diplomata, ex-presidente do BNDES, ex-ministro do Planejamento, ex-senador e ex-deputado federal).”
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Antes da sessão da Alesp e do jantar oferecido pelo governador paulista, Campos Neto voltou, no domingo, a defender o equilíbrio das contas do governo como requisito para que a economia brasileira tenha juros estruturalmente mais baixos, em apresentação no Fórum Esfera, que reuniu empresários, investidores e autoridades no Guarujá, litoral de São Paulo. Segundo o presidente do BC, os juros são altos no Brasil por causa dos desequilíbrios, e não o contrário.
Ontem, em um seminário on-line promovido pela gestora Constellation Asset Management, Campos Neto defendeu a clareza na comunicação da autoridade monetária e avaliou que os investidores se preocupam excessivamente com o curto prazo, ao responder sobre o que faria se voltasse a operar no mercado.
— Estando deste lado (no BC), você meio que vê como o bolo é assado, e ver isso acho que coloca uma perspectiva diferente — afirmou Campos Neto, que também defendeu que as autoridades econômicas entendam melhor os sinais do mercado. — Às vezes os formuladores de políticas tentam lutar muito contra as expectativas e não entendem que, fazendo isso, na verdade estão piorando as coisas. Eles precisam entender, aceitar, explicar melhor, e nesse sentido acho que comunicação é muito importante.
*com Valor e Bloomberg