O Brasil envelheceu mais rapidamente do que os especialistas previam, como mostrou o último Censo. Isso significa que a mão de obra mais jovem está diminuindo, o que abre uma janela de oportunidade para a geração de 60 anos para cima voltar ao mercado de trabalho e empreender.
— É a revolução da longevidade. São 172 mil empreendedores com mais de 64 anos no estado, mais concentrados nos serviços (55%) e comércio (21%). E parte relevante tem ensino superior, 37%, o que também explica o rendimento maior, acima de cinco salários mínimos — afirma Juliana Lima, analista do Sebrae Rio.
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Mas a taxa de desemprego subiu nessa faixa etária. Apesar de ser bem mais baixa que a média — 3,2% contra 7,7% — somente 1,7% dessa força de trabalho procurava trabalho em 2012.
— O preconceito ainda existe, embora tenha reduzido. O que pesa muito hoje é a qualificação. E há vagas que demandam experiência, maturidade, o que pode ajudar a se recolocar — afirma Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH- Brasil).
A adaptação aos novos mercados vem garantindo a sobrevivência da empresa Mycroarq, do casal Sidneida e Almir Veras. Ela com 64 anos e ele com 69 anos. Tudo começou em Itaipu, onde Veras chefiava o centro de documentação, era arquivista.
Com a mudança do escritório da usina do Rio para o Paraná, Almir Veras preferiu ficar no Rio e, assim, começou a empresa do casal. No princípio, eles ofereciam organização de documentos e microfilmagem. Mas o mercado mudou rapidamente.
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— Tivemos muitos altos e baixos. Foi difícil. Com a tendência de mudança de analógico para o digital, mudamos o foco da microfilmagem. E partimos para digitalização. Minha mulher se especializou em TI. Eu ficava com a parte prática da documentação, e ela com os sistemas — contou Almir Veras.
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Aposentadoria não está nos planos do casal. Atualmente, a microempresa fatura entre R$ 600 mil e R$ 1 milhão por ano.
Ter domínio da atividade que pretende investir é fundamental para ter sucesso no empreendimento. Uma alternativa para quem está acima de 60 anos e precisa de recolocar no mercado, na avaliação de Sardinha:
— Empreendedorismo por falta de alternativa eleva o risco do fracasso. Pessoas seniores são muito bem-vistas. É importante ter uma rede de networking e mostrar-se atualizado.
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Sardinha aconselha a ouvir a experiência de outros empreendedores, como os obstáculos e como conhecer bem a legislação do setor que pretende empreender:
— Aprender com erro é melhor quando o erro é dos outros. Nesse momento em que se está empreendendo, não se pode ficar fazendo tentativas, pode custar caro.
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Juliana, do Sebrae, lembra da importância de se preparar para gestão ao abrir um negócio que normalmente leva as economias de uma vida.
— Às vezes, a pessoa tem muito conhecimento de uma atividade, em função do emprego anterior, mas não tem conhecimento como gestor de negócio, não faz um planejamento adequado.