O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que irá discutir uma revisão de gastos do governo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nos próximos dias, mas ponderou que não irá fazer ajuste fiscal "em cima dos pobres". A declaração do presidente se deu em meio à pressão para que o governo promova um equilíbrio nas contas públicas por meio da revisão de despesas, e não apenas com aumento de arrecadação.
O presidente afirmou ter pedido ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, uma reunião para discutir orçamento do governo na semana que vem, após retornar da Itália, onde participou de reunião da Cúpula do G7. A previsão é que o presidente desembarque na noite deste sábado em Brasília.
— Antes de sair, eu pedi para Rui Costa preparar uma reunião do conselho orçamentário para semana que vem. Eu quero fazer a discussão sobre o Orçamento (de 2025) e quero discutir os gastos. O que muita gente acha que é gasto, eu acho que é investimento.
Investimentos em educação e saúde
Lula foi questionado também sobre a discussão a respeito das mudanças nas regras constitucionais que preveem um valor mínimo anual para investimentos em saúde e educação. Uma nova regra para corrigir os gastos nestas duas áreas, se adotada, poderia possibilitar uma folga de R$ 190 bilhões nas despesas discricionárias do governo ao longo dos próximos dez anos. O presidente, contudo, se mostrou resistente à mudança.
— Achar que nós temos que piorar saúde, que temos que piorar educação para melhorar (as contas públicas)... Isso é feito há 500 anos no Brasil. Há 500 anos o povo pobre não participava do orçamento — disse Lula.
Na quarta-feira, uma declaração do presidente sobre a situação fiscal no país fez o dólar disparar. Lula afirmou em evento no Rio que "o aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão alcançar a meta de déficit sem comprometer os investimentos". A falta de menção a corte de despesas fez com que o mercado reagisse.
Alerta com MP de PIS/Cofins
Além disso, nesta semana, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) devolveu ao Executivo uma Medida Provisória que limitava o crédito de PIS/Cofins para empresas após reação negativa entre parlamentares e empresários. Foi a primeira vez no atual mandato do presidente Lula que o Legislativo rejeitou uma medida provisória, num recado de que o Congresso não aceitará novas medidas de arrecadação que mexam nos tributos.
Questionado na entrevista à Itália se o revés mostrava um isolamento de Haddad no governo, o presidente saiu em defesa do seu ministro da Fazenda e disse que ouvirá a proposta do auxiliar para reduzir despesas.
— O Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente da República, porque ele é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim e mantido por mim. Se o Haddad tiver uma proposta, ele vai me procurar essa semana e vai discutir economia comigo — afirmou o presidente.
Ele completou:
— A gente não vai fazer ajuste em cima dos pobres.
Em entrevista ao GLOBO na sexta-feira, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que vai apresentar um “cardápio” de medidas ao presidente Lula. Ela mencionou a revisão da previdência dos militares como possibilidade. E disse que Lula sabe que “praticamente a única coisa que deu quase que 100% certo” no governo no ano passado foi a agenda econômica.