Economia
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Por , Em The New York Times — Montana

Embora muitas pessoas possam imaginar visões românticas de um rancho em Montana — vastos vales, riachos frios, montanhas cobertas de neve — poucas entendem o que acontece quando o gado deixa esses pastos. A maioria deles, ao que parece, não permanece em Montana.

Mesmo em um estado com quase o dobro de vacas em relação à população, apenas cerca de 1% da carne bovina comprada pelas famílias de Montana é criada e processada localmente, de acordo com estimativas da consultoria Highland Economics. Como ocorre no restante do país, muitos habitantes de Montana consomem carne bovina de lugares tão distantes quanto o Brasil.

Aqui está um destino comum para uma vaca que começa no pasto de Montana: ela será comprada por um dos quatro frigoríficos dominantes — JBS, Tyson Foods, Cargill e Marfrig — que processam 85% da carne bovina do país; transportada por uma empresa como Sysco ou US Foods, distribuidores com um valor combinado de mais de US$ 50 bilhões; e vendida em um Walmart ou Costco, que juntos recebem aproximadamente metade dos dólares gastos com alimentos nos Estados Unidos.

Qualquer pecuarista que queira sair desse sistema — e, por exemplo, vender sua carne localmente, em vez de como commodities anônimas que cruzam o país — são Davis, em meio a um enxame de Golias.

— Os frigoríficos têm muito controle. Eles tendem a influenciar tremendamente toda a cadeia de suprimentos — diz Neva Hassanein, professora da Universidade de Montana que estuda sistemas alimentares sustentáveis. Para os pecuaristas do país, cujos lucros diminuíram ao longo do tempo, "é uma espécie de armadilha", afirmou.

Grelha no restaurante The Union — Foto: Rebecca Stumpf / The New York Times
Grelha no restaurante The Union — Foto: Rebecca Stumpf / The New York Times

Cole Mannix é um dos que tentam escapar dessa armadilha.

Mannix, de 40 anos, tem a tendência de filosofar. Ele inclusive já pensou em se tornar um padre jesuíta. Como membros de sua família desde 1882, ele cresceu na pecuária: enfardando feno, ajudando no nascimento de bezerros e guiando, sobre cavalos, o gado para as terras altas. Ele quer garantir que a próxima geração, a sexta, tenha a mesma oportunidade.

Então, em 2021, Mannix abriu a Old Salt Co-op, uma empresa que visa revolucionar a forma como as pessoas compram carne.

Enquanto muitos pecuaristas de Montana vendem seus bezerros para a máquina industrial multibilionária quando eles têm menos de um ano de idade, nunca mais os vendo ou lucrando com eles, o gado da Old Salt nunca sai das mãos da empresa.

O gado é criado pelos quatro ranchos membros da Old Salt, abatido e processado em sua instalação de processamento de carne, e vendido através de seus restaurantes de fazenda para a mesa, eventos comunitários e site. Os pecuaristas, que são proprietários da empresa, lucram em cada etapa.

O termo técnico para essa abordagem — na qual uma empresa controla vários elementos de sua cadeia de suprimentos — é "integração vertical". Não é algo que muitas pequenas empresas de carne tentam, pois requer uma grande quantidade de capital inicial.

— É um momento assustador. Estamos realmente tentando inventar algo novo — disse Mannix, referindo-se à dívida considerável da empresa. Mas ele acrescenta:

— Não importa o quão arriscado seja iniciar um negócio como a Old Salt, o status quo é mais arriscado.

Teria sido muito mais simples para a Old Salt abrir apenas uma instalação de processamento de carne, como alguns pecuaristas fizeram, e não se preocupar com restaurantes e eventos. Mas, na verdade, é aí que grande parte da atenção nacional se concentrou: a Casa Branca recentemente comprometeu US$ 1 bilhão para processadores de carne independentes, citando a falta de competição dos grandes frigoríficos.

Mas Mannix disse que isso não teria resolvido o outro problema que os pecuaristas enfrentam: a dificuldade de acessar distribuidores e clientes.

— Não importa se você tem uma boa instalação de processamento se você não consegue vender o produto. Você não pode reconstruir o sistema alimentar apenas jogando uma grande quantidade de dinheiro em um componente desse sistema alimentar — disse.

A Old Salt é sua tentativa de reconstruir todo o sistema. E as pessoas estão percebendo.

— A Old Salt é um farol. Eles estão mostrando ao resto de nós que, ao combinar empreendimentos e colaborar de maneiras criativas, é possível fazer o sistema funcionar — disse Robin Kelson, diretora executiva da Abundant Montana, uma organização sem fins lucrativos que promove alimentos locais.

Em um sábado recente, o mais novo restaurante do centro de Helena, o Union, estava agitado. Uma grelha a lenha assava um bovino, enquanto os clientes comiam bifes e costelas; na frente, um balcão de açougue brilhava com bacon e salsichas para o café da manhã. Tudo isso vinha dos ranchos membros da Old Salt.

Este "restaurante-açougue" é a mais recente empreitada da Old Salt. Ele se junta ao Outpost, uma barraca de hambúrguer dentro de um bar de 117 anos, e ao Old Salt Festival, um evento repleto de comida e música da agricultura sustentável no rancho de Mannix. Agora em seu segundo ano, o festival acontece no fim de junho. Isso além da instalação de processamento de carne da empresa e do programa de assinatura criado pela marca.

Andrew Mace, cofundador e diretor culinário da Old Salt, provavelmente não recomendaria começar cinco negócios em três anos. Mas ele disse que tudo fazia parte do “plano muito ambicioso da empresa para reimaginar a economia local de carne.”

Hambúrguer do The Outpost, que possui 117 anos de história — Foto: Rebecca Stumpf / The New York Times
Hambúrguer do The Outpost, que possui 117 anos de história — Foto: Rebecca Stumpf / The New York Times

Embora Mace queira que todos os empreendimentos da Old Salt deem lucro, seu propósito maior é servir como veículos de marketing para o serviço de assinatura de carne: para que os clientes se apaixonem pelo filé de costela do Union e, em seguida, assinem o “pacote de bife e costeletas” da empresa, entregue todos os meses.

Nos próximos cinco anos, o objetivo da Old Salt é vender, por ano, carne para 10 mil famílias, um aumento significativo em relação às cerca de 800 famílias atuais. Isso não será fácil: os americanos estão acostumados a comprar carne moída no supermercado, não em um site.

— É preciso muito esforço para mudar os hábitos de consumo das pessoas e fazê-las entender que você não está apenas comprando carne, está investindo nas paisagens locais — diz Mace.

Isso é importante para Mannix. Ele escolheu a dedo os membros da Old Salt entre mais de nove mil ranchos em todo o estado porque compartilham sua dedicação à pecuária regenerativa, um conjunto de princípios que busca renovar os solos e reduzir o impacto ambiental do gado.

Seu objetivo geral é colocar mais dinheiro nas mãos desses pecuaristas para que eles possam investir mais tempo e dinheiro no cuidado de suas terras. Ao todo, os ranchos da Old Salt gerenciam mais de 200 mil acres (cerca de 809 quilômetros quadrados), o equivalente a cerca de metade do território da cidade de São Paulo.

É por isso que os pecuaristas da Old Salt são os principais proprietários da empresa e compartilham os lucros:

— Não queríamos ser uma empresa de carne que compra gado dos pecuaristas e, eventualmente, à medida que cresce, tem um incentivo para pagar o mínimo possível por esse gado. Isso deixa menos dinheiro para pagar pelo tempo necessário para realmente cuidar dos ecossistemas — disse Mannix.

Unir quatro ranchos sob uma marca permitiu que os membros compartilhassem seus produtos e recursos de marketing, em vez de competir entre si.

— É preciso coragem para fazer o que eles estão fazendo, mas precisamos de pessoas assim, na linha de frente, para mostrar o caminho — disse Hassanein.

Embora possa parecer irônico, dado que a produção de carne bovina responde por quase 9% das emissões globais de gases de efeito estufa, ela disse que apoia esses ranchos precisamente porque se preocupa com a vida selvagem e o meio ambiente.

— Esses são ranchos bem conhecidos; muitos deles são conservacionistas premiados. Se eles não conseguirem sobreviver economicamente, então realmente temos que nos perguntar o que vai ocupar seu lugar — disse Hassanein.

Essa é uma pergunta que muitos dos pecuaristas da Old Salt, que estão navegando tanto por pressões econômicas quanto ambientais, também têm se feito. Como disse Cooper Hibbard, um pecuarista de quinta geração e presidente do conselho da Old Salt:

— É claro que não podemos continuar fazendo o que temos feito, caso contrário, não teremos um rancho para passar para a próxima geração. Estamos tentando traçar um novo modelo e estamos realmente apostando alto.

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