A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta quinta-feira, uma operação contra ex-diretores da Americanas, acusados de fraudes contábeis que chegam a R$ 25,3 bilhões. A Operação Disclosure, em parceira com o Ministério Público Federal, levou cerca de 80 policiais federais para as ruas do Rio.
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Quem são os ex-executivos da Americanas alvo de operação da PF?
Eles cumprem dois mandados de prisão preventiva contra o ex-CEO Miguel Gutierrez e ex-diretora Anna Christina Ramos Saicali, que estão no exterior e são considerados foragidos. Os nomes deles serão incluídos na lista da Interpol. Outros executivos são investigados. A PF também cumpre 15 mandados de busca e apreensão.
O que a Justiça Federal determinou?
A Justiça Federal determinou o sequestro de bens e valores de ex-diretores, que somam mais de meio bilhão de reais. Os mandados foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. A investigação também contou com o apoio técnico da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Segundo o colunista Lauro Jardim, Gutierrez tem cidadania espanhola e saiu do país pelo temor de ser preso. Ele mora há um ano na Espanha.
PF mira ex-executivos das Americanas em ação contra fraude de R$ 25 bi
Anna Christina deixou o Brasil no último dia 15 rumo a Portugal, segundo a colunista Malu Gaspar. Ainda não se sabe se ela soube com antecedência da operação da Polícia Federal. Segundo fontes da coluna, ela não tem cidadania portuguesa e está no país com visto de trabalho.
Num dos pontos de buscas na Av. Delfim Moreira, no Leblon, na Zona Sul do Rio, quatro policiais aguardaram cerca de três horas, junto a dois advogados de defesa, a empregada doméstica de um dos investigados chegar para abrir o apartamento.
Os agentes, que aguardavam na portaria, subiram para o apartamento por volta de 10h e saíram uma hora e meia depois, com uma mochila, mas não informaram o conteúdo apreendido. Receosos, vizinhos não quiseram falar com a reportagem. A polícia não revelou onde quem mora no endereço.
Por que ex-diretores da Americanas são alvos de operação da PF?
A investigação foi baseada nas delações premiadas dos ex-executivos da empresa Marcelo da Silva Nunes, que foi diretor executivo financeiro da Americanas, e Flavia Carneiro, ex-diretora de controladoria.
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Os dois tinham participação direta nas fraudes e, depois de fechar o acordo com a PF e o Ministério Público Federal, forneceram cópias de e-mails, mensagens de celular e documentos que comprovariam a fraude.
Como era o esquema de fraude na Americanas?
Segundo os investigadores, os ex-diretores praticaram fraudes contábeis relacionadas a operações de risco sacado, que consiste numa operação na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos.
Também foram identificadas fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), que consistem em incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor, mas no caso da Americanas as VPCs contabilizadas eram fictícias, nunca existiram.
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Suspeita de 'insider trading'
De acordo com a Polícia Federal, a investigação também revelou fortes indícios da prática do crime de manipulação de mercado e de "insider trading”, quando acontece o uso de informação privilegiada para obter ganhos com venda ou compra de ações.
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Também há suspeitas de associação criminosa e lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, os envolvidos na fraude poderão cumprir pena de até 26 anos de reclusão.
O nome da Operação Disclosure foi escolhido porque a expressão em inglês é muito utilizada no mercado financeiro e significa fornecer informações para todos os interessados na situação de uma companhia, ou seja, visa a dar transparência à situação econômica da empresa.
Os três bilionários que são acionistas de referência da Americanas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira, dizem que não sabiam da fraude. Eles não são alvo da operação.
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Após o rombo contábil ser revelado, em janeiro de 2023, a Americanas entrou em recuperação judicial.
Em nota, a empresa disse que "reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes".
"A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos", completa a nota.
Veja os alvos da investigação:
- Miguel Gutierrez
- Anna Christina Soteto
- Anna Saicali
- Carlos Eduardo Padilha
- Fabien Picavet
- Fabio Abrate
- Jean Pierre Ferreira
- João Guerra Duarte Neto
- José Timotheo de Barros
- Luiz Augusto Henriques
- Marcio Cruz Meirelles
- Maria Chirstina Do Nascimento
- Murilo dos Santos Correa
- Raoni Lapagesse Franco
Veja o que dizem os acusados
A defesa de Miguel Gutierrez disse em nota que não teve acesso aos autos das medidas cautelares deferidas nesta quinta-feira e por isso não vai comentar. "Miguel reitera que jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios", imformou em nota.
Procurada, Anna Christina Ramos Saicali, ainda não se pronunciou.
A defesa de José Timotheo de Barros disse que a operação de busca e apreensão da PF em sua residência é "desnecessária". "Desde o início das apurações, documentos, informações econômicas e dados telemáticos foram colocados à disposição para a apuração do caso", diz a nota, assinada pelo advogado Antonio Sérgio Pitombo, do Moraes Pitombo Advogados.
"De toda forma, o fato de hoje (a operação da PF) é importante para que seja concedido pela Justiça o reiterado pedido de acesso às delações premiadas".
Os demais acusados estão sendo procurado pelo GLOBO.
Correção: Uma primeira versão desta reportagem afirmava que Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira tinham conhecimento do suposto esquema. No entanto, eles não são alvo da operação da PF desta quinta-feira, e sempre negaram qualquer conhecimento ou envolvimento na fraude.