Um sistema democrático de tomada de decisões, lastreadas em planejamento estratégico de curto, médio e longo prazos, flexibilidade na operação e diversificação de investimentos tornaram as cooperativas um modelo de negócios “vencedor de adversidades”, afirma João José Prieto, coordenador do ramo agro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
A sequência recente de eventos climáticos extremos, com estiagem mais prolongada nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste e secas seguidas por enchentes no Sul do país, torna o cenário para este ano incerto, diante da quebra das safras de soja e de milho e de perspectivas de menor faturamento. Mas, numa visão de prazo mais longo, Prieto se firma na capacidade de gestão de crises acumulada pelo setor cooperativo.
A interação entre as áreas de gestão e de governança, com membros eleitos pelos cooperados, permite antever cenários mais difíceis e endereçar soluções, avalia. Um portfólio diversificado, da produção ao processamento de grãos, carnes e leite, diz ele, dilui riscos inerentes à atividade rural.
A capilaridade do sistema, na mesma linha, reforça a capacidade das cooperativas agropecuárias de difundir conhecimento e boas práticas, ao mesmo tempo em que a maior escala na compra de insumos e na venda da produção assegura aos cooperados mais poder de negociação, aponta Prieto.
Faturamento incerto
A despeito dos desafios, as principais cooperativas anunciaram ou estão investindo em novos projetos, especialmente em armazenagem e agroindústria. Neste ano, devem ser destinados R$ 18 bilhões na instalação de armazéns e indústrias para processamento de grãos, proteínas animais, biocombustíveis e fibras.
Às voltas com problemas climáticos nas regiões atendidas e com a safra de inverno do milho em andamento, a Cocamar Cooperativa Agroindustrial, em Maringá (PR), ainda não tem previsão para as receitas deste ano. Em 2023, o faturamento crescera 17%, para R$ 3 bilhões, diz Leandro Cezar Teixeira, superintendente de Relação com o Cooperado.
As adversidades no clima levaram a Cocamar a desenvolver um trabalho de manejo dos solos em parceria com instituições como a Embrapa:
— Uma das bandeiras é o programa de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), adotado em 200 mil hectares.
Desde o ano passado, a Cocamar investe na ampliação de sua capacidade de armazenamento de grãos de 2,2 milhões para 2,5 milhões de toneladas.
Já a Integrada Cooperativa Agroindustrial, segundo seu superintendente-geral, Haroldo Polizel, trabalha com a perspectiva de redução do faturamento neste ano, depois de ter registrado alta acumulada de 42% nos dois anos anteriores. Ele tem adotado medidas para minimizar a queda no faturamento, provocada por perdas na produção por problemas climáticos e pela retração nos preços agrícolas.
A Integrada decidiu reduzir estoques e despesas, implantando gestão financeira. E vai manter investimento anual médio de R$ 200 milhões na expansão da capacidade de armazenagem, recepção e secagem e estuda investir na ampliação de plantas industriais.