O governo aumentou a estimativa de inflação para 2024 de 3,7% para 3,9%. A nova estimativa leva em conta os impactos da desvalorização do real frente ao dólar nas últimas semanas e a calamidade no Rio Grande do Sul nos preços. Também entraram nos cálculos os recentes reajustes nos valores da gasolina e do gás.
A nova projeção foi divulgada, nesta quinta-feira, no Boletim Macrofiscal da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Para 2025, a previsão de inflação medida pelo IPCA também aumentou, de 3,2% para 3,3%.
A meta estipulada pelo governo para a inflação é de 3%. Há uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual tanto para cima como para baixo.
Os técnicos da SPE mantiveram a projeção de crescimento do PIB em 2024 em 2,5%, mas revisaram para baixo estimativa para 2025, de 2,8% para 2,6%, diante da expectativa de juros maiores. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinalizou que o governo poderia aumentar a variação do PIB este ano, porque aa economia vem crescendo mas, apesar do otimismo, disse ter pedido parcimônia à equipe.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou que, até o início de maio, havia uma realidade cambial no Brasil semelhante a outros países. A partir de estão, houve um descolamento das economias, devido a uma série de fatores, como o aumento das incertezas em torno da política monetária, as discussões sobre a sucessão no Banco Central e a sustentabilidade do arcabouço fiscal.
— Esse processo de aumento das incertezas, de alguma forma, foi sendo debelado nas últimas semanas. Não quer dizer que não tenhamos momentos de estresse, mas o cenário-base melhorou tanto do ponto de vista externo como doméstico — disse.
Mello enfatizou que o governo vem tomando medidas que melhoram a credibilidade do país. O compromisso com a meta de inflação de 3% foi reforçado, medidas fiscais foram adotadas e o governo vem trabalhando para aumentar as receitas, incluindo para compensar a reoneração da folha de pagamento.
Ele afirmou que o governo acompanha as oscilações do mercado de câmbio e ressaltou que a moeda brasileira é uma das mais voláteis do mundo, historicamente. Observou que o real não tem grande importância do ponto de vista global, mas o Brasil é o segundo ou terceiro maior mercado de derivativos do mundo.
— Vamos reduzir as incertezas e trazer preços de câmbio e juros para um patamar mais próximo do que acreditamos que possa vir a ser algo mais estrutural da economia brasileira.
Impacto de cheias no RS será de 0,25 pp do PIB este ano
Conforme o documento, as enchentes no RS devem ter impacto negativo de cerca de 0,25 ponto percentual no PIB brasileiro em 2024. No entanto, esses efeitos tendem a ser compensados, ao menos este ano, pelas medidas de suporte às empresas e pelas transferências diretas às famílias e aos governos estadual e municipais (impacto de 0,20pp a 0,30pp, respectivamente).
— Do ponto de vista do PIB, os eventos no Rio Grande do Sul devem ter um impacto neutro no crescimento deste ano — afirmou Guilherme Mello.
Ele disse que os resultados econômicos nos meses de maio e junho têm "surpreendido positivamente". Citou como exemplos comércio e serviços.
"Apesar do balanço de riscos mais equilibrado desde maio, incertezas de natureza econômica e geopolítica seguem como desafios no cenário macroeconômico. O ritmo de crescimento da atividade mundial vem se mostrando resiliente, em paralelo ao processo de desinflação nas principais economias avançadas. Esse cenário menos adverso para a economia real tem colaborado para tornar o balanço de riscos mais equilibrado, embora persistam incertezas relacionadas ao ciclo de flexibilização monetária, com destaque para o impacto inflacionário de conflitos geopolíticos, de mudanças climáticas e de polarizações políticas", diz um trecho do Boletim Macroeconômico.
Uma das preocupações do governo é com a economia americana. O PIB dos Estados Unidos desacelerou de 3,4% no quatro trimestre de 2023 para 1,4% no primeiro trimestre deste ano, como reflexo, principalmente, do menor crescimento do consumo das famílias. A taxa de desemprego subiu de 3,8% em março para 4,1% em junho e houve redução da razão de novas vagas por desempregados.
A inflação no país caiu de 2,8% no primeiro trimestre para 2,6% para 2,6% no segundo trimestre. "Com base nesse cenário, o mercado voltou a precificar com maior probabilidade dois cortes de 25 pontos-base nos juros pelo Fed (Banco Central dos EUA) até o fim de 2024, com início em setembro", avalia o documento.
— Os índices de inflação vêm diminuindo, o que aumenta as chances de cortes nos juros em setembro — disse o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, referindo-se ao FED.
Prisma Fiscal
Divulgado junto com o Boletim Macroeconômico, o Prisma Fiscal apresentou uma piora nas contas públicas, que também sofreram os efeitos da calamidade no Rio Grande do Sul. A projeção de déficit primário (receitas menos despesas, descontados os juros da dívida) de 2024 aumentou pelo segundo mês consecutivo, interrompendo a trajetória de queda dos meses anteriores.
De janeiro a julho de 2024, a mediana das projeções para o déficit primário para o ano caiu de R$ 118,6 bilhões em janeiro para R$ 81,4 bilhões em julho. No último boletim macrofiscal de maio, a estimativa era de R$ 76,8 bilhões.
Já a Dívida Bruta do Governo Geral em 2024 esperada aumentou de 77,3%do PIB em maio para 77,46% do PIB. Em janeiro de 2023 a estimativa era de 82,40% do PIB.
Números de maio
Em maio, o governo melhorou de 2,2% para 2,5% sua projeção para o crescimento econômico do Brasil em 2024. A alta se deveu ao desempenho das vendas no varejo e dos serviços, à expansão de postos de trabalho e à ampliação das concessões de crédito.