Em tempos de extremos climáticos, a inteligência artificial (IA) pode ajudar a reduzir os riscos no campo, por meio de sua aplicação no seguro rural paramétrico. Este oferece cobertura contra perdas na lavoura, com base em parâmetros que, quando alcançados, acionam o pagamento de indenização ao produtor.
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Até agora, o grande limitador para a expansão dessa modalidade de seguro era a construção desses parâmetros, gargalo que pode ter sido solucionado com a chegada da IA, que permite o cruzamento de diversos dados.
Na empresa de tecnologia Trag, fornecedora de soluções de seguro paramétrico, a IA é usada como base para a criação das apólices. São feitas análises de séries históricas da fazenda do segurado e cruzamento de dados em três dimensões: de solo, da planta e da atmosfera.
Análise de minerais
Segundo Luis Ricci Maia, cofundador da Trag, a avaliação de dados de solo considera fatores como teor de argila e os minerais disponíveis na terra. No caso das plantas, avaliam-se tipos de sementes, intervalos de plantio e características específicas de cada cultura.
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Nos dados atmosféricos, a análise por IA monitora a chuva e temperatura do local, com base em séries históricas. Há também uma equipe que faz ajustes levando em conta o cenário de mudanças climáticas.
— O uso de IA no cruzamento de dados permite que tenhamos uma análise mais precisa do risco. A principal vantagem do uso de inteligência artificial no seguro paramétrico é a capacidade de personalização em toda a jornada para o segurado — diz Maia.
Com essa base de dados, a IA da Trag consegue criar um “gêmeo digital” da lavoura em um ambiente computacional.
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— Esse modelo digital tem a estimativa de produtividade da lavoura e faz o monitoramento da área segurada diariamente. A safra vai acontecendo, e se o modelo apontar quebra para a produção, o agricultor recebe a indenização — explica ele.
O agricultor Lucival Portilho Arantes conheceu a Trag por meio de uma corretora de seguros e decidiu experimentar o paramétrico em uma área de 5.722 hectares cultivada com grãos, em Tocantins.
— Já fiz vários seguros rurais durante a vida inteira, mas chegou um momento em que a cobertura tradicional não me atendia e ficou inviável manter — conta.
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Ele pôde fazer um contrato para apenas um período da safra, de novembro a janeiro, quando a planta está mais exposta ao risco. Por causa da seca, houve uma perda de 20% da produção, e ele recebeu indenização de R$ 7,5 milhões.
O seguro cobriria uma perda de até 63% da lavoura, e a indenização poderia chegar a R$ 25 milhões. Maia, da Trag, ressalta que essa precificação também fica mais precisa quando tem a base de dados da IA.
— A nossa grande aposta é que essas inovações farão o seguro paramétrico crescer no Brasil. Temos exemplos em outros países latinos que mostram isso — estima.
Em janeiro, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, declarou, em entrevista, que tinha a intenção de apresentar uma nova modalidade de seguro rural que contasse com o cruzamento de dados via IA, dada a dificuldade de orçamento para o seguro convencional. Esses planos, porém, ainda não saíram do papel.