Economia
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Por Bloomberg — Berlim

RESUMO

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GERADO EM: 29/07/2024 - 12:18

Vila alemã ameaçada por mina de carvão: dilema entre energia e comunidade

Uma vila histórica na Alemanha, Mühlrose, será destruída para dar lugar a uma mina de carvão, afetando 200 habitantes. A mudança é impulsionada pela busca de novas fontes de energia após a interrupção do gás russo devido à guerra na Ucrânia. Questões ambientais e econômicas se entrelaçam enquanto a transição energética confronta a resistência da indústria do carvão e a luta dos moradores locais contra a perda de suas casas e terras.

A vila de Mühlrose, localizada no extremo leste da Alemanha, existe desde o século XIII, resistindo a guerras, incêndios, nobres inescrupulosos, a divisão do país e sua reunificação. Agora, seus 200 habitantes estão fazendo as malas e partindo do local por causa de uma indústria que pensavam estar sendo relegada à história. Mühlrose será apagada do mapa para dar lugar a uma mina de carvão.

Apenas alguns sinais da resistência outrora feroz da vila permanecem. "Salvem nossa linda Mühlrose", diz um panfleto em uma casa de tijolos vermelhos, com janelas fechadas e portas trancadas.

Um dos últimos residentes da cidade, Detlef Hottas, vive em uma fazenda com sua esposa, além de algumas ovelhas e galinhas. Aos 64 anos, ele percorre as ruas desertas em uma cadeira de rodas elétrica antes de, ele também, ter que se mudar até o fim do ano.

— Eu não queria me mudar, porque nasci aqui. Esta é minha casa — lamenta.

Mühlrose está localizada na região onde a República Tcheca, a Polônia e a antiga Alemanha Oriental se encontram, o centro da mineração de carvão da Europa comunista. Em vez de um símbolo de uma era passada, é o exemplo mais recente de como o continente está lutando para se livrar do combustível sujo depois que a guerra entre Rússia e Ucrânia abalou o fornecimento de energia.

A Alemanha, cujo governo de coalizão inclui o Partido Verde ambientalista, quer acelerar os planos de abandonar o carvão completamente à medida que mais fontes de energia renovável são adicionadas à mistura. Mas a maior economia da Europa depende fortemente do combustível para a produção de eletricidade após o fornecimento de gás da Rússia ter sido interrompido e manteve o plano de desligar seus reatores nucleares.

O resultado é que uma enorme mina de carvão a céu aberto está se aproximando de Mühlrose enquanto a empresa de geração de energia Lausitz Energie Bergbau AG (LEAG), se expande. Ela irá escavar lignito, um carvão de baixa qualidade chamado de carvão marrom.

Localização da vila de Mühlrose, na Alemanha — Foto: Bloomberg
Localização da vila de Mühlrose, na Alemanha — Foto: Bloomberg

O trabalho de demolição estava a todo vapor no fim de junho. A escavação eliminou mais de dois terços dos edifícios. Apenas algumas casas permanecem em meio a placas de “proibido entrar”, enquanto o vapor das torres de resfriamento da usina que alimenta o carvão sobe no horizonte.

— Para mim, é simplesmente inacreditável — diz Jadwiga Mahling, pastora protestante que vive na paróquia local há cerca de uma década. — Todos falam sobre a transição energética, mas aqui estamos decidindo puramente no interesse dos negócios.

Martin Klausch, o responsável pelo reassentamento na LEAG, diz que a empresa fez tudo o que pôde para facilitar a transição para os moradores da cidade.

— Não queremos que ninguém fique financeiramente prejudicado como resultado da relocação — diz Klausch.

Avanço da extrema direita

Os países realmente querem se livrar do carvão, especialmente da variedade de lignito, que é mais poluente. Mesmo na Polônia, a economia mais dependente de carvão da União Europeia, o governo concordou com uma transição com os poderosos sindicatos de mineração, embora com um movimento lento para a eliminação total até 2049.

A questão é o tempo, especialmente quando partidos de extrema direita estão ganhando terreno ao amplificar o medo popular sobre o custo do pacote de iniciativas verdes da União Europeia.

O governo alemão chegou a um acordo com o gigante do carvão RWE AG para parar de usar o combustível até 2030, oito anos antes do previsto, o que salvará mais vilarejos da escavação.

Mas a LEAG, parte do império do bilionário tcheco Daniel Kretinsky, quer acesso ao carvão sob Mühlrose antes de sair da indústria. A empresa submeteu seu pedido de mineração em março, e a autoridade regional estadual diz que está avaliando.

O ministro da Economia e Ação Climática da Alemanha, Robert Habeck, do Partido Verde, disse em uma coletiva de imprensa em Berlim, no início de junho, que o lignito assegurou a riqueza do país no passado, mas seu tempo está chegando ao fim.

Contratos já assinados

No entanto, há pouco que ele possa fazer devido a contratos assinados pelo governo anterior com empresas de mineração que agora dificultam os esforços políticos para se livrar do carvão.

Em vez disso, Habeck anunciou um pacote de ajuda para a LEAG em linha com um acordo anterior: pelo menos €1,2 bilhão (US$ 1,3 bilhão) para cobrir o custo das perdas de empregos e a restauração da terra após o término da mineração, mas até o ano alvo original de 2038.

Habeck espera que as forças do mercado estimulem uma saída antecipada, à medida que a queda dos preços da energia e o aumento dos custos para poluir o meio ambiente tornam cada vez mais inviável a queima de combustíveis fósseis na Alemanha.

Josephine Semb, pesquisadora da Universidade Europeia de Flensburg, que coescreveu um estudo sobre mineração de lignito publicado no fim de junho, diz que a mineração sob Mühlrose seria antieconômica.

A LEAG diz o contrário. A empresa está calculando com diferentes cenários para seu negócio de lignito, de acordo com o CEO Thorsten Kramer:

— Assumimos que continuaremos a gerar receita até 2038 — diz.

Houve poucos protestos como os que eclodiram no ano passado em outras partes da Alemanha. A gigante RWE atraiu a ira dos ativistas quando decidiu demolir uma última vila na Renânia, área localizada nas duas margens do médio e baixo Reno. Um confronto de alto perfil se seguiu envolvendo a ativista ambiental sueca Greta Thunberg.

Carvão foi aposta da Alemanha Oriental

Mühlrose, que já abrigou 600 pessoas, será a última vila a ser varrida do mapa por causa do carvão. Foi uma longa espera. Após a Segunda Guerra Mundial, o governo comunista na antiga Alemanha Oriental decidiu construir quase todo o seu programa de energia com base no lignito. Primeiro, o cemitério de Mühlrose teve que dar lugar à mineração na década de 1960, depois mais pontos da vila sucumbiu a ela.

A última extração de carvão marrom ocorreu naquela mina em 1997. Os residentes pensaram que os dias de mineração haviam terminado. Mas uma década depois, a empresa sueca Vattenfall – proprietária das operações de mineração na época – decidiu o contrário e anunciou planos de expansão.

Cinco anos atrás, a maioria dos moradores de Mühlrose votou para se mudar, após quase três décadas de luta contra a expansão do lignito, de acordo com o prefeito Robert Sprejz:

— Era o desejo deles se realocar. Eles simplesmente tinham o suficiente do barulho e da poeira. No auge das operações, nossas janelas tinham que ser limpas quase diariamente.

Cerca de metade dos habitantes se mudou para um local de reassentamento, chamado Mühlrose-neu, a uma curta distância de carro.

A LEAG espera tomar posse de todas as terras até o fim deste ano e começar a escavar em 2029. Se a autoridade de mineração aprovar os planos de destruição, os proprietários das florestas apresentarão uma reclamação legal, diz René Schuster, ativista do grupo ambiental Green League (Liga Verde, em português).

Brigas com mineradoras

Embora tenha havido vitórias judiciais contra os planos de lignito no passado, “as decisões geralmente chegavam tarde demais”, diz a pastora protestante Jadwiga Mahling:

— Então, saberíamos que o que foi feito era ilegal. Mas a vila e a floresta já estariam perdidas.

No fim de junho, Mahling, em sua longa túnica clerical preta, realizou um serviço religioso improvisado ao ar livre na última faixa de árvores perto da mina de lignito, ao lado da estrada que receberá caminhões de mineração até o fim do ano.

Ambientalistas se juntaram para homenagear alguns proprietários de florestas que ainda resistem e buscam desafiar a LEAG. Uma pequena mesa coberta com um pano branco serviu como altar na grama. Os fiéis, alguns de shorts e camisetas, sentaram-se em bancos antes usados em um salão de cerveja. As árvores ao redor deles já haviam desaparecido, com máquinas cortando os troncos e raízes.

Os moradores agora estão resignados à perda de Mühlrose, um reduto da minoria étnica sorábia na Alemanha. Com apenas 60.000 pessoas, os sorábios são descendentes de tribos eslavas que viveram nesta região da Lusácia, às vezes chamada de Sorábia.

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