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Economia

Obra da usina nuclear Angra 3 é adiada por alta nos custos de insumos para construção

Projeto deve ser retomado apenas no fim deste mês. Serão necessários mais R$ 15 bilhões para finalizar o empreendimento
Usina de Angra 3: há peças paradas no galpão da empresa desde 1984 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Usina de Angra 3: há peças paradas no galpão da empresa desde 1984 Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — A Eletronuclear vai retomar no fim de junho o processo para concluir as obras da polêmica usina nuclear de Angra 3, localizada em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e alvo de um esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato.

A retomada da construção, que estava marcada para o dia 20 de maio, precisou ser adiada por conta de um novo aumento de custos, desta vez a alta nos preços de matérias-primas essenciais para a construção civil.

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A usina de Angra 3 já consumiu investimentos de R$ 8 bilhões e tem apenas 65% das obras físicas concluídas. Mais R$ 15 bilhões estão previstos para finalizar o empreendimento.

Em entrevista ao GLOBO, Leonam Guimarães, presidente da Eletronuclear, explicou que o novo edital tem objetivo de construir os chamados prédios nucleares, como os que vão abrigar o reator nuclear.

22 empresas interessadas

A construção dos prédios era estimada em R$ 305 milhões, mas uma nova previsão elevou o montante a R$ 340 milhões. Guimarães destacou que, além da revisão no orçamento, as 22 empresas que mostraram interesse em participar do processo de construção dos prédios pediram mais prazo.

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— O edital teve grande procura de empresas, como era de se esperar nesse momento de necessidade de retomada econômica em plena pandemia. Elas pediram mais prazo. Além disso, sentimos necessidade de revisar o orçamento da obra porque houve variação de preços da construção civil, como o do aço — afirmou Guimarães.

Segundo ele, a ideia é fazer um “orçamento fundamentado em dados mais recentes”, que mostram alta nos preços, devido à pandemia. O presidente da Eletronuclear, tido como um dos maiores especialistas do setor no Brasil, lembra que o edital será o primeiro de uma série de licitações que ocorrerão neste ano.

Ele citou ainda projetos relativos à montagem da parte eletromecânica e pacotes para a conclusão do projeto de engenharia. Eles fazem parte do chamado Plano de Aceleração do Caminho Crítico do Empreendimento.

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Guimarães lembrou que a Eletronuclear tem um orçamento de R$ 2,4 bilhões neste ano, valor aprovado pelo Conselho de Administração da sua controladora Eletrobras, cuja privatização está em discussão no Congresso. Ele explicou que a Eletrobras pode continuar como “sócia importante” da companhia:

— Para garantir a Constituição, o controle da empresa deve ser da União, através de uma entidade que tenha a maior parte das ações ordinárias (ON, com direito a voto). Por meio de estruturação de capital é possível colocar a União com a maior parte das ações, de forma direta. Não necessariamente haveria criação de uma nova estatal, mas pode ser por meio de um aporte com diluição de capital.

Mais de mil empregos diretos

Segundo ele, o entendimento do governo é que a energia de Angra 3 é “muito necessária” ao país. O Brasil enfrenta uma forte crise hídrica, que tem obrigado o governo a acionar termelétricas , mais caras e poluentes que as hidrelétricas, para assegurar o abastecimento energético.

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Nesta semana, houve recorde de geração de energia por usinas a gás natural, óleo diesel, biomassa e até carvão. O objetivo é guardar água nos reservatórios, para não faltar o recurso nos momentos de pico de demanda e no auge da seca, entre setembro e novembro.

A energia nuclear é considerada limpa, pois não há emissão de gases de efeito estufa durante a produção de energia. Daí sua importância em um momento como esse, na avaliação de Guimarães:

— Se Angra 3 estivesse operando hoje, iria reduzir o custo da energia e evitaria o despacho de várias térmicas mais caras. É uma obra grande e que traz impacto socioeconômico para a região, com a geração de mais de mil empregos diretos, no pico das obras.

Captação de recursos

Angra 3 começou a ser planejada ainda nos anos 1980. Assim que o projeto foi retomado, em 2008, a ideia do governo era que Angra 3 consumisse cerca de R$ 7,3 bilhões em investimentos. Mas, com as denúncias de corrupção e aumento de custos na última década, a expectativa é que a usina entre em operação comercial em novembro de 2026.

O presidente da Eletronuclear lembra que os editais que serão feitos neste ano funcionam como uma espécie de preparação para a construção final do projeto. É quando o BNDES vai lançar um edital para contratar uma empresa para acabar de construir a usina.

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Além disso, o BNDES terá uma uma captação de recursos financeiros no mercado estimada em R$ 15 bilhões para permitir a contratação da empresa que vai finalizar Angra 3, o chamado epecista.

— Essa contratação só vai ocorrer no fim de 2022. É quando será feito tudo o que não foi feito. O BNDES começou agora a fazer o trabalho de due diligence (análise para avaliar os dados e riscos de um negócio) nas áreas técnica, financeira e jurídica. Isso é importante para estruturar a contratação do epecista com uma visão independente de como está a obra — diz Guimarães.