Economia

Pandemia deixa 7,1 milhões de brasileiros sem remuneração em junho

Número corresponde a 50% dos que estão afastados do trabalho, diz IBGE. Metade da população vive em lares que receberam auxílio do governo
A queda do PIB brasileiro irá agravar ainda mais as desigualdades sociais no Brasil, segundo a Cepal Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
A queda do PIB brasileiro irá agravar ainda mais as desigualdades sociais no Brasil, segundo a Cepal Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

RIO — O distanciamento social provocado pela pandemia deixou 7,1 milhões de trabalhadores sem remuneração em junho. O número é menor que o registrado em maio, quando 9,7 milhões estavam sem renda , mas ainda corresponde a quase metade do total de pessoas que estão afastadas do trabalho.

Os dados são da Pnad Covid Mensal, divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE, com os dados consolidados do mês.

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O instituto divulgou ainda que 29,4 milhões dos lares do país (43% do total) tinham algum membro familiar beneficiário de programas de ajuda do governo federal, incluindo auxílio emergencial e benefício emergencial (BEm). Metade da população (49,5%) vive nesses domicílios.

O auxílio é destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, com renda domiciliar per capita que não deve ultrapassar R$ 522,50 ou a renda total do domicílio que não ultrapasse três salários mínimos (R$ 3.135). Já o BEm é pago a quem teve suspensão de contrato ou redução de jornada e salário.

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Com relação ao mercado de trabalho, a maior flexibilização das medidas de distanciamento social e o aumento das demissões fizeram com que a taxa de desocupação subisse em um mês, passando de 10,7% para 12,4%. São 11,8 milhões de pessoas desempregadas — mais de 1,7 milhão do que o registrado em maio.

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Segundo Cimar Azeredo, diretor do IBGE,  esse aumento na desocupação tem relação direta com a flexibilização do distanciamento social. Com o aumento das demissões, a população ocupada reduziu para 83,4 milhões de trabalhadores.

— Isso implicou aumento da população na força trabalho, já que o número de pessoas que não buscavam trabalho por causa da pandemia reduziu frente a maio. Elas voltaram a pressionar o mercado — afirmou.

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Economistas afirmam que a alta do desemprego deve ser uma tendência nas próximas semanas. Indicadores como a taxa de isolamento estão caindo a cada dia, enquanto dados de mobilidade urbana apresentam elevação.

À medida que o distanciamento social é flexibilizado, mais pessoas tendem a procurar emprego, mas não encontrarão pelo baixo dinamismo da economia. Com isso, o mercado de trabalho fica mais pressionado.

Apesar da queda na população ocupada em junho, houve um aumento da massa de rendimento efetiva, correspondida pela soma do que todos os trabalhadores recebem, de R$ 157 bilhões para R$ 159 bilhões.

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Quanto ao auxílio emergencial, os números da Pnad Covid indicam uma forte focalização do programa, ou seja, está sendo destinado majoritariamente aos mais pobres. Entre os 10% mais pobres do país, 83,5% moram nos lares que receberam o benefício.

Para esse contingente, a renda domiciliar per capita passou de R$ 7,15 para R$ 271,92, uma diferença de 3.705%.

— O auxílio emergencial atingiu cerca de 80% dos domicílios duas primeiras faixas de renda e cerca de três quartos dos domicílios da terceira faixa. Isso demonstra a importância do programa na renda domiciliar per capita dos domicílios dos estratos de renda mais baixos — ressaltou Azeredo.

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Apesar de indicar focalização entre os mais pobres, ainda existe uma parcela descoberta, principalmente entre os miseráveis que estão na extrema pobreza.

Dados do IBGE indicam que 3,4 milhões brasileiros com renda domiciliar per capita abaixo de R$ 50 não estão sendo beneficiados diretamente ou indiretamente pelo programa do governo.