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Economia

Pandemia do coronavírus deixa 80% dos fundos do tipo multimercado no vermelho

Apenas 17% dos fundos da categoria batem o CDI em março, mostra levantamento da plataforma SmartBrain
Investimentos Foto: Pixabay
Investimentos Foto: Pixabay

RIO - A crise do coronavírus pegou de surpresa os gestores de fundos, e raros são aqueles que têm conseguido bater suas metas dvincie rentabilidade. Em um grupo de 506 fundos do tipo multimercado, apenas 86, ou 17%, renderam mais que o CDI este mês, segundo estudo da plataforma de controle de investimentos SmartBrain feito a pedido do GLOBO. Mais de 80% estão no vermelho em março, com rentabilidade negativa.

Os multimercados são a categoria de fundos de investimento com maior liberdade para alocar seus recursos e têm, em tese, capacidade de ganhar mesmo sob condições adversas de mercado. Como isso implica nível mais elevado de risco, eles buscam, no mínimo, bater o CDI, taxa de referência que segue de perto os juros básicos da economia e representam a rentabilidade oferecida pelas aplicações de risco praticamente zero, como títulos do Tesouro atrelados à Selic.

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- A crise do coronavírus foi o que o mercado chama de Cisne Negro, um evento que acontece raramente, mas acontece e tem efeitos intensos. Praticamente todo o mercado estava otimista quando a pandemia chegou, apostando no chamado Kit Brasil, como a valorização da Bolsa e a queda dos juros, apesar de ter em mente os riscos de desaceleração global - explicou Cassio Bariani, sócio-fundador da SmartBrain.

O levantamento da SmartBrain analisou o desempenho de fundos multimercado com patrimônio acima de R$ 50 milhões e com pelo menos 250 cotistas entre 28 de fevereiro e 23 de março. Nesse período, o CDI rendeu cerca de 0,25%. Já entre os multimercado, 414 tiveram rentabilidade negativa de até 52,5%. Na outra ponta, o fundo com melhor desempenho registrou retorno de 13,8%.

Diferença entre os perfis

Segundo Bariani, parte dessa disparidade no desempenho se deve ao perfil dos próprios fundos. Dada a liberdade nos mandatos dos multimercado, eles são divididos em várias subcategorias, cada uma com predileção especial por determinados tipos de ativos.

O  fundo com o melhor desempenho, por exemplo, é o Dolar Global Macro Opportunities FIM – IE, gerido JP Morgan e com aplicação mínima de R$ 10 mil. Esse fundo investe sobretudo em moedas estrangeiras e ativos no exterior, sendo favorecido provavelmente pela disparada do dólar este mês.

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Na outra ponta, o fundo com pior resultado foi o XP Long Biased 30 FIC FIM, que faz apostas principalmente em renda variável. Mas como menos de 65% do seu patrimônio estão aplicados na Bolsa, ele não é categorizado como fundo de ações. Com o tombo de 54% do índice Ibovespa no período, o fundo da XP foi prejudicado.

- Além dos fundos que investem em moedas estrangeiras, entre os melhores resultados vemos os chamados multimercados puros, normalmente classificados de Multimercados Livres, que costumam estar mais alocados em estratégias de juros e câmbio e posição pequena ou nenhuma em Bolsa - acrescentou Bariani.

Saques de R$ 3,6 bilhões no mês

O levantamento da SmartBrain feito a pedido do GLOBO considerou um período de poucas semanas para capturar os efeitos do coronavírus sobre os fundos. Mas especialistas observam que fundos multimercados, assim como a Bolsa, são investimentos de longo prazo. Logo, análises sobre períodos curtos não devem orientar decisões de investimento.

Assim como os fundos de ações, os multimercados foram beneficiados nos últimos anos pela redução dos juros. Enquanto os investidores sacaram R$ 91,2 bilhões dos fundos de renda fixa nos últimos 12 meses, porque passaram a render menos com a Selic na mínima histórica, eles aportaram R$ 69,7 bilhões nos multimercados.

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Com as rentabilidades negativas das últimas semanas, porém, os investidores passaram a sacar seus recursos. Segundo dados da Anbima, que reúne instituições financeiras, houve saques de R$ 3,6 bilhões dos fundos multimercados apenas este mês (até o dia 20).

Já os fundos de ações, apesar das quedas intensas, receberam aportes de R$ 5,8 bilhões em março. De acordo com gestores, os investidores estão apostando nos ganhos que a categoria deve registrar com a possível retomada da Bolsa após a crise.

Veja a rentabilidade de alguns fundos

Os que mais renderam no mês:

DOLAR GLOBAL MACRO OPPORT FI MULT IE (JP MORGAN): +13,8%

ITAU PERSONNALITE HEDGE PLUS MULT FICFI (ITAU UNIBANCO): +9%

ITAU PRIVATE HEDGE PLUS MULTIMERC FICFI (ITAU UNIBANCO): +9%

SHARP LONG SHORT 2X FEEDER FC FI MULTI (SHARP CAPITAl): +7,8%

XPA TATICO FI MULT CRED PRIV (XP ASSET): +7,2%

ITAU HEDGE MULTIMERCADO FI (ITAU UNIBANCO): +4,6%

ITAU HEDGE 30 MULTI FICFI (ITAU UNIBANCO): +4,6%

GARIN SPECIAL FI MULT (GARIN INVESTIMENTOS): +4%

BNP PARIBAS CAPITAL PROTEG V FC FI MULT (BNP PARIBAS): +3,8%

GAVEA MACRO ADVISORY FC DE FI MULT (GAVEA INVESTIMENTOS): +3,2%

Os que menos renderam no mês:

PACIFICO LB FC FI MULTIMERCADO (PACIFICO GESTAO): -41,2%

TAVOLA ABSOLUTO FIC FI MULT II (FIDES ASSET): -41,4%

TAVOLA ABSOLUTO FI MULT (FIDES ASSET): -41,5%

SOLANA ABSOLUTTO FC FI MULT (SOLANA): -44,2%

ALPHA KEY LB II FC FI MULTI (ALPHA KEY CAPITAL): -46,2%

LOGOS TOTAL RETURN FIC FI MULT (LOGOS): -49,5%

XP LONG BIASED DOMINUS FC FI MULT (XP ASSET): -52,5%

XP LONG BIASED FC FI MULTIMERCADO (XP ASSET): -52,5%

XP LONG BIASED ADVISORY FC FI MULT (XP ASSET): -52,5%

XP LONG BIASED 30 FC FI MULTIMERCADO (XP ASSET): -52,5%