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Pandemia exige planejamento de gastos e negociação de descontos para evitar dívidas

Despesas altas que precisem de financiamento, como carro e imóveis, devem ser evitadas, dizem especialistas
A psicoterapeuta Livia Stabile perdeu 20% dos clientes, mas tinha conseguido fazer uma poupança antes Foto: Aryanne Audrey
A psicoterapeuta Livia Stabile perdeu 20% dos clientes, mas tinha conseguido fazer uma poupança antes Foto: Aryanne Audrey

SÃO PAULO - A psicoterapeuta Livia Stabile, de Brasília, é autônoma e perdeu 20% de seus clientes com quarentena. No ano passado, ela havia começado a montar uma reserva para momentos de crise.

Com planejamento financeiro, corte de gastos supérfluos, redução de compras por impulso, além de uma receita extra ministrando cursos, Livia conseguiu construir seu colchão financeiro.

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Mesmo se perdesse todos os clientes, o que não é o caso, ela teria recursos para manter seus gastos pelos próximos cinco meses:

— Isso me dá mais tranquilidade para enfrentar este momento difícil que vivemos. Agora consigo planejar minha vida financeira com prazo mais extenso.

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Especialistas em finanças pessoais afirmam que planejamento será a palavra de ordem no novo mundo financeiro imposto pela pandemia. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que, de cada dez brasileiros, quatro já tiveram perda de renda com a crise.

Neste momento, a recomendação é dar prioridade a gastos essenciais, como contas fixas (aluguel, água, luz, telefone) e alimentação. Novos financiamentos, seja de um novo carro ou de apartamento maior, devem ser revistos, já que não se sabe a duração da crise.

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— As pessoas precisam reinventar seu comportamento financeiro. Pedir descontos no aluguel (algo entre 10% e 20% é um bom patamar) e postergar pagamentos em dois ou três meses e acertar esse valor quando recuperar a renda, seja com o banco ou com o fornecedor. A crise é sistêmica, então esta é a melhor hora para perder a vergonha de renegociar — diz Luciana Pavan, economista comportamental da Olivia, aplicativo de finanças pessoais.

Previsibilidade de renda

O primeiro passo para quem perdeu renda é fazer uma espécie de raios X das finanças. Saber exatamente onde cada real está sendo gasto, quais são as despesas obrigatórias — como aluguel, luz, água e condomínio — e quais são os gastos facultativos, como refeições compradas pelo delivery. É nesta segunda categoria que deve ser feito o corte de gastos.

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— Quem nunca fez o levantamento de seus gastos precisa avaliar sua situação financeira agora para economizar nos próximos meses. Muita gente não tem noção de onde está gastando atualmente — afirma Lai Santiago, educadora financeira da Rebel, uma fintech de crédito.

Contas. Economista Luciana Pavan recomenda reduzir despesas fixas Foto: Divulgação
Contas. Economista Luciana Pavan recomenda reduzir despesas fixas Foto: Divulgação

Fazer dívidas neste momento pode comprometer demais o orçamento. Especialmente se a dívida se referir ao financiamento de um imóvel ou e um carro, bens mais caros. Para quem já tinha planos nesse sentido, mas perdeu renda, o recomendável é adiar a compra para quando houver mais previsibilidade em relação à renda e ao emprego.

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— O carro agora é essencial com a redução de mobilidade? O imóvel é para moradia própria ou investimento? Nesse caso também é preciso estabelecer o que é essencial. Se o imóvel for para investimento, é preciso avaliar se não há outra opção com custo menor ou onde o capital não fique imobilizado — aconselha Mariana Congo, educadora financeira da fintech de investimentos Magnetis.

Para Mariana, quem tem reserva financeira deve usá-la com cautela, considerando quanto pode ser comprometido para manter o padrão de gastos durante os próximos meses, especialmente nas famílias com crianças.

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Negociar antes de gastar

Luciana Pavan, da Olivia, recomenda que o colchão financeiro deve ser o último recurso a ser gasto:

— Acho que antes de recorrer à reserva, o melhor é esgotar as negociações de desconto ou postergação de pagamentos. Só quando a renda não for suficiente para cobrir os custos mínimos, a pessoa deve começar a sacá-la e, mesmo assim, um pouco por mês.

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Lai Santiago, da Rebel, recomenda para quem tem aplicação em fundo de renda fixa considerar sacar o dinheiro para quitar parcelas atrasadas do cartão de crédito. Ela lembra que nesses fundos, ou mesmo na caderneta de poupança, o retorno é muito baixo com os juros básicos de 3%, o menor da história, e caindo:

— Já os juros do rotativo do cartão de crédito ainda são elevados. É para isso que a reserva serve.

No rotativo do cartão de crédito, os juros chegam a mais de 300% ao ano, segundo o Banco Central. Já no parcelamento do cartão de crédito, a taxa cobrada é de 180% ao ano, também de acordo com dados do BC. A caderneta de poupança rende cerca de 4% ao ano, enquanto os fundos de renda fixa deram um retorno médio de 4,3% nos últimos 12 meses.