SÃO PAULO E RIO - As instabilidades institucionais que afetam o país e que ganharam nova proporção após os atos de Sete de Setembro deixam o setor produtivo mais longe da retomada.
Executivos e presidentes de associações afirmam que a tensão entre Poderes dificulta a atração de investimentos, mina os esforços para aprovação de reformas e piora o ambiente de negócios.
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A turbulência é mais um problema para atividades afetadas por escassez de matérias-primas, crise hídrica e os efeitos da pandemia, segundo representantes de setores que vão do varejo, ao setor automotivo, têxteis, plásticos, aéreo, turismo, telecomunicações e infraestrutura ouvidos pelo GLOBO.
A reação geral é de cansaço com as crises em série, e o recado é claro: o empresariado quer um ambiente de estabilidade que permita a retomada de atividades.
Veja a avaliação dos empresários:
'O ambiente que estamos passando não é o melhor para defender projetos junto às matrizes'
![Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea Foto: Silvia Costanti / Agência O Globo](https://ogimg.infoglobo.com.br/economia/25190088-381-0ef/FT1086A/91178744_Data-05-12-2019Local-Sao-paulo-SP-Editoria-Empresas-Reporter-Marli-Olmos-Salvador-Se.jpg)
O presidente da Anfavea, a associação das montadoras, Luiz Carlos Moraes, diz que está difícil defender investimentos em projetos junto às matrizes no momento, especialmente porque há ociosidade em diversas unidades e concorrência de países com custo de produção menor, logística mais eficiente e ambiente político mais tranquilo.
— O ambiente que estamos passando não é o melhor para defender projetos junto às matrizes — disse Moraes, citando que a instabilidade traz volatilidade ao câmbio e à Bolsa, o que pode adiar investimentos.
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Ele lembrou que o setor já está com dificuldades por causa dos problemas de fornecimento de peças. Moraes explica que a fuga de investimentos é um tema que sempre preocupa o setor.
— Esperamos que o Supremo, do ponto de vista jurídico, encontre uma solução e, do ponto de vista político, que o Congresso tenha a decisão mais sábia possível, ouvindo a sociedade. A imagem do país já não é boa, esses últimos eventos criam maiores preocupações em nossas matrizes.
'Precisamos focar em confiança, geração de emprego e retomada da economia, principalmente após a pandemia'
![Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil Foto: Silvia Costanti / Agência O Globo](https://ogimg.infoglobo.com.br/economia/25190052-ebd-cd4/FT1086A/86347021_Data-29-11-2018Local-Sao-Paulo-SP-Editoria-Consumo-Reporter-Cibelle-A-Soares-Boucas.jpg)
Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, frisa que é importante ter “equilíbrio e calma no ambiente institucional” no Brasil agora:
— Precisamos ter foco em confiança, geração de emprego e retomada da economia, principalmente depois da pandemia. A instabilidade institucional aumenta a insegurança jurídica, o risco-Brasil, traz danos à imagem, como agora, com muitas fronteiras fechadas para brasileiros em função da reputação do Brasil
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'Bolsonaro puxou demais a corda, a ponto de que pode não ter volta. Isso tira o foco da agenda de reformas'
![Presidente da Abiplast e vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho Foto: Agência O Globo](https://ogimg.infoglobo.com.br/economia/25190029-a9f-e94/FT1086A/95161923_Jose-Ricardo-Roriz-Coelho-presidente-da-Abiplast-queda-na-producao-entre-abril-e-maio-levou.jpg)
Para o presidente da Abiplast, do setor de plásticos, e vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, o presidente Jair Bolsonaro foi longe demais nos discursos do Sete de Setembro.
— Bolsonaro puxou demais a corda, a ponto de que isso pode não ter volta. É muito ruim porque tira o foco de uma agenda de reformas que o país precisa, de recuperação econômica — afirmou, destacando que é preciso esperar agora a “poeira baixar” para ver qual o melhor caminho a seguir do ponto de vista político.
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'O momento é de botar água na fervura porque quem perde é o país'
![Fernando Valente Pimentel, presidente da Abit Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo](https://ogimg.infoglobo.com.br/economia/25190033-413-a96/FT1086A/65723814_EC-Sao-PauloSP10-03-2017Pesquisa-com-GrafenoEspecialFernando-Valente-Pimentel.jpg)
A turbulência dos mercados financeiros vai contaminar os negócios, destaca o presidente da Abit, do setor têxtil, Fernando Pimentel. Ele cita o aumento da Taxa Selic e o impacto no mercado de juros futuros, que afeta o crédito.
— O custo do capital está mais alto, e isso prejudica todas as decisões de investimento. Toda essa polarização não é simples de resolver, mas deve ao menos ser atenuada. O momento é de botar água na fervura porque quem perde é o país e quem mais perde são os mais pobres.
'O nervosismo está à flor da pele. O setor produtivo precisa de tranquilidade para trabalhar'
![Nabil Sahyoun,presidente da Alshop Foto: Jorge William / Agência O Globo](https://ogimg.infoglobo.com.br/economia/25190045-2d6-ff3/FT1086A/13865789_BSBBrasilia29-01-2014PANabil-Sahyoun-e-presidente-da-AlshopAssociacao-de-Loj-1.jpg)
O presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), Nabil Sahyoun, afirmou que o clima de instabilidade política atrapalha o andamento das reformas.
Ele lembra que o Senado cancelou as sessões nesta semana em razão da turbulência e destaca que as reformas são cruciais para criar postos de trabalho. O país ainda tem taxa de desemprego de 14,1%.
— O nervosismo está à flor da pele com as consequências da pandemia na economia, crescimento da pobreza, desemprego. O setor produtivo precisa de tranquilidade para poder trabalhar — disse.
'Esperamos a reabertura para o mercado internacional, mas quem quer visitar um país em convulsão?'
![Alfredo Lopes, da Hotéis Rio Foto: Agência O Globo](https://ogimg.infoglobo.com.br/economia/25190056-a38-b96/FT1086A/19450312_BARio-de-JaneiroRJ30112011Rede-de-HoteisO-hotel-Windsor-na-Barra-da-Tijuca-Na.jpg)
Para o setor de turismo, o momento da turbulência não poderia ser pior. Ainda dando os primeiros passos em uma trajetória de retomada, teme que a tensão entre Poderes afugente visitantes.
—Temos eventos programados a partir de outubro e essa confusão gera instabilidade. O dólar sobe, o capital estrangeiro vai embora. Cada dia uma ameaça, nunca se viu nada igual. Esperamos a reabertura para o mercado internacional no fim do ano, mas quem quer visitar um país em convulsão? Isso é jogar a recuperação para cada vez mais longe — afirmou Alfredo Lopes, à frente da Hotéis Rio, que representa a hotelaria carioca.
Em setores de infraestrutura, a avaliação é que a crise afeta a percepção de risco acerca de investimentos bilionários que precisam ser feitos para que o Brasil avance em áreas como energia e telecomunicações.
Um executivo do setor de óleo e gás, que pediu para não ser identificado, se queixou da perda de tempo e de recursos e diz que já precisou relatar ao conselho internacional o que ocorreu no país durante o feriado.
O que está em jogo, diz, são leilões de petróleo previstos para o próximo ano. O componente político entra na formação do preço e quanto mais turbulência, menor o valor do ativo. No setor de telecomunicações, a incerteza é sobre o impacto da crise no leilão do 5G, previsto para este ano.
'Os efeitos da instabilidade política precisam ser enfrentados com uma agenda de conciliação'
![Paulo Pedrosa, presidente da Abrace Foto: Agência O Globo](https://ogimg.infoglobo.com.br/economia/25190067-1fc-e9e/FT1086A/95162023_O-ministro-de-Minas-e-Energia-Fernando-Coelho-Filho-escolheu-o-engenheiro-mecanico-Paulo-Pe.jpg)
Em nota, Paulo Pedrosa, presidente da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace), defendeu diálogo para o país sair da crise.
“Os feitos da instabilidade política precisam ser enfrentados com uma agenda de conciliação para não afetar a retomada do crescimento.”