Para evitar apagão, oferta de energia tem que crescer mais do que Itaipu gera hoje, diz ONS

Acréscimo apontado como necessário ao parque gerador tem de ser de 7%, aponta operador do sistema elétrico
Hidrelétrica de Itaipu, a maior do país, tem gerado o menor volume de energia em décadas. Foto: Divulgação

BRASÍLIA — Uma nova nota técnica do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) desenha um cenário de “degradação” no nível de armazenamento dos reservatórios e afirma que, sem a “incorporação de recursos adicionais”, haverá um déficit de energia elétrica em outubro e novembro deste ano.

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Isso significa que o consumo de energia tende a ser maior que a oferta se não houver novas unidades de geração de energia. Ou seja, se não houver uma forte economia ou fonte adicional de energia, há um grande risco de apagão.

O ONS afirma que é necessário aumentar a oferta de energia em 5,5 GWmed para garantir o suprimento de eletricidade a partir de setembro de 2021. Para se ter ideia do que isso significa, nesta terça-feira o país consumiu cerca de 73 GWmed de energia. Ou seja, será necessário tomar medidas para garantir um adicional de cerca de 7% de energia.

Seca no lago da hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais, expõe pequenas enseadas, ilhotas e até compromete a navegação Foto: Joel Silva / Agência O Globo
O nível dos reservatórios do centro-sul do país já estão em níveis mais baixos que os que levaram à crise que levou ao racionamento de energia em 2001 Foto: Agência O Globo
Hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais. Especialistas do setor dizem que se não houver redução do consumo a partir de outubro podem acontecer desligamentos pontuais Foto: Joel Silva / Agência O Globo
Barragem da hidreletrica de Furnas, MG, chegou a 18% de sua capacidade. Brasil vive sua pior crise hídrica em nove décadas Foto: Joel Silva / Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro editou um decreto que determina a redução do consumo de energia elétrica em todos os órgãos públicos federais entre 10% a 20% Foto: Joel Silva / Agência O Globo
Barragem está localizada no curso médio do rio Grande, no trecho denominado "Corredeiras das Furnas", entre os municípios de São José da Barra e São João Batista do Glória, em Minas Gerais Foto: Joel Silva / Agência O Globo
Seca no lago expõe pequenas enseadas e ilhotas Foto: Joel Silva / Agência O Globo
Baixo nível de represas preocupa especialistas Foto: Joel Silva / Agência O Globo
Com o baixo nível da represa pequenas ilhas de terra começaram a surgir no meio da represa Foto: Joel Silva / Agência O Globo
O Rio Grande faz parte do sistema de águas para gerar energia na Usina Hidrelétrica de Furnas Foto: Joel Silva / Agência O Globo
País terá de usar os estoques hídricos armazenados nas usinas para tentar evitar apagão e racionamento de energia neste ano Foto: Joel Silva / Agência O Globo
Governo estuda medidas para redução do consumo de energia elétrica para evitar um apagão. Foto: Joel Silva / Agência O Globo

 

Isso é mais do que a hidrelétrica de Itaipu, a maior do país, tem gerado todos os dias (pouco mais de 4 GW). A usina está com o nível baixo no seu reservatório e tem gerado o menor volume de energia em décadas.

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Esse adicional pode ser alcançado, inclusive, com redução de consumo. No futuro, será mais difícil atender essa carga porque o nível dos reservatórios vai ter baixado.

Julho e agosto, piores meses

A nota do ONS atualiza as condições de atendimento do Sistema Interligado Nacional (SIN) até novembro de 2021. O governo tem intensificado as medidas tomadas para conter a crise hídrica por conta da piora do cenário.

Os meses de julho e agosto foram os piores períodos para o setor elétrico na História, segundo os dados do ONS.

O governo tem buscado novas ofertas de geração de energia, como térmicas sem contrato e formas de levar mais combustível a essas usinas.

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O ONS traçou dois cenários. No primeiro, chamado de “Caso A", os principais reservatórios da bacia do rio Paraná chegam ao final do período seco, ou seja, o mês de outubro, com níveis baixos de armazenamento.

Para economizar, ligue o aparelho apenas quando for dormir e desligue logo ao acordar. Uma opção é usar a função sleep, disponível em alguns modelos. Outro cuidado é manter o ar-condicionado em temperatura adequada. Especialistas recomendam 23ºC. Não é preciso colocar temperatura muito baixa, para não gastar muita energia. Foto: Pixabay
Em uma família com quatro pessoas, o uso do chuveiro elétrico corresponde a cerca de 25% da conta de luz. Para economizar, evite banhos muito longos e dê preferência a usar o chuveiro no modo verão, que economiza até 30% de energia Foto: Pixabay
Quando a porta fica muito tempo aberta, o motor funcionará mais, gastando mais energia. É importante também manter a borracha de vedação da porta da geladeira em bom estado. Ao viajar, uma opção é esvaziar a geladeira e desligá-la da tomada. Foto: Pixabay
A substituição de lâmpadas incandescentes pelas de LED pode gerar uma redução de 75% a 85% no consumo de energia. Além disso, essas lâmpadas duram mais. Em relação às lâmpadas fluorescentes, a economia é de cerca de 40% Foto: Pixabay
Dê preferência a lavar uma grande quantidade de roupas, para economizar água e energia. Evite colocar muito sabão, para não ter de enxaguar duas vezes. Na hora de passar, a melhor opção é juntar roupas e passar uma grande quantidade de uma vez. Desligue o ferro quando for interromper o serviço. Use a temperatura indicada para cada tipo de tecido e comece pelas roupas mais leves. Foto: Pixabay
O uso do ventilador de teto durante 8 horas por dia gera um gasto de apenas R$ 18 por mês. Mesmo assim, é importante evitar deixar o aparelho ligado quando não houver ninguém no cômodo. Na hora de comprar, lembre-se que quanto maior o diâmetro das hélices, maior o consumo de energia. Foto: Pixabay
No caso dos eletrônicos, a recomendação é desligar o televisor e os videogames quando ninguém tiver usando. Retirar os aparelhos da tomada também ajuda a poupar energia. Foto: Arquivo

'Recursos insuficientes'

Nesse cenário, mesmo com a utilização completa dos recursos hidráulicos da região Sudeste/Centro-Oeste, usando recursos das usinas da bacia do São Francisco, com o uso pleno das usinas termelétricas e mais transmissão de energia entre regiões do país, o ONS afirma que “os recursos são insuficientes para atendimento ao mercado de energia”.

O ONS afirma que, nesse cenário, haverá déficits de 3.824 MWmed no mês de outubro e de 3.746 MWmed no mês de novembro.

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O segundo cenário do ONS, chamado de “Caso B”, é o que afirma a necessidade de 5,5 GWmed de energia a partir de setembro.

“A oferta adicional incorporada no Caso B além de resultar em ganhos de armazenamento, elimina os déficits de energia do Caso A. Desta forma, para assegurar o atendimento energético é imprescindível o aumento da oferta em cerca de 5,5 GWmed a partir de setembro/2021 até novembro/2021”, diz a nota. “Para o Caso B, o atendimento energético somente é viabilizado a partir da incorporação de recursos adicionais”, acrescenta

Adiar manutenções de usinas

Mesmo no cenário de garantia do suprimento, o ONS afirma que será necessário usar “praticamente toda reserva operativa” do sistema elétrico em novembro.

“É imprescindível para o atendimento energético assegurar o aumento da oferta em cerca de 5,5 GWmed a partir de setembro/2021”, diz o ONS, que faz uma série de sugestões.

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O ONS sugere postergar as manutenções programadas de usinas; viabilizar a importação de energia da Argentina e do Uruguai; garantir a disponibilidade de mais usinas termelétricas; equacionar as questões judiciais relacionadas às disponibilidades da oferta de combustível para as usinas que hoje têm pendências; e viabilizar o terceiro navio regaseificador em Pecém (Ceará).

O ONS também recomenda a adoção de “medidas que induzam à redução voluntária do consumo” de clientes residenciais e de pequenos comércios, que são atendidos pelas distribuidoras de energia elétrica. O programa não será obrigatório. Quem aderir, ganhará descontos nas contas de luz.